Cena Contemporânea abre nesta terça com o Grupo Galpão no Museu e entrada franca.

Odysseus Chaoticus de Dimitry Tulpanov.

O maior festival da região central do Brasil, um dos cinco maiores do Brasil, o CENA CONTEMPORÂNEA – Festival Internacional de Teatro de Brasília chega à edição de 2010 apostando na inventividade. Para isso, contará com dois espetáculos do grupo Kabia, do País Basco (este ano, a Espanha será o país homenageado, com quatro espetáculos), apontado como uma revelação pela imprensa internacional, com o talento do músico sérvio Goran Bregovic e com o trabalho do ISH Theater, um novo e intrigante grupo israelense que mistura teatro físico, clown e mímica em ritmo vertiginoso. O CENA CONTEMPORÂNEA acontece de 24 de agosto a 5 de setembro, ocupando todos os principais teatros de Brasília e a praça central do Museu Nacional da República, num grande encontro das artes cênicas com a música. A abertura será às 20h, do dia 24 de agosto, na Praça do Museu, com o espetáculo TILL – a saga de um herói torto, que marca o retorno do Grupo Galpão ao teatro de rua.

Em sua 11ª edição, o CENA vai oferecer uma programação composta de 29 espetáculos internacionais, nacionais e locais. A aposta é em jovens companhias que têm renovado a cena internacional. O Kabia foi criado como extensão da Gaitzerdi, a companhia estável de Bilbao. Tem como marca a linguagem experimental – o grupo é celebrado pela revista Artez, especializada em artes cênicas na Espanha, e seu diretor, Borja Ruiz, foi o primeiro vencedor do Prêmio Internacional Artez Blai de Investigação sobre as Artes Cênicas. Estão ainda programados trabalhos da Suíça, Chile, Cuba, Colômbia e Itália, espetáculos de várias cidades do Brasil e Brasília, num total aproximado de 25 atrações. Encerrando a festa, no dia 5 de setembro, show de Goran Bregovic e sua Orquestra para Casamentos e Funerais, ao ar livre, num grande palco montado na praça central do Museu Nacional da República.

Reflexões sobre o exílio, a tortura, a solidão, a violência, a guerra, produzidas em territórios que vivem cotidiano conflituoso – País Basco, Colômbia, Israel, Cuba –, revelam, sob a perspectiva teatral, o que pensam os criadores contemporâneos. O CENA tem curadoria e direção de Guilherme Reis e patrocínio da Petrobras, Ministério do Turismo, Banco do Brasil, Caixa, Funarte e GDF.

Veja a programação completa aqui.

Abaixo seguem as sinopses dos espetáculos:

ESPETÁCULOS INTERNACIONAIS

PAISAGEM COM ARGONAUTAS (Paisaje con Argonautas) Espanha

KABIA – Espacio de Investigación Dramática de Gaitzerdi Teatro

Inspirado em texto de Heiner Müller sobre os argonautas e em poema de Walter Benjamin sobre um anjo pego pelo vento, o espetáculo marca a estréia de KABIA – Espaço de Investigação, surgido em 2006 dentro de Gaitzerdi Teatro. KABIA é o braço experimental do Gaitzerdi, uma companhia teatral de Bilbao, criada em 1988 e que tem recebido excelentes críticas na imprensa espanhola.

Direção: Borja Ruiz

Intérprete: Juana Lor

NÃO VÁ CHORAR (No vayas a llorar) – Cuba

Teatro Viento de Agua

Cidadãos decididos a abandonar Cuba seqüestram várias embarcações. Quem se aproxima naqueles dias do litoral norte do país pode ver como se afastam da costa, uma após outra, as mais insólitas embarcações. Montagem do Teatro Viento de Agua, criado em 1998, como espaço-laboratório destinado a experimentar linguagens.

Direção: Boris Villar

Elenco: Maribel Barrios e Antoine Villar Barrios

DIZER CHUVA E QUE CHOVA (Decir lluvia y que llueva) – Espanha

KABIA – Espacio de Investigación Dramática de Gaitzerdi Teatro*

Espetáculo com dramaturgia de Borja Ruiz e livremente inspirado no imaginário poético de Joseba Sarrionaindia, conhecido como Sarri, poeta e filólogo basco, autor de vários livros de poesia, ensaios, contos e novelas. Está no palco um mundo profundamente Beckettiano e de grande teatralidade.

Direção: Borja Ruiz

Elenco: Juana Lor, Iosu Florentino, Ane Pikaza, Joseba Uribarri, Karol Benito, Yolanda Bustillo

Neva – Chile

Teatro en el Blanco

Espetáculo que coloca em cena os ensaios para uma encenação, NEVA é baseado em personagens reais. Escrita e dirigida por Guillermo Calderón, estabelece uma situação irônica e por vezes hilária, em discussões sobre técnica de atuação, teatro e contexto históricos. A companhia Teatro em El Blanco foi criada em 2004 e integra quatro atores com mais de dez anos de trajetória no Chile.

Elenco: Paula Zúñiga, Trinidad González, Jorge Eduardo Becker

O JARDIM DO MUNDO (El jardín del mundo) Espanha

Creaciones Artísticas Las Cuatro Esquinas

O espetáculo trata do tema da tortura, colocando em cena quatro personagens: a vítima, o verdugo, o indiferente e o Anjo. A obra é construída sobre a poesia de Walt Whitman e sobre testemunhos reais de vítimas, torturadores, médicos, psicólogos. Como inspiração, o livro A morte e a donzela, de Ariel Dorfman. Com o espetáculo, a Cia Las Cuatro Esquinas conquistou a crítica espanhola, inserindo-se como uma companhia de ponta do teatro na Espanha.

Direção e dramaturgia: Memé Tabares

Elenco: Esteban G. Ballesteros, Francisco Blanco e Maite Vallecillo

Odysseus Chaoticus Israel

ISH Theater

Criação original de três grandes clowns e criadores: Fyodor Makarov, mebro da mitológica trupe de Slava Polunin, Yolana Zimmerman (“Scandal Clowns”, “La Gazetta”) e Noam Rubinstein, criador, ator, músico, escritor, membro do grupo Clipa Theater. Trata-se de um fantástico show de cabaré, no qual partes da narrativa mitológica da Odisséia, de Homero, são costuradas com a história de uma excêntrica família italiana.

Direção: Masha Nemirovsky

Dramaturgia e interpretação: Fyodor Makarov, Yolana Zimmerman, Noam Rubinstein

AS TERRAS DE ALVARGONZÁLEZ (Las tierras de Alvargonzález) – Espanha

Centro Dramático Nacional e Geografías Teatro

Inspirado no conto publicado pelo poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) sobre a lenda de Alvargonzález, que fala de uma jovem violentada depois de morta, e o encontro que ele teve com um camponês que lhe contou a história da família de Alvargonzález, sobre um proprietário de terras que é morto por seus próprios filhos ambiciosos. Encenação circular, com projeção de imagens.

Direção: Jeannine Mestre

Elenco: Abel Vitón

A GALINHA CEGA (La gallina ciega) Colômbia

Corporación Gassho

A história de uma menina cheia de sonhos que descobre que a realidade é bem mais pesada do que sua vida imaginada em cor de rosa. Mas ela não quer desistir do sonho de ser feliz. Um espetáculo visualmente impactante (objetos com luz própria, vestuário que se transforma) e efeitos sonoros carregados de humor negro. Gallina Ciega é nome de uma brincadeira infantil, conhecida no Brasil como “cabra cega”. Em cena, Constanza Duque, atriz de destaque da televisão e do cinema colombianos.

Dramaturgia e direção: Ana Toro

Elenco: Constanza Duque

SOLITÁRIO COWBOY (Lonesome Cowboy) – Suíça

Cie Philippe Saire

Com seus dançarinos, o coreógrafo suíço Philippe Saire questiona a identidade masculina, explorando de maneira lúdica o comportamento individual e grupal. Através de um jogo com códigos bem definidos, eles exploram os conceitos de trabalho em equipe, solidariedade, confronto, reconciliação, pertencimento a um grupo, aceitação de riscos, etc.

Coreografia: Philippe Saire (com a colaboração dos dançarinos)

Elenco: Philippe Chosson, Pablo Esbert Lilienfeld, Matthieu Guénégou, Michaël Henrotay Dalaunay, Richard Kaboré, Mike Winter

ESPETÁCULOS NACIONAIS

Till – a saga de um herói torto

GRUPO GALPÃO

Till é o típico anti-herói cheio de artimanhas e dotado de um irresistível charme. A montagem foi escolhida a partir de workshops realizados pelo Galpão, com apresentações abertas ao público. Num mundo em que é cada vez mais marcante a presença dos excluídos e dos desprovidos de qualquer suporte material, a parábola das aventuras do anti-herói Till Eulenspiegel torna-se de uma atualidade inquietante. O espetáculo representa a volta do Grupo Galpão ao teatro de rua e suas formas de representação popular.

Texto: Luis Alberto Abreu

Direção: Júlio Maciel

Elenco: Antonio Edson, Arildo de Barros, Beto Franco, Chico Pelúcio, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Lydia Del Picchia, Simone Ordones e Teuda Bara

Kabul

Cia Amok Teatro

Kabul é um espetáculo sobre a guerra, vista através da intimidade de dois casais afegãos que refletem o martírio de uma nação traumatizada por vinte anos de violência e entregue à tirania dos fundamentalistas. Criação livremente inspirada no livro As Andorinhas de Cabul, do escritor argelino Yasmina Kadra, e na imagem real de uma mulher coberta com uma burca azul, sendo executada publicamente no estádio de Cabul, em novembro de 1999.

Texto: Ana Teixeira e Stephane Brodt

Direção: Ana Teixeira

Elenco: Fabiana de Mello Souza, Stephane Brodt, Kely Brito e Marcus Pina

A BALADA DO PALHAÇO

Grupo de Teatro Artes & Fatos (GO)

Escrita por Plínio Marcos no leito de um hospital, depois de o autor ter sofrido um ataque cardíaco, A BALADA DO PALHAÇO coloca em cena um universo abrangente de personagens, tendo como porta-voz dois palhaços, Bobo Plin e Menelão, este último dono de um circo decadente, mas única fonte de sobrevivência para os dois. O texto traz à tona os conflitos que impulsionam as relações humanas.

Direção: Danilo Alencar

Atores: Edson de Oliveira e Bruno Peixoto

Produção: Grupo Arte & Fatos

ABRACADABRA

Luiz Päetow

Com direção artística de Dan Stulbach, o espetáculo-solo ABRACADABRA foi escrito, dirigido e é interpretado por Luiz Päetow (vencedor do Prêmio Shell 2009 de iluminação por Music-Hall). Trata-se de um monólogo sem uma história ou um personagem fixo, que se altera na medida da interação com a platéia e dos questionamentos levantados durante a encenação. Um número restrito de espectadores recebe lanternas e se torna responsável por aquilo que todos irão enxergar.

Texto, direção e interpretação: Luiz Päetow

in on it

ENRIQUE DIAZ

Dois atores interpretam dez personagens, em três planos. No primeiro, dois homens discutem sobre um texto teatral escrito por um deles – e que evidencia uma relação afetiva entre eles, no passado. No segundo, a representação da peça propriamente dita. E o terceiro com vários momentos da relação dos dois que são revividos e analisados. O espetáculo foi vencedor dos Prêmios Shell em São Paulo e no Rio de Janeiro, para melhor ator (Fernando Eiras) e melhor direção (Enrique Diaz). Também foi premiado pela APTR, por melhor espetáculo, melhor direção e melhor ator (dividido entre Fernando Eiras e Emílio de Mello).

De: Daniel MacIvor

Direção: Enrique Diaz

Elenco: Emílio de Mello e Fernando Eiras

A Dona da História

TRUPE ERRANTE & PÉ NU PALCO GRUPO DE TEATRO (Petrolina)

Uma história, duas atrizes, a mesma mulher. Uma no passado e a outra no futuro. E o mais engraçado é que elas conversam, trocam conselhos, discutem escolhas, traçam possibilidades novas para as “suas histórias”. Esse encontro inusitado entre os sonhos da juventude e a nostalgia na maturidade é o mote do texto de João Falcão – uma deliciosa reflexão sobre as realizações, os sonhos, o amor e a felicidade. Espetáculo premiado pela associação de críticos de Pernambuco, como melhor espetáculo e atriz revelação (para Raphaela de Paula).

Texto: João Falcão

Direção, Arte Gráfica, Cenário, Figurino e Desenho: Thom Galiano

Atuação: Cátia Cardoso e Raphaela de Paula

Memória da Cana

Os Fofos Encenam

Adaptação de Álbum de Família, do pernambucano Nelson Rodrigues, o espetáculo fala sobre uma tragédia incestuosa numa família nordestina. A montagem foi consagrada pelo mais recente Prêmio Shell de Teatro, em São Paulo. MEMÓRIA DA CANA tinha o maior número de indicações, concorrendo por direção, cenário, figurino e iluminação. Levou as duas primeiras.

Texto: Nelson Rodrigues

Direção e Adaptação: Newton Moreno

Elenco de atores-criadores: Carlos Ataíde, Kátia Daher, Luciana Lyra, Paulo de Pontes, Marcelo Andrade e Viviane Madureira

DULCE

Espetáculo resultado de um período de residência de artistas do Brasil (Michel Blois e Thiare Maia) e de Portugal (Flávia Gusmão e Nuno Gil), trabalhando uma dramaturgia comum, inspirada no universo literário de Ingmar Bergman, Sarah Kane e Antonio Lobo Antunes. A peça se passa durante um jantar para dois casais.

Elenco: Michel Blois, Thiare Maia, Nuno Gil e Flávia Gusmão

Supervisão: Fernanda Félix

O beijo

Cia. Nova Dança 4 (SP)

Segundo movimento da trilogia “Influência”, que já produziu Primeiros Estudos sobre os movimentos de Steve Paxton. Para montar “O Beijo”, a companhia estudou trabalhos do cineasta e crítico francês François Truffaut (De Repente Num Domingo), do escritor Edgar Allan Poe (Os Crimes da Rua Morgue), do dramaturgo e escritor irlandês Samuel Beckett (Todos os Que Caem) e do dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues (Vestido de NoivaO Beijo no Asfalto).

Concepção e direção geral: Cristiane Paoli Quito

Elenco: Alex Ratton Sanchez, Cristiano Karnas, Diogo Granato, Érika Moura, Gisele Calazans, Lívia Seixas, Tica Lemos.

FEDEGUNDA

DE KAREN ACIOLY – INFANTIL (RJ)

Era uma vez uma jovem que descobre ter perdido o coração. Em sua busca por resgatá-lo, inicia uma peregrinação através do Mar, do Tempo, do Vento e do Desejo. Esse é o enredo da ópera franco-brasileira Fedegunda. Esta 29ª peça de Karen Acioly é resultado de um work in progress realizado em 2008 no 6º Festival Intercâmbio de Linguagens (FIL). Para este espetáculo, ela reuniu um elenco formado por atores-cantores com larga experiência na interpretação de musicais.

Texto e direção: Karen Acioly

Elenco: Camilla Caputti, Jules Vandystadt, Jonas Hammar, Cristiano Penna e Wladimir Pinheiro e Beto Serrador.

Goran Bregovic. Foto de Mikail Ognev.

SHOW DE ENCERRAMENTO – Goran Bregovic & The Wedding and Funeral Orchestra

Dia 5 de setembro – 17h – Praça do Museu Nacional da República

Um dos maiores nomes da música dos Bálcãs, Goran Bregović é um músico e compositor sérvio-bósnio que toca uma mistura entre ritmos tradicionais da música da Sérvia e arranjos modernos e pop. Ele nasceu no dia 22 de março de 1950 em Sarajevo, na República da Bósnia e Herzegovina, então parte da Iugoslávia. Tornou-se famoso como líder da banda Bijelo Dugme e como compositor de trilhas sonoras para cinema (destacando-se os trabalhos para Emir Kusturica). As músicas que compôs para Kusturica funcionaram como rampa de lançamento para a carreira do cantor e compositor.

Filho de um pai croata e uma mãe sérvia, Goran Bregovic nasceu em Sarajevo, é casado com uma bósnia mulçumana. Sua música tem enorme influência cigana: “uma música moderna que reúne fusões diversas e que espelha o ecletismo natural da sua cultura”. Entre versões de temas tradicionais e composições originais, Bregovic funde as fanfarras ciganas dos Bálcãs com o rock, os maravilhosos coros femininos da Bulgária à música ligeira italiana. Bregovic alterna loucura cigana com momentos quase eruditos e umas pitadas de rock. É popularíssimo em toda a Europa, destacando-se como um dos mais marcantes músicos europeus da atualidade.