A Biblioteca do Resa.

Divulgação.
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O catálogo “Bibliotecoscopia” apresenta a última série produzida pelo artista Resa (1955-2012). A obra tem lançamento na Alfinete Galeria de Arte (116 norte), no dia 22 de fevereiro (sábado), a partir das 17 horas. Resa gostava de pequenas coisas, gostava de coleções. Com um enorme trabalho em artes gráficas, nos anos 2000, começou a produzir objetos que se transformaram em séries, que tiveram belas exposições e que têm, como documento, belos catálogos concebidos pelo artista.

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Foi assim com Cartas Marcadas (de 2005-06) e Miserere Nobis (de 2007-08). Os livros-objetos da série Bibliotecoscopia (2012-13) já estavam prontos, mas Resa morreu enquanto se desenhava a exposição, apresentada em outubro de 2013 no Museu Nacional. Na abertura, um grupo emocionado de amigos e admiradores de sua obra ouviu o recital feito para ele. O catálogo foi sendo construído ao longo do ano de 2013 e contém seus livros de ver e o CD com o recital em sua homenagem.

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A curadora Marília Panitz assina o texto de apresentação do catálogo:

“Livros… Nesses tempos de alta tecnologia e virtualidade, o que dizer desse objeto (tão) palpável? Objeto de desejo, fetiche, item de colecionador, imagem da obsolescência? E de uma biblioteca – paredes cobertas de estantes exibindo as lombadas coloridas? Manguel, amante dos livros, diz que em sua biblioteca, os livros se reproduzem, à noite.

A Biblioteca do Resa, essa que ele compôs nos últimos anos, parece, de certa forma, repetir a mesma operação (e continuará repetindo, mesmo sem a presença dele). A cada visita que fazia a meu querido amigo, lá estava um novo exemplar único – objeto/convite à manipulação, às vezes concreta, e em outras, imaginária:

Livros-objeto que citam outros livros (lançando mão dos vestígios de suas leituras).

Livros-objeto que contam o percurso do artista (na melhor tradição memorialista).

Livros-enigma, nos propondo sua charada como convite a um mergulho às cegas (para ler).

Livros-relicário que guardam pequenos tesouros recolhidos pelo artista dos descartes da nossa vida perdulária (pequenas homenagens aos fetiches).

Livros-siameses… ah, os inseparáveis Folie a deux…

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Nos últimos anos, Resa compôs três belíssimas séries: Cartas Marcadas, Miserere Nobis, e Bibliotecoscopia. Deixou uma inacabada: a das curiosas gaiolas. Nelas, trabalhou com a ideia da bricolagem criando jogos de sentido. Pura poesia. Em todas, há a tensão entre humor e violência, entre delicadeza e sarcasmo. Como na vida, são essas fronteiras que interessam, que desafiam o olhador a buscar sua própria versão.

Este conjunto não é, nem de longe, o início de seu percurso artístico, plural. Não se pode esquecer, antes de mais nada, de sua gravura, de seu desenho, de seu trabalho gráfico, de sua parceria em revistas de arte como o Almanaque Biotônico Vitalidade e, mais tarde, da Bric à Brac, revista de enorme importância, nos anos oitenta, e que se produziu aqui neste centro excêntrico que é Brasília, para todo o país, e da qual Resa era um dos editores. Mas as séries recentes, já dos anos dois mil, me parecem ser o resultado da sedimentação de muitas experiências, a colocação, em ato poético, de muitos arquivos (de ideias, de papéis, de itens colecionáveis e de, por que não, bugigangas variadas) organizados com precisão de um catalogador, que Resa era, com um rigor muitas vezes insuspeito. Nelas, estão presentes certos itens recorrentes que nos desvelam um universo muito pessoal do artista: um glossário que ele construiu desde muito cedo – dados, cartas, balas, penas de escrita, livros, facas, sangue.

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Expondo, muitas vezes, sua biografia como ficção e relato exemplar onde nos identificamos (esse não é, afinal, o estatuto de toda auto referência na produção contemporânea de arte?) Resa propõe jogos de sentido, seguindo a linha de pensamento de seu … mestre, pode-se dizer, Joan Brossa. Humor, auto ironia, esvaziamento das evocações que provoca. xadrez ou jogo de azar (acaso)?

Durante muito tempo, até a série dos oratórios de ateu (Miserere Nobis), o artista trabalha o branco. Há anteriormente, entre os anos oitenta e noventa, os recortes de branco sobre branco, por exemplo.
Uma limpeza, um vazio preenchido por toques de vermelho e de preto (como nas cartas de baralho ou nos dados). A nova série que agora se apresenta – seus livros/diagnósticos – é plena de cor: aparecem os tantos marrons de couro, os azuis da pelica, os bordôs, os metais, as transparências do vidro, os espelhos…
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Estão presentes quase todos os componentes do glossário. Estão presentes as tantas citações (como notas de rodapé para o mundo). Na biblioteca escópica de Resa, mergulhamos nas nossas próprias memórias – e não assim que ocorre em toda a boa biblioteca que visitamos?

Leio cada um dos livros que não me deixam ler. Mas, como uma Alice e seu livro depois do Espelho, não entendo as palavras, mas sei que alguém disse algo a alguém. É o Resa, falando comigo!
E para você, o que ele diz?”
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Serviço: Lançamento do catálogo Bibliotecoscopia, última série produzida pelo artista Resa (1955-2012)
Data: 22 de fevereiro de 2014 (sábado), às 17 horas
Local: Alfinete Galeria (CLN 116 bloco B loja 61)
Entrada franca
Classificação Indicativa: Livre
Valor do catálogo: R$ 25,00
53 páginas
Informações: 9981-2295