Esculturas de Antony Gormley invadem o CCBB e espaços públicos da capital.

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Renato Acha

Os brasilienses vão se deparar com esculturas humanas em tamanho natural expostas em diversos locais da cidade. São obras de autoria de Antony Gormley, artista visual londrino, considerados um dos maiores escultores da atualidade. Sua bem sucedida carreira de quase 40 anos ganha importante retrospectiva no CCBB e a céu aberto.

As esculturas da instalação “Quatro vezes” ocupam a Esplanada dos Ministérios (próximo ao semáforo da Rodoviária e em frente ao Palácio do Itamaraty), a Praça do Três Poderes (entre o Palácio da Justiça e o Palácio do Planalto) e o Setor de Clubes Sul (Trecho 02, na calçada da via de acesso ao CCBB).

Um dos pontos fortes do trabalho de Gormley é a relação do corpo humano com o espaço. Por vezes o artista utiliza do próprio corpo como molde para suas esculturas e redimensiona a visão da própria existência ao transformar um local de experiência subjetiva em um local de projeção coletiva. As intervenções em espaços públicos tem sido uma constante na trajetória do gênio, que aguça os sentidos dos espectadores.

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A mostra do vencedor do Turner Prize de 1994 levou cerca de 410 mil espectadores aos CCBBs São Paulo e Rio de Janeiro, além dos milhares de transeuntes que puderam observar as figuram humanas no Vale do Anhangabaú, na capital paulista, e no centro do Rio.

O CCBB Brasília fecha o ciclo bem sucedido e abriga a exposição em um novo pavilhão, erguido especialmente para abrigar  “Corpos Presentes – Still Being”, de 23 de outubro de 2012 a 6 de janeiro de 2013.

“Baseando-se na tensão entre o corpo e o espaço, Antony Gormley redefiniu o vazio e o pleno e endereçou a observação sobre o corpo como um procedimento participativo. Para entender Gormley, é preciso ver com a pele, mensurar com os olhos e se deixar ocupar pelo essencial sentido de presença, ferramenta fundamental para vivenciar sua obra.” – anuncia o curador Marcello Dantas no texto do catálogo.

“Para se entregar à obra de Antony Gormley, não se deve se ater ao que está visível aos olhos, mas sim a algo muito mais sublime e ao mesmo tempo intenso, o sentimento de presença – algo que não é do léxico comum das artes visuais, mas que quando ocorre desnuda o verdadeiro acontecimento da arte.” – completa Dantas.

As galerias do CCBB recebem as obras: “Loss”, “Drift III” e “Ferment”, além de três esculturas produzidas especialmente para a exposição brasileira: “Mother’s Pride IV”, “Breathing Room IV” e a inédita “Sum”. A obra “Critical Mass II” formada por 60 corpos de ferro fundido, de 630 kg cada, uma de suas instalações mais célebres, ocupará o novo pavilhão construído especialmente para a exposição.

A obra “Amazonian Field” foi produzida com o apoio de mais de cem moradores de Porto Velho (Rondônia), em uma instalação que reúne 24 mil peças feitas de terracota. A obra é parte de um projeto extenso que também contemplou outras seis experiências: México (Field), Reino Unido (“Field for the British Isles”), Suécia (“European Field”), China (“Asian Field”), Japão (“Asian Field”) e Austrália (“Field for the Art Gallery of New South Wales”).

O CCBB promove um encontro com o artista londrino Antony Gormley no dia 21 de outubro (domingo) às 18 horas no Auditório, com entrada franca e senhas distribuídas uma hora antes do evento.

Os artista vai discorrer sobre o seu trabalho e o processo criativo. As inscrições para a palestra podem ser feitas pelo e-mail: projetoantonygormley@gmail.com. Lotação: 130 lugares. Será emitido pela produção um certificado de participação. Se não houver lotação, serão distribuidas senhas uma hora antes do evento na bilheteria.

 
Amazonian Field. Divulgação.

Saiba mais detalhes sobre cada obra:

Amazonian Field (1992): Aproximadamente 24 mil figuras em terracota, de tamanho variável, medindo de 4 a 40 cm de altura.

Antony Gormley usa a forma humana para explorar a existência humana e a relação do homem com o mundo. “Field” é uma série de instalações feitas em colaboração com comunidades espalhadas pelo globo. As obras são compostas por milhares de figuras, que se aglomeram no chão de frente para o espectador. A versão original de “Field” foi realizada no México por 60 membros de uma tradicional família de oleiros, sob a supervisão do artista. A série recebeu grande destaque na mídia em suas montagens e foi alvo de muitas paródias. A configuração muda de local para local, mas as figuras são sempre posicionadas para formar um grande e denso mar de pessoas, com cada uma olhando para o visitante. “Amazonian Field” foi montada em 1991, em Porto Velho.

Breathing Room. Divulgação.

Breathing Room IV (2012): Tubos de alumínio de 25x 25, fósforo H15 e junções plásticas

360 x 384 x 767 cm

Ao envolver nossa mobilidade, Gormley repensa como o tempo atua sobre os objetos e como os objetos atuam sobre nós. “Breathing Room” é feito de 15 molduras fotoluminescentes interconectadas. Tempo e luz são as matérias desse trabalho, que encoraja o visitante a entrar em seu meio e interagir com um ambiente definido escultural, no qual descargas intensas de luz interrompem a escuridão total, transformando a experiência de silenciosa meditação em interrogação aguda.

Critical Mass. Divulgação.

Critical Mass II (1995): 60 figuras em tamanho real, com dimensão variável, feitas de ferro fundido.

“Critical Mass” é um grupo de 60 sólidas figuras de ferro, cujos moldes são tirados a partir do próprio corpo do artista. As figuras formam um léxico de doze posições básicas, de fetal a ereta, que podem ser instaladas de acordo com as características do local da exposição. “Critical mass” é um termo na física que define a densidade necessária no Urânio para que a fissão nuclear possa acontecer.

Drift III. Divulgação.

Drift III (2008): Seções de barra de aço inoxidável de 2mm

264 x 175 x 213 cm

Ferment (2007): Seções de barras de aço inoxidável de 2mm

283 x 177 x 192 cm

“Nunca tive interesse em fazer estátuas. Ao invés de representar o corpo em si, tento mostrar o espaço em que o corpo esteve. Nem arquitetura, nem anatomia, os trabalhos da série “Drift” e “Ferment” são mais como as matrizes randômicas encontradas na geometria fractal. Esses punhados de ‘nada’ são os trabalhos mais esvaziados de matéria que eu já fiz. Os corpos são livres, perdidos no espaço, sem peso e com nenhuma determinação interna – eles não estão ‘atuando’”, afirma Gormley.

Ferment e Drift III usam o princípio matricial das bolhas para explorar como elas, que são a mais efêmera das formas, aglutinam-se para criar formas de nuvens. Assim, nas palavras do artista, “a clássica posição da escultura como um objeto absoluto foi substituída pela construção de um campo de energia provisório”.

Ferment amplia a forma de um vazio em forma corpórea (como em Flesh) em direção ao espaço circundante, de maneira a criar uma matriz geométrica complexa feita de polígonos irregulares que vão do formato do tetraedro ao do rombicosidodecaedro.

Drift III é uma estrutura leve feita da mesma matriz de bolha poliédrica de Ferment, e existe no limiar entre um desenho e um objeto. Tem massa o bastante para ser chamado de objeto, mas expressa suficientemente uma função de campo para ser pensado como um lugar.

Quatro Vezes. Foto: Pilar Olivares/Reuters.

Quatro vezes (Four Times) (2012): 4 figuras em tamanho real, feitas de ferro fundido

189 x 53 x 29 cm (cada)

Variação da instalação Event Horizon – que tomou as ruas e prédios de Londres (2007), Nova Iorque (2010), São Paulo (2012) e Rio de Janeiro (2012) –, a obra “Quatro Vezes” (Four Times) distribuirá quatro esculturas em tamanho real, moldadas a partir do corpo do artista, pelo solo do eixo monumental de Brasília. Admirador do trabalho de Oscar Niemeyer, Gormley considerou um contrassenso colocar as suas esculturas em cima das criações do arquiteto brasileiro. A geografia do Planalto Central também contribuiu para a sua decisão. Segundo o artista, a obra é a compreensão do espetacular horizonte da cidade que está exatamente no nível do pedestre e em seu campo frontal de visão.

Flesh. Divulgação.

Flesh (1990): Concreto

36 x 198 x 174 cm

A série de trabalhos em concreto (que vai até 1993) é uma tentativa do artista de materializar o espaço da arquitetura e do nosso espaço dentro dela. Gormley utiliza a técnica da cera perdida para moldar um vazio no formato de um corpo dentro de um bloco de concreto. Flesh é a primeira da série – um vazio de um corpo estendido dentro de um bloco em forma de cruz feito de concreto armado. Desta forma, ele sugere que a cruz estava presente no corpo antes de a mesma aparecer na arquitetura.

Floor. Divulgação.

Floor (1981): Circunferência feita de Borracha

0,6 x 122 x 134 cm

Floor é o trabalho mais antigo da exposição. Ao reproduzir o contorno dos pés do artista dentro e fora da silhueta deles, este trabalho faz alusão a um campo de energia que torna a zona corporal porosa e aberta. É também um diagrama da resolução e da dissolução da forma, um tema recorrente no trabalho do artista.

Loss. Divulgação.

Loss (2006): Blocos de aço inoxidável

173m x 53 x 49 cm

Os trabalhos moldados por blocos surgiram da tentativa de se consolidar a relação entre massa e espaço que havia se dispersado em trabalhos anteriores nos quais as matrizes eram construídas de seis tamanhos pré-determinados de cubos e que se uniam em uma grade nas interseções. Os blocos moldados substituem anatomia por volumes arquiteturais. Através de escoras, empilhamento e equilíbrio, constituem uma estrutura estável. Com o tempo, os blocos se tornaram mais robustos, muitas vezes se estendendo além da pele como uma tentativa de evocar sentimentos e tensões específicas.

Mothers Pride IV. Foto: Aline Naomi. Divulgação.

Mother’s Pride IV (2007): Pão e cera

2,85 x 2,30 x 0,016m

A primeira série de obras feitas de pão foi criada pelo artista entre 1979 e 1982. Construído através de mordidas, o espaço vazio dá lugar ao molde do seu corpo. O nome “Mother’s Pride” (orgulho de mãe) vem do mais popular pão branco processado na Inglaterra. Partindo do princípio de que pão e vida civilizada caminham juntos, ao reproduzir a imagem do Cristo morto de Mantegna, o escultor objetiva desenhar trajetórias e ilustrar distâncias. Em um de seus trabalhos, o artista comeu o seu próprio peso em pão. “Mother’s Pride” impõe a memória de um corpo em posição fetal sobre um material manufaturado, provedor de energia para a vida. “A escultura tradicionalmente visa impor a mente ao material através de um ato de inteligência e vontade. Eu procurava um método mais natural de constituir a obra e o ato de comer é o processo original no qual matéria transforma-se em espírito”, explica.

Sum. Divulgação.

Sum (2012): Ferro fundido

22 x 201 x 51 cm

Trabalho mais recente da exibição, Sum é construído a partir de um agregado de formas cristalinas sólidas, versões maciças da geometria da bolha de Ferment, dispostas diretamente no chão. Este sugere o corpo como um “objeto encontrado” condensado a partir de um campo mineral. A obra alude tanto à precipitação quanto à entropia, duas constantes no comportamento da matéria que proporcionam o contexto para a vida humana.

Serviço: Antony Gormley – “Corpos Presentes” – Still Being

Visitação: De 23 de outubro de 2012 a 6 de janeiro de 2013

De terça-feira a domingo, de 9 às 21 horas

Classificação indicativa: livre

Entrada franca

Centro Cultural Banco do Brasil Brasília

SCES, Trecho 02

Informações: (61) 3108-7600

Serviço 2: Palestra com Antony Gormley

Data: 21 de outubro de 2012 (domingo) às 18 horas
Local:  Auditório, 1º Andar (Auditório do CCBB Brasília – SCES, Trecho 2, lote 22)

Fone: (61) 3108-7600

Entrada franca
Classificação livre.