Associação de Produtoras Trabalhadoras da Arte e Cultura se firma no DF em prol da equidade de gênero no setor cultural

Não é possível falar de diversidade sem agir de forma realmente inclusiva. É por compreender que esses temas são caros e de extrema relevância que o DF ganha uma nova associação neste mês de agosto. A APTA – Associação de Produtoras Trabalhadoras da Arte e Cultura se lança oficialmente ao público no dia 19 de agosto, às 19 horas, em Web Solenidade realizada via Zoom.

A APTA não surge em vão. É sabido que a arte e a cultura são motores capazes de estimular transformações sociais e revoluções. São, além disso, forças de mobilização e meios de manter a saúde mental em tempos difíceis, como durante uma pandemia. Cultura é transformação, para quem faz e para quem consome. Movimenta a economia, muda realidades e alimenta a alma. O que pouco se discute, entretanto, é quem está por trás de cada produto, evento ou experiência que se consome. 

O ecossistema da cultura mobiliza anualmente milhares de pessoas, gerando renda e construindo histórias. Por trás de cada música, espetáculo, show, feira, ambiente de mercado, conferências, desfiles e exposições, há uma série de trabalhadores envolvidos para levar ao público uma experiência transformadora. Desse grupo de pessoas, porém, quem geralmente carrega consigo os holofotes e palmas são figuras masculinas. Por quê?

A APTA surge para romper com a hegemonia masculina no cenário da cultura do DF. É evidente a invisibilização e escanteamento das mulheres que trabalham na produção cultural, mesmo quando em altos cargos de coordenação e/ou direção de seus projetos. E é esse o ponto principal que a associação traz ao debate: a equidade de gênero. 

Acreditando não ser mais possível, tampouco sustentável, que majoritariamente homens sejam reconhecidos por suas trajetórias e projetos, a APTA se consolida no DF como uma frente de mulheres que busca melhores condições de trabalho, paridade de gênero em equipes de produção e programações dos mais diversos eventos na cidade, além de se estabelecer como força articuladora de mudanças no que tange o acesso a mecanismos de fomento público e junto à iniciativa privada. 

Entre outras atividades/propostas que serão ativadas, estão cursos de formação para mulheres na produção cultural, debates, acordos comerciais, conferências, cartilhas de conduta e, futuramente, o selo APTA, que será uma importante ferramenta de garantia de equidade de gênero no setor. Para além, pautas como saúde mental, ambientes de trabalho saudáveis e o combate aos variados tipos de assédio serão levantadas e debatidas.

Para compor a Web Solenidade, nomes importantes foram elencados. Participam da conferência as parlamentares Benedita da Silva, Áurea Carolina, Erika Kokay, Arlete Sampaio e Julia Lucy. O evento também contará com presenças importantes do cenário cultural do Brasil, como Luciana Adão (Oi Futuro – RJ), Viviane Ferreira (Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro), Jaqueline Fernandes (Festival Latinidades e Instituto Afrolatinas), além de duas representantes da APTA, Dayse Hansa (Bocadim – DF) e Luna Moreno (curadora do festival COMA – DF). Completam a lista de convidadas a Secretária da Mulher do DF, Ericka Filippelli, a Presidenta da Comissão de Cultura da OAB, Veranne Magalhães, e a Administradora da RA I, Ilka Teodoro.

Composta em seu lançamento por cerca de 40 profissionais da arte de cultura do DF, a APTA apresenta à capital federal seu manifesto, em que firma seu compromisso não somente com suas associadas, mas com a comunidade e os consumidores de cultura da cidade. O manifesto chega à público com apoio de mais de 100 mulheres do Brasil e do mundo, que unem suas vozes às pautas levantadas pela Associação.

A Web Solenidade de lançamento será pública. Interessados em participar como ouvintes devem mandar email para dfapta@gmail.com solicitando acesso à conferência. O evento terá mediação das produtoras associadas da APTA, Sara Loiola e Mariana Gomes e duração de 1 hora e 30 minutos. 

A APTA MANIFESTA

Estamos aptas para fazer o que qualquer homem faz.

A APTA – Associação de produtoras trabalhadoras da arte e cultura nasce, no Distrito Federal, com o intuito de reunir mulheres trans e cis que buscam equidade no mercado cultural e de entretenimento, objetivando fortalecimento e construção de espaços e ações potencializadoras e articuladoras de políticas e ações afirmativas.

Estruturada nas bases do antirracismo, antimisoginia, antilgbtfobia, anticlassismo, antietarismo, antigordofobia, antinormose, do anticapacitismo e da liberdade de crença, a Associação carrega como pauta prioritária o reconhecimento das trajetórias de mulheres trans e cis produtoras das artes e da cultura, tornando-se então um megafone destas pessoas na busca incansável por condições de trabalho dignas, seguras e iguais neste meio.

Invisibilizadas e escanteadas por homens que, em sua maioria, restringem os espaços de trabalho, holofotes e conquistas, estas mulheres trans e cis agora se unem para garantir que suas vozes não mais sejam silenciadas no meio cultural.

Contrária aos homens que se apoiam em uma equivocada visão universalista e/ou pretensamente inclusiva, a APTA será espaço de troca e acolhimento, mas também de debate e levante de políticas públicas e ações que, de fato, resguardem mulheres trans e cis e garantam sua inclusão de forma equânime.

A atuação da Associação se dará em diferentes frentes, como mapeamento das mulheres trans e cis trabalhadoras da cultura do DF e do Brasil, articulação e negociação política e comercial, acompanhamento e denúncia de casos de violência e assédio contra mulheres trans e cis do setor e na busca de um ambiente saudável de trabalho.

Entende-se que o momento é mais oportuno para que o necessário debate contra o machismo estrutural saia do plano das ideias e se materialize em ações práticas e de frutos vindouros em curto, médio e longo prazo. Às mulheres trans e cis trabalhadoras da cultura o tempo urge e essa invisibilização de suas conquistas e projetos é inaceitável.

Composta por mulheres que representam uma infinidade de projetos culturais, muitas em cargos diretivos de suas empresas e/ou projetos, fica evidente que estamos APTAS a toda e qualquer função às quais nos propomos e vamos lutar por esses espaços. Mais ainda, que não estamos dispostas a aceitar remunerações inferiores às de homens ocupando cargos equivalentes.

Reunindo mulheres trans e cis produtoras com atuação em diferentes linguagens e diferentes campos, em diversos estágios de suas carreiras, a Associação também será campo fértil para crescimento em conjunto do corpo produtivo de mulheres trans e cis do DF, investindo portanto em ações de capacitação, fortalecimento, empoderamento político e profissionalização de suas associadas.

Por fim, a APTA pretende exercer importante papel educativo no cenário da cultura do DF, produzindo e distribuindo cartilhas e informativos que tenham como objetivo ambientes menos tóxicos para mulheres trans e cis, sejam elas trabalhadoras ou público, na incessante luta contra o assédio moral e sexual, abusos de poder e roubos de protagonismo. Nesse aspecto, prezará pela garantia de times de produção, conteúdos e programações que garantam a equidade de gênero, assim como de pessoas pretas, indígenas, LGBTQIA+ e deficientes.

Web Solenidade de lançamento da APTA
19 de agosto (quarta) às 19 horas
Zoom
Como participar: solicitar convite para dfapta@gmail.com