CCBB recebe mostra que celebra os 100 anos de Athos Bulcão.

De 16 de janeiro a 01 de abril.

Athos Bulcão. Estudo em cartão. Foto: Vicente de Mello.

Athos Bulcão está na brasilidade das cores, nos traços inconfundíveis dos desenhos, na personalidade das pinturas, na lógica imprevista das fotomontagens, na força dos cenários e figurinos, na relação univitelina entre arte e arquitetura, no sagrado e no profano, na explosão da azulejaria brasileira. Com curadoria de Marília Panitz e André Severo, a exposição 100 anos de Athos Bulcão, vai percorrer as unidades do CCBB Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, a partir de 16 de janeiro de 2018.

Escola Classe 407 Norte. Foto: Edgard César.

Com a intenção de propor um profundo mapeamento e imersão na diversidade dos trabalhos e técnicas do artista, a mostra oferece ao espectador a possibilidade de conhecer o processo de sua produção. Incluindo a exibição de obras inéditas, mais de 300 trabalhos de Athos, grande parte do acervo da Fundação, apresentarão ao público um amplo panorama de sua criação entre os anos 1940 e 2005, contextualizando sua obra e seu pensamento. Além disso também serão apresentados trabalhos de artistas que, de uma maneira mais direta – convivendo com ele, no ateliê e nos chás – ou indireta – artistas mais jovens, muitos nascidos em Brasília, que reconhecem a influência do mestre pelo convívio cotidiano com suas obras públicas.

Série dos carnavais.

Dividida em núcleos, “100 anos de Athos Bulcão” vai além da arte da azulejaria: destaca também a pintura figurativa do artista realizada nos anos 1940 e 1950, antes de Brasília. – A série dos carnavais e sua relação com a pintura sacra é extraordinária – afirma Marília Panitz, ao destacar que Athos utilizou uma mesma estrutura composicional para trabalhos sacros e profanos, citando como exemplo A Vida de Nossa Senhora, que está na Catedral de Brasília. A mostra contém ainda os croquis que Athos fez para o grupo de teatro O Tablado, do Rio de Janeiro, os figurinos das óperas Amahl e Os Visitantes da Noite de Menotti, paramentos litúrgicos modernistas, grande acervo de seu trabalho gráfico e até os lenços que desenhou quando estava em Paris.

Painel de azulejos das paradas de descanso do Parque da Cidade (1985 2013). Foto: Diego Bresani.

Outro aspecto da exposição é a interatividade, desenvolvida a partir do caráter urbano e democrático da obra pública de Athos Bulcão inserida nas cidades. Através de um aplicativo criado especialmente para a mostra, o público será convidado a interagir e apropriar-se de projetos. Como num jogo, os azulejos de Athos poderão ser “colocados” em qualquer espaço como, por exemplo, a casa do “jogador”. A realização de mesas-redondas com os curadores e convidados especiais que irão dialogar com os visitantes sobre a vida e obra de Athos Bulcão completam a programação. A primeira delas acontece no dia 17 de dezembro às 10 horas com a presença dos curadores, Marília Panitz e André Severo, Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, além de vários artistas da cena brasiliense.

Instituto de artes da Universidade de Brasilia. Foto: Vicente de Mello.

Combinando o viés cronológico com uma aproximação temática, “100 anos de Athos Bulcão” aposta nos vínculos, mais ou menos evidentes, entre diferentes momentos da trajetória do artista e se estrutura a partir de núcleos de obras e estudos que se interpenetram e deixam evidente a diversidade conceitual e material que permeia toda a obra de Athos Bulcão – afirma André Severo.

Sem Título. Série “Vida de Nossa Senhora”. Acervo da Catedral de Brasília. Foto: Vicente de Mello.

As obras do Núcleo 1 – A cor da fantasia, têm caráter figurativo, o que é menos conhecido, no conjunto de sua criação. Com figuras simplificadas e uma paleta particular, em que as cores puras e os tons terrosos predominam, o universo imaginário do artista, formalmente aproxima as festas profanas com as imagens religiosas que produziu, ainda no início dos anos 1960, para a Catedral de Brasília. Nesse núcleo estão também as vestes litúrgicas e projetos para painéis e vitrais de igrejas, produzidos pelo artista, assim como desenhos realizados no final de sua vida quando o tema do carnaval que aparece como lembrança ancestral, reaparece.

A despedida (1954).

As fotomontagens são um momento único na obra d Athos Bulcão. No Núcleo 2 – Devaneios em preto e branco, elas apontam para certo pensamento tributário das experimentações surrealistas e de certa vertente construtiva presente nos desdobramentos da experiência da Bauhaus. É também uma utilização daquilo que o aprimoramento do offset e das revistas possibilitou. Aqui é possível identificar a maestria da composição associada a um viés de humor. Além das Fotomontagens pertencentes ao acervo da Fundação Athos Bulcão, serão exibidas pela primeira vez as colagens que deram origem a elas – todas pertencentes a uma coleção particular.

Bicho. Coleção Ralph Gehre. Foto: Vicente de Mello.

Na abertura do Núcleo 3 – É tudo falso, surge o artista segurando uma máscara que é a reprodução de uma outra, ancestral. O título do núcleo toma uma fala de Athos que questionava a ideia de originalidade e, portanto, o de falsificação, assim como outros artistas seus contemporâneos. Junto a estas “pinturas objetos” estão pinturas, gravuras e desenhos em torno do mesmo tema da documentação antropológica imaginária. Ainda estão presentes alguns dos bichos – coleção de esculturas criada em pequena escala, a maneira dos seres imaginários de Borges e depois construídos em tamanho maior para as crianças na Rede Sarah de hospitais para o aparelho locomotor.

Carnaval dos anos 20. Acervo Onice Oliveira. Foto: Vicente de Mello.

No Núcleo 4 – A geometria e a poesia, se pode observar mais profundamente o Athos grande colorista e sua paleta de cores. Há ali, um tríptico onde estão reunidos os três vieses desse grupo de obras pictóricas desenvolvidos entre o final dos anos 1960 e os anos 1990: as máscaras, que quase desfaziam a figuração; a associação de recortes quadrados que se espalhavam sobre o fundo monocromático; e as texturas com pequenos círculos, pontos, cruzes, quase ideogramas particulares criados pelo artista, que se espalham por toda superfície da tela e definem, sutilmente, formas que nos parecem instáveis dando-se a ver e desaparecendo sob o olhar do observador. Em diálogo com as telas, são colocados estudos de painéis de azulejos, desenhos e gravuras que comprovam o parentesco conceitual nas diversas experimentações: coerência e diversidade.

Revista Módulo Número 01. Acervo José Carlos Coutinho. Foto: Vicente de Mello.

O Núcleo 5 – A forma reinventada e seus modos de usar reúne as experiências do artista em diversos campos como suas capas de revistas e livros, ilustrações de jornais, projetos de estamparia em lenços e capas de discos. Também são apresentadas suas incursões no teatro – em especial, junto ao grupo O Tablado, de Aníbal Machado – onde foi cenógrafo e figurinista, além de designer dos programas das peças. Ainda é possível encontrar seus projetos para mobiliário realizados em residências particulares, assim como na Rede Sarah. É um bom momento para refletir como, a partir de uma clara proposta estética e conceitual, o artista se aventura por outros campos de fazer.

Palácio do Jaburu. Foto: Edgar César.

O Núcleo 6 – Construções/Montagens: a invenção de uma forma de integração da arte à arquitetura é o maior núcleo da mostra. Dele fazem parte os trabalhos dessa integração que se conhece em Brasília mais massivamente, mas também em muitas cidades no Brasil e no exterior. Aqui é possível ver o método do mestre, sua precisão e sua abertura para a surpresa, para o inesperado, que mantêm sua obra com um frescor perene.

Centro Cultural Missionario da CNBB Brasília. Painel de Azulejos. Arquiteto Rubens Arruda (1995). Foto: Edgard César.

À maneira de um jogo, o visitante é convidado a interagir e apropriar-se de projetos de painéis de azulejos (marca maior do trabalho do artista). O exercício proposto no Núcleo 7 – Interagir com Athos, transformar a cidade, é que, por meio de um aplicativo desenvolvido especialmente com este fim, e a reprodução das imagens projetadas na parede do fundo da galeria, o jogador possa experimentar os azulejos de Athos de sua escolha sobre as superfícies de sua casa, por exemplo, ou de um prédio escolhido dentro do repertório de imagens oferecidos pelo jogo.

Cine Brasília. Relevo em madeira e laminado polivinílico. Arquiteto Oscar Niemeyer (1976). Foto: Edgard César.

O Núcleo 8 – Rastros de Athos trata da presença da obra e dos ensinamentos de Athos, como influência no trabalho de artistas contemporâneos. Aqui, os visitantes poderão conferir obras de alguns artistas que reconheçam de alguma forma a presença de Athos em suas poéticas e junto a uma outra, de Athos, que corresponda a esta zona de influência.

Câmara dos Deputados. Muro Escultórico doSalão Verde. Arquiteto Oscar Niemeyer (1976). Foto: Edgard César.

Ao longo de toda a mostra podemos ver a reprodução em escala de alguns dos relevos acústicos que foram desenvolvidos pelo artista, assim como algumas divisórias utilizadas em diversos prédios públicos, cuja originalidade e funcionalidade são marca do trabalho, sem precedentes, de integração entre arte e arquitetura proposto por Athos Bulcão.

Panteão da Pátria Tancredo Neves. Praca dos Três Poderes – Brasília. Relevo em madeira laqueada. Arquiteto Oscar Niemeyer. (1986). Foto: Edgard César.

No espaço externo (marquise e jardins), três cubos, com faces verticais revestidas com doze padrões de azulejos realizados em construções espalhadas por diversas cidades do Brasil e do mundo, como, embaixadas, prédios públicos etc. A cobertura em uma dimensão generosa e realizada com o material real possibilita ao público a experiência do corpo a corpo com os painéis e também propicia a aventura de documentar as viagens imaginárias pelos diversos locais onde estão seus trabalhos, com um só click.

Projeto para painel em relevo. Hospital do Aparelho Locomotor –
Minas Gerais. Foto: Vicente de Mello.

Para além da cronologia, e exposição contextualiza a trajetória de Athos Bulcão, a conexão entre suas obras e um adensamento em sua poética. Será possível visualizar seu caminho no Brasil e exterior, desde sua inspiração inicial pela azulejaria portuguesa, seu aprendizado sobre utilização das cores, quando foi assistente de Portinari, até as duradouras e geniais parcerias com Niemeyer e João Filgueiras Lima, o Lelé. – Para nós, que divulgamos e preservamos seu legado, é sempre uma alegria homenagear o talento desse homem discreto, preocupado especialmente em harmonizar e compor o trabalho do arquiteto na integração de sua arte, mas que também se engrandece quando envolvido em telas, tintas e pincéis, produzindo um dos mais destacados repertórios da arte brasileira – afirma Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão.

Essa homenagem a Athos quer resgatar o valor individual dessa arte única que foi produzida no Brasil, sua importância no panorama da visualidade moderna, além da valorização, do reconhecimento para a manutenção da memória nacional.

Painel na sala de cinema do Palácio do Jaburu. Arquiteto Oscar Niemeyer. Foto|: Edgad César.

Serviço: 100 anos de Athos Bulcão
Visitação: De 16 de janeiro a 01 de abril
Mesa Redonda: 17 de janeiro às 10 horas
Local: CCBB (SCES, Trecho 02, lote 22)
Visitação: De terça a domingo, das 9 às 21 horas
Informações: (61) 3108-7600
O Centro Cultural oferece transporte escolar gratuito para escolas públicas, ONGs e instituições assistenciais do Distrito Federal e entorno mediante agendamento pelo número 3108-7623 ou 3108-7624.
Entrada franca
Classificação etária: Livre.