Bourbon Street Fest lotou o Complexo da República.

Foto: Renato Acha. Divulgação.

Renato Acha

O Bourbon Street Fest foi realizado no Complexo Cultural da República no último fim de semana. Foram dois dias de muito, jazz, blues e outras vertentes da música em apresentações impecáveis. É a primeira vez que o circuito que integra Rio e São Paulo vem a capital. O Bourbon Street Fest surgiu em decorrência da casa homônima em São Paulo, conhecida por receber grandes nomes da cena.

Foto: Renato Acha.

A noite de sexta (5 de agosto) começou com Delfeayo Marsalis Sextet em clima muito agradável. O trompetista Delfeayo Marsalis carrega a melodia no sangue, afinal nasceu em uma família musical. O pai, Ellis Marsalis Jr., toca piano e os irmãos Branford Marsalis (saxofone), Wynton Marsalis (trompete) e Jason Marsalis (bateria). O clima era de jazz acústico, mesmo em uma apresentação ao ar livre, perfeito para abrir o festival.

Foto: Renato Acha.

Em seguida o grupo  Nathan & the Zydeco Cha Chas eletrizou a plateia com o zydeco, um ritmo musical de raiz na cultura americana, derivado do creole e surgido no sudoeste do estado de Louisiana no início do século XIX, típico de salões de dança rural em casas de famílias onde amigos se encontravam. O zydeco sobrevive até hoje e é cantado em uma espécie de dialeto creole francês, característico da Louisiana. Ele influenciou diversos outros ritmos como o R&B, o Hip Hop e o Rock. Neste clima envolvente que dialoga com a diversidade, os músicos deixaram o público muito satisfeito.

Foto: Renato Acha.

A trupe é formada por Adonis Rose (Bateria), Douglas Dezron (Baixo), Jeremy C. Thomas (Trumpete), Mark Shim (Sax Tenor), Victor “Red” Atkins (Piano), Mark Gross (Saxophone Alto e Soprano). Foi uma performance eletrizante que contagiou tanto os artistas quanto a plateia. Nathan Williams declarou: “Eu realmente me sinto como se estivesse em Louisina neste momento”. Nós também fizemos o teletransporte no espaço e tempo.

Foto: Renato Acha.

Para fechar a noite um toque de divas negras com vozes poderosas. New Orleans Ladies of Soul apresentou um repertório dançante com composições de Ike & Tina Turner (Proud Mary), Amy Winehouse (Rehab), The Supremes, Chaka Khan, Destiny´s Child e Beyoncé. O resultado obviamente agradou em cheio. Yadonna West, Angela Bell, Elaine Bell e Tereasa Betts foram muito simpáticas e perceberam que o Brasil tem os braços abertos para música feita com excelência.

Cynthia Girtley. Foto: Riba Rezende.

No sábado (6 de agosto) a abertura foi feita por Cynthia Girtley, que disse ao que veio logo no primeira música ao longo de uma série que fizeram um fluido passeio que começou como gospel em evocações divinas de timbre delicado e  intenso ao mesmo tempo. “Se você sentir vontade de pular, pule e grite. É isto que fazemos na igreja. Nós nos divertimos na igreja. Afinal o Gospel é música que te faz sentir bem, uma mistura de fé e esperança. É música que te diz: Segure a onda, tenha força, você vai conseguir”. A música Gospel te dá energia para seguir em frente”, declarou Cynthia antes de homenagear Mahalia Jackson, grande diva do gospel cujo centenário de nascimento é celebrado neste ano.

Arcinda Edwards. Foto: Riba Rezende.

Do céu a terra, Cynthia mudou o repertório para o blues e jazz, onde o homem desejado é o fruto de músicas com forte teor de desabafo e ironia. Rir de si mesmo musicalmente é para poucos privilegiados. Cynthia Girtley, incrível também no piano, estava acompanhada por Arcinda Edwards (Percussão e Backing vocal), Cornelius Bridgett (Bateria) e Nathaniel Butler (Sax). Arcinda Edwards atraiu atenção por seu porte elegante, carisma e um belo swing ao tocar o pandeiro. Foi a apresentação mais mágica da noite, que ainda prometia muito mais.

Foto: Riba Rezende.

Em seguida sobe ao palco John Mooney & Bluesiana, que imprimiu arranjos funk ao Mississipi Delta Blues, com uma sonoridade peculiar que contagiou a capital do rock, afinal são ritmos tão complementares que se fundem naturalmente. Riffs poderosos de guitarra provaram que John Mooney tem um brinquedo e uma devoção nas mãos. O conjunto fica perfeito quando se tem uma banda afiada e muito competente.

Foto: Renato Acha.

Quando The Dirty Dozen Brass Band iniciou a apresentação já causou impacto visual, dada a quantidade de instrumentos de sopro e a classe dos músicos: Roger Lewis (Sax Baritono), Efrem “ET” Towns (Trumpete), Kevin Harris (Sax Tenor), Jake Eckert (Guitarra), Jermal Watson (Bateria), Gregory Davis (Trumpete) e Mike Foster (Sousaphone). O repertório foi um passeio histórico ao longo de décadas, do ragtime às big bands, com aquele pegada groovie 70´s deliciosa.

Que venham mais edições do Bourbon Street Fest. Se existia alguma dúvida em relação ao bom gosto do público brasiliense, esta se esvaiu completamente. O Complexo Cultural da República recebeu o evento no centro do poder, mas muita gente se queixou do soundsystem e da ausência de lixeiras. Uma projeção dos shows na cúpula do Museu Nacional também seria muito bem vinda, afinal a quantidade de público presente nos dois dias foi enorme.

Foto: Renato Acha.
Foto: Riba Rezende.
Foto: Renato Acha.
Foto: Riba Rezende.