A mostra “Brasília Chandigarh” de Stéphane Herbert foi aberta no Museu Nacional.

Fotos de Stéphane Herbert.

A mostra “Brasília Chandigarh” reúne fotos de francês Stéphane Herbert no Museu Nacional. As duas cidades foram projetadas na década de cinquenta, por Oscar Niemeyer e Le Corbusier respectivamente. Stéphane fez uma imersão em ambas as locações e traça um paralelo entre elas. Ele apresenta dípticos fotográficos onde sempre inclui uma foto na capital do Brasil e outra na cidade indiana.

O Acha Brasília esteve presente na abertura, na última quarta (6 de outubro) e registrou os discursos esclarecedores do Embaixador da França, Yves Saint-Geours, da curadora, Cláudia Estrela Porto e do fotógrafo, Stéphane Herbert.

Brasília Chandigarh - Vinod K. Sachdeva (Ministro Conselelheiro e Vice-Chefe da Missão), Stéphane Herbert, Yves Saint-Geours. Foto de Renato Acha.

Embaixador da França : Yves Saint-Geours

As duas cidades trabalham juntas conceitos para organizar a vida da cidade, do povo. Realmente é muito interessante ver como neste momento do século XX, se conceituaram cidades um pouco utópicas, mas que se tornaram realidade. O que Stephane Hubert nos mostra é que estas cidades não são somente cidades de arquitetura, todas as fotos são muito especiais porque são fotos com vida, com o povo, com pessoas, que demonstram que nesta arquitetura se organiza uma vida social. Quero parabenizar o artista por esta visão que ele tem da cidade. Finalmente, uma outra coisa interessante é que quando se lê alguns livros de arquitetura se diz sempre que Le Corbusier são ângulos e Niemeyer são curvas. Quando se olha para as fotos se pena que Niemeyer são ângulos e Le Corbusier são curvas. Então é interessante ver que os preconceitos podem mudar“.

A curadora da mostra, Cláudia Estrela Porto. Foto de Renato Acha.

A curadora acentuou a relação entre as cidades sob o olhar paciente de Stéphane além de relacioná-lo com os preceitos urbanísticos de Lúcio Costa:

O Stéphane é um fotógrafo de profissão e está há muitos anos nesta carreira. Quando vocês observam as fotos dele aqui, vocês sentem talvez um contentamento, uma alegria, vocês acham muito bonito, mas será que vocês já pararam um minuto e perguntaram o porquê de vocês acharem estas fotos tão belas. É porque elas são de certa forma perfeitas,  no sentido da composição, da luz, do enquadramento. Tudo isto faz uma boa fotografia, mas isto tudo demanda muito tempo de trabalho e como diz o Stéphane, muita paciência. As vezes ele tem que ficar um dia inteiro em frente a um monumento para se captar a luz correta daquele momento correto. O que é a fotografia? A fotografia nada mais é do que o congelamento de uma imagem em um instante preciso e é esta imagem deste instante preciso que vai ficar na mente de vocês quando estão na frente de uma quadro desses e olham a imagem. Por exemplo se vocês observarem a foto do edifício do Palácio da Assembléia, vocês vão verificar a simetria perfeita do edifício com o reflexo na água. A foto é belíssima, para mim é uma das mais bonitas, mas para se conseguir este efeito, ele ficou parado lá por várias horas observando o movimento do vento sobre a água do lago, que deveria estar praticamente quase estático, sem nenhum vento para não haver interferência do reflexo e assim ele obteve o positivo e o negativo da imagem. Isto é extremamente importante quando eu falo da foto em si.

Outro fator importante é que a foto é vista como relato histórico. Brasília e Chandigarh são duas cidades que foram fundadas na décadas de 50 e 60 e tem muitas similaridades e é isto que o Stéphane procura mostrar quando ele coloca uma foto ao lado da outra. Na verdade ele quer que o espectador compare estas duas fotos, que busque nelas alguns elementos comuns, como por exemplo, ele analisa o caráter monumental da cidade, ela analisa também o caráter bucólico quando ele traz as imagens de grandes parques, e ele analisa também o caráter residencial como na foto em que os jovens tocam violão embaixo de um bloco e ao lado ele faz uma foto de uma das habitações de Chandigarh onde as crianças se apropriam do espaço público para brincarem. Então isto para mim é o que é mais importante nesta exposição. Eu falo do ponto de vista arquitetônico também.

Outra coisa importante é que você só capta a essência destas duas cidades quando você conhece profundamente o país. Stéphane já veio várias vezes ao Brasil, ele é casado com uma brasileira, mas não é por causa disto que ele conhece o Brasil. É porque  ele já veio várias vezes e já conhece o âmbito deste país, de algumas cidades, principalmente de Brasília. Apesar de não ser indiano ele já passou muito tempo em Chandigarh, pedalando por suas ruas, sentindo o espaço para ele poder perceber quais são os elementos comuns entre estas duas cidades.

Chandigarh é uma cidade planejada, um pouco mais velha que Brasília. Eu estive lá há dois anos. Há pontos comuns mas há outros aspectos completamente diferentes de Brasília, mas ele tem um olhar maduro para captar aqueles edifícios ou aqueles espaços para depois fazer a comparação. Ele é um bom fotógrafo, mas é muito difícil para um fotógrafo que talvez não conheça e não saiba sentir o espaço de Brasília e o de Chandigarh para poder fazer estas comparações como ele faz.

Quase todas as suas fotos tem alguma pessoa, porque ele quer humanizar as grandes estruturas de concreto presentes na duas cidades, mas ele coloca a presença humana para dizer: “Através destas imagens eu desejo encontrar a alma das pessoas destes sítios de concreto, ter o contato com seus habitantes”. Não adianta nada ter monumento se você não tem pessoas. São as pessoas que fazem história, se apropriam do espaço e que o transformam de uma certa forma. Então quando vocês pararem diante de uma imagem destas, que vocês reflitam um pouco que por detrás delas há realmente um grande fotógrafo, que conhece profundamente  estes dois países ou estas duas cidades“.

Stéphane Herbert fez um agradecimento e uma homenagem as cidades por ele retratadas:

Depois de ter percorrido a Índia e França de setembro a janeiro, estou muito feliz em apresentar esta exposição aqui em Brasília, neste local. Quero agradecer especialmente à Objeto Sim que batalhou para isto. Brasília e Chandigarh são duas cidades irmãs, duas cidades que foram planejadas na mesma década, e elas são hoje cidades referência para o patrimônio mundial. Além de ter arquiteturas diferentes, elas são vivas, são cidades abertas ao movimento, abertas as luzes e isto é muito importante. De uma certa forma, todos nós somos, além de ser brasileiros, indianos, franceses, podemos nos sentir cidadãos do mundo nestas duas cidades, nestas duas obras universais“.

Serviço: Brasília Chandigarh

Data: De 06/10 a 07/11, de terça a domingo, das 9h às 18h30.

Local: Museu da República – Eixo Monumental – Setor Cultural Sul lote 02.

Informações: 3325-5220 / 6234.

Entrada Franca