Fernando Carpaneda solta o verbo e volta à Brasília com mostra individual.

Marta Carvalho - stencil e acrilica - 20x26cm - 2011.

Renato Acha

Fernando Carpaneda volta a apresentar uma exposição individual em Brasília depois de um longo jejum em que viu sua carreira internacional se firmar com precisão. O artista, natural de Taguatinga, iniciou sua trajetória ao treze anos de idade com pinturas despretensiosas. Com o tempo se viu fascinado pelo universo marginal ao criar obras pouco usuais para o mercado em vigor na época, muitas com forte teor crítico e temática homoerótica.

Depois de muitos acontecimentos e exposições em galerias e espaços não convencionais da capital, Fernando decidiu aceitar um convite para expor no famoso clube CBGB, em Nova Iorque. O reduto de nomes como David Bowie, Robert Mapplethorpe, os integrantes do The Police, Arturo Vega, Patti Smith e Madonna, abriu as portas para a bem sucedida carreira no circuito internacional de arte.

Hoje seu trabalho é reconhecido em países como Espanha, Estados Unidos, Itália e Rússia. No dia 18 de junho participou da Art Takes Times Square, mostra que apresentou imagens de artistas em enormes paineis de LED de 10m², que cobriam 23 andares da esquina mais movimentada de Nova Iorque, com um público estimado em mais de um milhão de pessoas.

Matt 14st - stencil e acrilica - 20x26cm - 2011.

Depois de causar polêmica com o lançamento de O Anjo de Butes (2009), autobiografia que relata  fatos imperdíveis e que cutuca muita gente da capital, o enfant terrible volta com a exposição Fernando Carpaneda – Arte de Brasília em Nova Iorque, com curadoria de Fábio Almeida Prado.

Ele apresenta obras de várias fases de sua carreira e mais dez pinturas de sua produção mais recente, incluindo três que participaram da exposição Art Takes Times Square. As molduram antigas foram garimpadas em garage sales, antiquários e brechós de Nova Iorque molduras antigas, cujas memórias dialogam com o universo underground e repleto de nuances de uma poesia tão amarga quanto doce.

Leigh de Vries - stencil e acrilica - 20x26cm - 2011.

Fernando Carpaneda conversou com o Acha Brasília e falou sobre a volta à Brasília após a publicação da autobiografia. Sem poupar o verbo, o artista dissecou o mercado local das artes visuais e lamentou o quase abandono do Espaço Cultural Renato Russo.

Acha – Como é voltar a expor em Brasília depois de alguns anos e do lançamento do livro “O Anjo de Butes”?

Carpaneda – “Feliz por expor em Brasília, mas odeio a maioria do povo ligado às artes plásticas na cidade. Acho todos fora de tempo e espaço. Gente retrógrada que manipula os espaços culturais na cidade. Amo meus amigos, família e o povo. Nada mais. O Anjo de Butes é um tapa na cara dessa gente toda que controla as artes plásticas em Brasília.”

Acha – A mostra vai acontecer na 508 sul, espaço que já foi palco de eventos e histórias memoráveis e que agora passa por uma situação de quase abandono. Sua exposição deve chamar atenção para o local, que vive uma situação delicada.

Carpaneda – “Bem, eu fiquei sabendo sobre a situação do Espaço Cultural há duas semanas, através da Galeria Almeida Prado. Fiquei surpreso e triste em saber como as coisas andam por lá. Quando eu me mudei de Brasília o Espaço Cultural estava no auge e tenho ótimas recordações daquele lugar. Então conversando com o Almeida Prado decidimos fazer essa exposição de pintura e levantar o Espaço Cultural novamente. Acho importante preservarmos aquele local. É um dos espaços mais bem localizados de Brasília e de fácil acesso ao público. Nem todo mundo na cidade tem carro e tempo para ir ao MAB, CCBB e outros que são distantes e de difícil acesso público. O Espaço Cultural é perfeito por conta de sua localização.

Também acho que certos artistas e curadores na cidade não estão nem aí para alguns locais importantes como o Espaço Cultural. O que eles querem é tirar dinheiro do governo superfaturando projetos absurdos para conseguirem verba fácil e dividir entre eles. Essas pessoas que manipulam o Museu da Republica e vários outros espaços dentro de Brasília não são artistas e não estão interessadas em promover arte. Eles fazem parte de uma panela e quem não está dentro dessa panela não é selecionado para certos locais na cidade. Essa gente não sente o mínimo amor pela arte e não sabe o significado da palavra artista.

Eu sempre senti asco por essas pessoas e nunca fiz questão de me misturar com elas. Elas não são nada no exterior e nem fazem parte do eixo Rio e São Paulo.”

Acha – O que prepara para apresentar em Brasília e na sequência na mostra na Espanha?

Carpaneda – “Vou expor pinturas. São retratos de alguns amigos meus famosos como a cantora inglesa Leigh de Vries e retratos de amigos meus de adolescência como Marta Carvalho da Ossos do Oficio que foram projetados na Times Square em Nova Iorque. Alem claro de alguns garotos de programa de Brasília como Marcello Alfredo entre outros. Na Espanha algumas pinturas homoeróticas.”

Marcello Alfredo - stencil e acrilica - 20x26cm - 2011.

Serviços: 

1 – Fernando Carpaneda – Arte de Brasília em Nova Iorque

Data: De 7 de julho a 15 de agosto de 2012

Abertura: 7 de julho (sábado) de 20:30 às 23:30

Local: Galeria Rubem Valentim (Espaço Cultural Renato Russo – 508 Sul)

Entrada Franca

2- O Anjo de Butes – Uma vida de tintas, sexo e rock & roll

O livro está à venda no Espaço Cultural Mosaico (SCRN 714/715 norte – Bloco D – Loja 16)

Preço: R$ 35,00

Informações: (61) 3032-1330.