Cine-Concertos.

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Renato Acha

Uma das experiências que proporcionam mais prazer é a junção de clássicos do cinema com trilha sonora executada ao vivo e ao ar livre. Esta é a proposta do projeto Cine-Concertos, que acontece de 28 de junho a 3 de julho no CCBB, com entrada franca, e promete reunir um público de todas as faixas etárias, em momentos emocionantes. A curadoria é de Jean Bourdin e Sérgio Moriconi, com o apoio da Aliança Francesa, em Brasília, e da Embaixada da França no Brasil.

A música surgiu no cinema antes das falas e sons, quando o piano e posteriormente as orquestras davam sonoridade às projeções de películas. O marco inicial data de 1927, com o longa-metragem O Cantor de Jazz, de Alan Crosland, primeiro filme a ter falas e música.

Inspirado neste movimento seminal, os grupos Le Workshop de LyonBaron Samedi, integrante da companhia ARFI (Association a La Recherche d’un Folklore Imaginaire),  se reuniram para dar sonoridade peculiar à clássicos da sétima arte. Os franceses dão uma nova cara ao cinema mudo, ao propor uma sinestesia experimental que conduz espectadores a atmosferas especiais, que potencializam o roteiro original.

A ARFI, cuja sede fica em Lyon, possui quinze grupos de músicos profissionais franceses. Eles criaram o Cine-Concertos em 1987 e viram o projeto crescer em grande escala. Quando compuseram uma trilha para o clássico O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein, receberam diversos convites e totalizaram mais de cem apresentações em toda a Europa.

A abertura em Brasília acontece na terça (28 de junho) às 21 horas, com a apresentação de arranjos especialmente criado para o filme Le Clown, que consagra o talento de Harry Langdon, um dos primeiros e mais consagrados palhaços da história.

O Cine-Concertos ainda prevê uma trilha de jazz para o filme Nanook, o esquimó. Outra exibição imperdível trata das pequenas histórias de Koko, palhaço criado pelos irmãos Fleischer na década de 1920. O público poderá assistir a nove filmes animados pelo personagem e concebidos entre 1919 e 1928.

O documentário Chang é um sensível e belo registro da vida de um pequeno elefante nascido na selva tailandesa, produzido em 1927 por Meriam C. Cooper e Ersnest Schoedsack. A compilação Cinerir’arfi traz um conjunto de curtas-metragens que reúne grandes mestres da comédia no cinema, como Buster Keaton, Charlie Chaplin e Laurel & Hardy.

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Confira a programação:

Terça, 28/06

21h00 – Cinésclaff (70 min)

Quarta, 29/06

20h00 – Cinérir (70 min)

Quinta, 30/06

20h00 – Nanouk (70 min)

Sexta, 01/07

18h30 – Koko Le Clown (60 min)

20h00 – Cinérir (70min)

Sábado, 02/07

18h00 – Cinésclaff (70 min)

19h30 – Nanouk (70 min)

Domingo, 03/07

18h00 – Koko Le Clown (60 min)

19h20 – Chang (70 min)

SINOPSES

CHANG (70’)

Filme mudo de 1927, dirigido por Meriam C. Cooper e B. Shoedsack após três anos de filmagem na selva da Tailândia. Mostra a vida de camponeses que vivem em uma cabana sobre palafitas no meio da floresta, rodeados por animais selvagens. Neste ambiente, onde a vida é uma luta incessante pela sobrevivência e onde a violência cega convive intimamente com a extrema fragilidade e a extrema delicadeza, surge no meio da aldeia um bebê elefante Chang. Ele foi capturado pela família Kru, mas a mamãe logo vem para resgatá-lo acompanhada por uma manada de elefantes…

A música de percussão, o uso de voz ou de efeitos sonoros conseguem preservar a intenção original dos autores da riqueza e da frescura do projeto, quebrando as distâncias geográficas e históricas. O espetáculo pode interessar público de todas as idades, especialmente as crianças, por mostrar o testemunho autêntico do homem como espécie num ambiente que ele precisa partilhar com outros animais, familiares ou hostis.

Direção: Meriam C. Cooper e Ersnest B. Schoedsack (EUA), 1927

Músicos: Michel Boiton e Christian Rollet – percussão

Jean-Luc Peilhon – clarinetas e harmônica

Bernard Gousset – som

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: LIVRE

CINERIR’ARFIsobre curtas-metragens de Buster Keaton, Charlie Chaplin, Laurel e Hardy (70’)

De Eisenstein, Tod Browning, Tarzan, Luiz Buñuel, ARFI adora flertar com o cinema mudo. Desta vez, o grupo escolheu os célebres curtas-metragens da idade de ouro do cinema burlesco. A paleta sonora de Le Workshop de Lyon vai ilustrar um concerto de cinema de humor, com o programa:

Malec Forgeron (The Blacksmith/Ferraduras Modernas), de Buster Keaton (1922) – Buster e um ferreiro brigam muito, até que o outro é levado para a cadeia. Buster, então, tem que ajudar vários clientes com seus cavalos e arrumar um carro, estacionado ao lado de um Rolls Royce!

Charlot boxeur (The Champion/O Campeão de Boxe), de Charles Chaplin (1915) – Para fazer um pouco de dinheiro, um vagabundo entra numa sala de treinamento de boxe para aceitar o emprego de sparing de um campeão. Ao ritmo do campeão que esgota os seus parceiros, o vagabundo logo vem a lamentar a sua audácia.

Voisin-voisine (The Neighbors de Buster Keaton (1921) – A história de Romeu e Julieta transferida para um cortiço, com Buster e uma de suas companheiras favoritas, Virgínia Fox, como dois namorados, cujas famílias se odeiam.

Oeil pour oeil (Big Business/Negócio de Arromba), de Laurel et Hardy (1929) – Vender árvores de Natal em pleno mês de agosto! Stan e Oliver tentam esta operação: escalada e avalanche de piadas!

Músicos: Jean-Paul Autin – saxophones alto e sopranino, clarinet baixa

Jean Bolcato – contrabaixo

Christian Rollet – bateria

Jean Aussanaire – saxofone

Thierry Cousin – som

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: LIVRE

CINESCLAFF’ARFI: Harry Langdon não é perigoso

Homenagem a um dos grandes nomes do pastelão do cinema mudo, um comediante contemporâneo de Charles Chaplin e Keaton: o grande Harry Langdon (1884-1944).

O rosto branco, o andar largado, olhos arregalados, como os de uma criança inocente na compreensão do mundo e das pessoas que nele vivem. Estas eram características do personagem que Harry Langdon imortalizou no cinema. Quando teve como diretores Arthur Ripley e Frank Capra, estrelou trabalhos que rivalizavam com Charlie Chaplin, Harold Lloyd e Buster Keaton. Seus melhores filmes foram O Homem Forte (1926),Vagabundo, Vagabundo, Vagabundo (1926) e Long Pants (1927). Comediante de primeira classe, seu personagem era único. Ele enfrenta a brutalidade, a ganância, a sedução como um pacifista veterano, um sábio maduro, ciente de seu direito. No entanto, ele é o contrário disso: um bebê grande que usa calças compridas. Diante do mundo, ele oferece sua bondade e gentileza desarmadas. Jamais se excede nos gestos, nas intenções: tudo é ao mesmo tempo desordem, espanto, confusão… até o delírio.

Músicos: Guy Villerd – saxofones
Christian Rollet – bateria
Eric Brochard – contrabaixo
Thierry Cousin – som

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: LIVRE

KOKO LE CLOWN: Cine-concerto sobre os filmes dos Irmãos Fleisher (60’)

Os Irmãos Max e Dave Fleischer são os criadores de Popeye, Betty Boop, Super-Homem e uns dos primeiros astros da animação. Antes mesmo do Gato Félix, o personagem Koko o Palhaço era muito popular no início dos anos 1920. Os Irmãos Fleisher praticaram o surrealismo sem nem mesmo conhecer a palavra, atuando a milhares de quilômetros de Paris. A animação lhes permitiu caminhar por toda sorte de anarquia burlesca, onde a magia toca o sonho e onde o absurdo é companheiro da comédia. Rever Koko hoje é constatar a extraordinária liberdade que marcou a arte dos dois irmãos na animação e no cartoon. Combinando música acústica e eletrônica, Jean Bolcato e Guy Villerd propõem, em uma hora de filmes, as pequenas histórias musicadas, entremeadas de canções e textos e, por que não, como convidada especial uma pequena aparição da Miss Betty Boop!

Músicos: Guy Villerd – saxofone tenor, laptop

Jean Bolcato – contrabaixo, voz

Thierry Cousin – som

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: LIVRE

NANOUK L’ESQUIMAU – Sobre o documentário de Robert Flaherty (1922), com o grupo Baron Samedi (70’)

O filme mostra o cotidiano de uma família de esquimós que vive na baía de Hudson. A luta pela sobrevivência, os deslocamentos constantes, a pesca, a caça às focas, o espectador compartilha a vida desta família do norte canadense. Este filme, que marca o nascimento do cinema documentário, teve um destino particular: foi filmado duas vezes (os 10 mil metros de película queimaram depois de algumas projeções) e teve que esperar dez anos antes de conhecer o sucesso. Muita coisa já foi escrita sobre o filme: ele deu início ao debate fundamental e teórico sobre a diferença entre documentário e filme de ficção, o primeiro devendo excluir toda forma de encenação…

Os músicos se colocaram questões similares, dentro do objetivo de criar uma relação entre som e imagem: como trabalhar respeitando cada fotograma, sem fazer manipulações sonoras emocionais e, ao mesmo tempo, aumentar o acesso à obra por um público atual, acostumado a filmes coloridos e com diálogos. Em NANOUK, a poesia e a beleza das paisagens são intensas. A verdadeira realidade é apresentada como aquilo que nos esmaga e nos mantém em suspense nesta aventura humana, a -50°.

Músicos: Michel Boiton – percussão, guimberé, hangs

Christian Rollet – percussão

Jean-Luc Peilhon – clarinetas, harmônica, flautas, harpas, arco polifônico

Bernard Gousset – som

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: LIVRE

Serviço: Cine-Concertos

Data: 28 de junho a 3 de julho de 2011

Local: Centro Cultural do Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul, Trecho 2, Lote 22)

Horários: Ver programação

Entrada Franca

Informações: 3310-7087

Classificação Indicativa: Livre.