Constanza Pascolato fala sobre a moda brasileira.

Constanza Pascolato. Foto de Renato Acha.

Renato Acha

Acha – Você é italiana e trabalha com moda e temos estes dois elementos presentes aqui hoje, o Capital Fashion Week com abertura na Embaixada da Itália.

Constanza – “Eu estou aqui por causa da moda, por conta da amizade que eu tenho com a Antonella La Francesca (Embaixatriz da Itália) que é uma mulher sedutora, maravilhosa, cheia de entusiasmo e apaixonada pelo Brasil. Eu fico contente porque o país recebeu nossa família nos idos de 1945 e eu estava falando para o Embaixador (Gherardo La Francesca) que eu nunca vi país mais generoso e que nunca quis botar os pés fora daqui, porque eu tive outras chances de voltar para o meu país ou então de ir morar com meu marido em Nova York e eu nunca quis“.

Acha – Vem algum projeto novo?

Constanza – “Eu acabei de escrever um livro no ano passado, agora eu acho que eu não tenho mais nada para falar. Eu quero é observar os outros porque eu gosto mesmo é de gente“.

Acha – Qual sua preferência dentre os novos designers de moda brasileiros?

Constanza – “Tem muita gente jovem que eu gosto muito, mas há uma pessoa em especial, o Melk Z-Da, marca de uma pessoa que trabalha no Nordeste, o Melk. O Pedro Lourenço é um absurdo de criatividade e todo mundo se assusta quando vê. Outro dia eu levei uma artista, que é uma das mais famosas do mundo, que se chama Marina Abramović. Ela estava no Brasil e nós fomos almoçar juntas e ela me perguntou: ‘O que você acha que eu tenho que ver?’. Daí eu falei: O Alexandre Herchcovitch você já conhece, então veja o Pedro. Então ela foi ao show room, viu, ficou impressionada e me ligou de lá e disse: ‘Você tinha razão’. Quer dizer, ele é um gênio também, mas tem uma multidão de gente que está começando hoje em dia“.

Melk Z-Da. Foto: http://www.melkzda.com/

Acha – O boom das semanas de moda no país é necessário?

Constanza – “É necessário porque o Brasil é gigantesco e cada zona tem um pólo de moda, como existe em Goiás. É preciso duas coisas para que a moda aconteça: uma, que é fundamental, é vender e a outra é a imagem. O que a moda de Goiás fez, não estou falando só de Brasília, foi começar pelo mais importante, saiu do artesanato e foi para a confecção e da confecção está se aperfeiçoando e começando a exportar em quantidade. Agora ela precisa de imagem e é isto que está acontecendo“.

Acha – O que a senhora pensa sobre a relação da moda com as artes visuais?

Constanza – “Você precisa ter uma cultural visual e de imagem. Você pode ser muito criativo e genial, mas se não possui uma cultura visual geral e de história não se destaca e depois deve estar interessado em tudo que for mais contemporâneo. Não que você vá atrás do que é a arte contemporânea porque é algo muito solto e hoje é interpretativa e tem o valor da atribuição. É um discurso meio complicado, mas o grande problema, além de atender, coisa que o Brasil já faz, que é o segundo passo, é ter mais cultura e a gente esbarra nesta coisa o tempo todo. A educação é a base de tudo e a cultura vem junto com ela. Toda vez que alguém me diz: ‘Qual é o seu maior desejo?’. Eu respondo: mais cultura, mais escolas, mais educação, por favor. E eu vou estar lá no céu olhando para vocês educadíssimos aqui e criando cada vez mais“.

Marina Abramović na performance "The Artist is Present", Museum of Modern Art, maio de 2010. Fonte: Wikipedia.