“Todos os Sons” fez um réquiem para Pedro Souto no CCBB.

29 de julho.

Por Renato Acha

Gaivota Naves. Fotos: Thiago Sabino.

Shows de Rock ao ar livre são a cara de Brasília há muitos anos. A cidade com amplos espaços abertos reprimidos pela Lei do Silêncio não recebe mais agitação nas quadras, mas uma celebração peculiar no sábado (29 de julho) mexeu com nossa memória afetiva. O gramado do CCBB recebeu o projeto Todos os Sons. Os convidados eram roqueiros de várias gerações. Eles estavam não só no palco quanto na plateia, muitos com seus filhos e netos. Era o dia de lembrar do baixista Pedro Souto, cuja recente passagem reuniu artistas para homenageá-lo com singeleza.

Pedro Rocan e o futuro no palco. Banda Rocan.

Cinco bandas brasilienses se revezaram: Galopardo, Eixo, Trampa, Rocan e Grogue.

Integrantes do Grogue e Chico Sant´Anna.

O movimento Grogue juntou os músicos Carlos Beleza, Marlon Túgdual, Guilherme Cobelo, Gaivota Naves, Tarso Jones e Marcelo Moura. Ainda participaram Stivenson Canavarro, Roberto Ramos, Hélio Miranda e Lucas Muniz.

Um time de peso e uma emoção atrás da outra. Não deu para segurar as lágrimas quando o ator Chico Sant´Anna leu o “Réquiem para Pedro Souto”, escrito por Guilherme Cobelo. A onipresente energia de Pedro Souto foi celebrada por seus companheiros de palco e de vida. Gaivota Naves, seu amor, renascida para além da voz, fez uma apresentação visceral.

Nasi. Ira!

A noite ainda reservou o revival do Ira! com um show que contou com sucessos da carreira cantados em coro. Elogiável a curadoria do “Todos os Sons”, que com a perspicaz homenagem ao nosso Rock, reafirmou que a cena se renova a cada dia, como nossas almas em transe.

“Réquiem para Pedro Souto”
por Guilherme Cobelo

“Uma estrela cadente rasgou o céu de nossos olhos
e se perdeu no espaço para o nosso espanto –
era uma pedra solta inflamada incandescente,
um anjo de fogo iluminando a cidade-fantasma dos nossos sonhos:

Pedro, solto, vinte e três anos, infinito agora,
sobrevoando os pensamentos que se elevam feito mãos
buscando alcançar o rastro de onde quer que esteja

– irmão solar, filho do sol, amante total –;
apenas se inicia o rumo dessa história, a longa travessia
às margens da saudade na qual a gente se demora.

Está por vir o dia em que nos encontraremos
sobre o dorso cristalino dos campos de esmeralda –
os caminhos são os mesmos; outras, são as curvas.

Muito além de tudo, o som ainda faz-se ouvir:
são seus dedilhados longos ritmados,
são seus risos, gritos, cantos que à noite ouvimos
se passamos sob os prédios e atravessamos quadras

ou nos derretemos em longas geleias no ensaio de improviso:
derradeira viagem rumo ao desconhecido que reunirá as partes.
Feito música, a gente se entende feito música, meu amigo!

Há quem passe a vida inteira falando muito e dizendo nada.
Outros que pela brevidade, falaram pouco, mas disseram tudo.
Então, vou falar pra você: tá tudo do jeito que tinha de ser.

Vá em frente, nunca pare, jamais olhe para trás.
Voltaremos para casa no arrebol do fim dos tempos.
Entre rocks e lamentos, Pedro Grogue fique em paz.”

Banda Rocan.
Tarso Jones. Grogue.
Gaivota Naves.
Edgar Scandurra. Ira!
Daniel Scandurra. Ira!