A África em grande mostra no CCBB.

De 7 de agosto a 21 de outubro.

“Albert Badin” de Omar Victor Diop. Foto: © Omar Victor Diop – Courtesy MAGNIN-A gallery.

Grandes nomes das artes visuais africanas se reúnem em rara mostra que aporta no CCBB de 7 de agosto a 21 de outubro. Ex Africa é a maior mostra de arte contemporânea africana realizada no país com mais de noventa obras que revelam a história e o atual momento do continente expande sua rica e ancestral cultural em contraponto aos séculos de sofrimentos causados pela colonização e o tráfico negreiro.

“Genesis” de Kudzanai Chiurai. Foto: Courtesy Kudzanai Chiurai and the Goodman Gallery.

O público vai conferir esculturas, fotografias, instalações, performances, pinturas e vídeos assinados por vinte artistas, como nomes como o do ganês Ibrahim Mahama, que traz uma gigantesca instalação para o Pavilhão de Vidro, do provocativo retratista senegalês Omar Victor Diop, do fotógrafo e ativista zimbabuano Kudzanai Chiurai e de outros 15 artistas de oito países africanos se juntarão aos de dois brasileiros: o carioca Arjan Martins e o brasiliense Dalton Paula.

“Exchange for Life” de Ndidi Dike.

Arjan e Dalton possuem obras dedicadas à herança africana na cultura brasileira. Para isso, realizaram estudos no Brazilian Quarter, bairro localizado na capital nigeriana construído por brasileiros que retornaram ao continente após a abolição da escravatura, no final do século XIX.

“Beri Beri” de J. D. ‘Okhai Ojeikere.

O brasiliense Dalton de Paula, aliás, tem conquistado destaque internacional com seu trabalho que remonta à realidade dos afrodescendentes no Brasil. É, por exemplo, o único representante do país na edição deste ano do Trienal do New Museum, uma das maiores mostras de artes visuais de Nova Iorque.

Abdulrazaq Awofeso. Foto: Ayo Akinwande.

O curador Alfons Hug conta que o conceito da mostra vem da frase Ex Africa semper aliquid novi (da África sempre há novidades a reportar), cunhada há mais de 2 mil anos pelo escritor romano Caio Plínio. A Ex Africa é dividida em quatro eixos: Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais. “A interseção desses eixos mostra que o continente africano vive um contínuo e efervescente processo de renovação criativa e artística”, destaca.

“Geometry of the passing”de Youssef Limoud. Foto: Gunnar Meier photography.

Uma crítica ácida ao colonialismo e ao tráfico de escravos estão em Ecos da História, primeira parte da exposição. Nela, destaca-se uma instalação formada por objetos do tempo do comércio de escravos (algemas, ferros de marcar, moedas, mandados de captura). Assinada pela artista nigeriana Ndidi Dike, a obra propõe uma obscura viagem no tempo, época impiedosa, marcada pelo sofrimento humano e pela cobiça.

“Untitled Triptych (Code Noir)” de Leonce Raphael Agbodjelou. Foto: Jack Bell Gallery.

As obras sugerem ainda uma reflexão amarga sobre a relação entre a pobreza, o desemprego, as recentes migrações e aspectos relacionados aos tempos dos navios negreiros. Não deixam de lembrar as imposições de uma cultura religiosa ocidental e herança colonial, evidenciada na série de fotografias de Leonce Raphael Agbodjelou, artista do Benim. Em parte de sua obra, ele evoca o Code Noir, decreto em que a administração colonial francesa da África Ocidental regulava a escravatura.

Binelde Hyrcan. Foto: Video Stills Atelier Binelde Hyrcan.

Paisagens desoladoras, ordem e caos, modernidade e ruínas. Esses e tantos outros contrates das metrópoles africanas estão nas obras de O Drama Urbano. Um dos destaques vai para a videoinstalação Ponte City, nome de um arranha-céu no centro de Joanesburgo. Assinada pelos artistas Mikhael Subotsky e Patrick Waterhouse, a obra é composta por 12 janelas digitais que simulam a vista do edifício marcado por histórias de decadência e gentrificação.

“Dakar, 2017” de Guy Tillim.

Karo Akpokiere, nascido em Lagos (maior cidade da Nigéria e uma das maiores do mundo) assina ilustrações, com fortes elementos da cultura pop, que fazem uma sátira à miríade de anúncios publicitários que invadem diariamente a megalópole e refletem modismos, o mercado e suas desigualdades, a política e negociatas de toda natureza.

“Ex Votos F.” de Dalton Paula. Foto: Sé Galeria.

Cabelos trançados que lembram delicadas esculturas; retratos com ares ironicamente pomposos remetem a notáveis africanos que atuaram na Europa entre os séculos XVI e XIX. A força expressiva da estética corporal está nas fotografias, vídeos e instalações de Corpos e Retratos, recorte que traz os famigerados autorretratos do senegalês Omar Victor Diop e a série Hairdo Revolution (revolução do penteado), com fotografias em preto e branco do nigeriano J. D. Okhai Ojeikere.

“Lagos Drawings” de Karo Akpokiere.

Outro destaque do eixo Corpos e Retratos é a arte multifacetada do angolano Nástio Mosquito. Por meio de vídeos, performances, música experimental, instalações e poesia, o artista levanta questões em torno da fé, identidade, herança colonial, entre outros temas. “Para onde queremos ir? O que queremos construir?”, ele pergunta. “Não seja cool, seja relevante. E se conseguir ser cool de maneira relevante, melhor ainda”, diz. Na mostra ele apresenta uma videoinstalação da música Hilário.

“Bed, Hanging Ropes and Fridge” de Andrew Tshabangu. Foto: Gallery MOMO.

Do afrobeat de Fela Kuti, ao pop nigeriano, Explosões Musicais transforma uma das galerias de “Ex Africa” no “Clube Lagos”. Poder, sexo, riqueza e religião são temas habituais da música africana e ganham relevância nesta sala onde os clichês da world music dão lugar à autenticidade do Naija Pop. O New Afrika Shrine, de Femi Kuti, muito popular na cena nigeriana, também está entre os destaques.

“Inzilo Video” de Mohau Modisakeng.


Exposição Ex África
Data: De 7 de agosto a 21 de outubro
Local: CCBB Brasília (Setor de Clubes Sul – trecho 2 – Lote 22)
Horário: De terça à domingo, das 9 às 21 horas
Entrada franca.