A fotografia e o Cinema Novo pontuaram a noite de abertura do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

20 de setembro.

Por Renato Acha

Lauro Escorel. Foto: Renato Acha.
Lauro Escorel. Foto: Renato Acha.

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deu início ao que promete ser uma maratona que reafirma o forte teor político e social desta edição. O deleite visual da primeira noite de exibição provocou um estreito vínculo com a própria história do Cinema Brasileiro e da semana que apimenta a capital do poder.

O curta-metragem “Improvável Encontro”, de Lauro Escorel, abriu a noite de exibição hors concours. O cineasta construiu uma narrativa ao mesmo tempo singela e potente, apenas com o uso de imagens históricas dos então jovens Thomaz Farkas e José Medeiros.

Os cliques peculiares de Thomas Farkas em seus ensaios, descobertos posteriormente, enfatizavam que ele focava nos detalhes, enquanto a grande maioria dos fotógrafos estava atenta à inteireza de uma ampla paisagem. Já José Medeiros foi singular ao optar pela simplicidade. Suas trajetórias se encontraram na grande valorização que ambos davam à cultura popular.

A forma como a fotografia moderna brasileira passou a ser abordada nas décadas de 1940 e 1950 ganhou uma nova representação visual, homenageada com a competente direção de Lauro Escorel, que reconta um trecho da história com ares de poesia simples e magistral.

Equipe de "Cinema Novo". Foto: Celso Pires de Araújo.
Equipe de “Cinema Novo”. Foto: Celso Pires de Araújo.

Em seguida foi exibido o longa-metragem “Cinema Novo”, de Eryk Rocha. Um filme que funde depoimentos e imagens febris ao som de uma trilha sonora pulsante. O movimento que introduziu uma nova forma de se fazer Cinema e de se enxergar a realidade brasileira revive em uma sagaz pesquisa de imagens.

O diretor transcende a metalinguagem e não trata apenas de recontar a história. Eryk Rocha provoca reflexões acerca de acontecimentos que em muito se assemelham com a atual cena do Brasil. Olhar o passado se torna um alerta para o presente.

Ao conectar depoimentos de Nelson Pereira dos Santos, Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo César Saraceni, Glauber Rocha, Ruy Guerra, Walter Lima Jr, Gustavo Dahl, Orlando Senna e outros grandes nomes do Cinema Novo, não produziu um mero documentário. Ascendeu a poesia ao patamar do protesto político.