Por Renato Acha

Fotos: Jacqueline Lisboa.

O Festival Bananada veio em 2017 com ares de renovação em sua programação que primou pela diversidade e sonoridades múltiplas. Brasilidade e ousadia hipnotizaram o público generoso e aberto à rica alquimia.

A afirmação das identidades de raça, gênero, pautas sociais, feministas e políticas permearam o line up repleto de protagonismo em diálogo direto com a plateia também multifacetada, presente na casa goiana de Oscar Niemeyer, espaço cultural que cai como uma luva para a elogiável produção do evento, com curadoria de Fabrício Nobre.

Para além da estética do rock, o festival já flertava com a cena musical brasileira contemporânea. Performances e discursos relevantes deram voz a questões que estão em pleno debate no país. “Esta noite a gente celebra a diversidade e o direito de ser homossexual no Brasil”, declarou, Liniker, plena e efusiva. A visceral presença da vocalista do Teto Preto, Laura Diaz aka Carneosso, nua e coberta em plástico transparente, incendiou o público com “gasolina neles”. A política foi a tônica de vários shows onde o #foratemer foi repetido como um mantra de resistência. “É muito bom poder cantar e sentir esta energia boa aqui. A gente esquece esta sujeira toda que está acontecendo no país”, convocou Céu.

Acha Brasília destaca algumas atrações da 19a. edição do Festival Bananada:

A sexta (12) trouxe a rapper norte-americana Akua Naru, estudiosa do “her-story”, que ganha uma fusão de soul, jazz, hiphop, reggae e rocknroll, com letras engajadas. Ela demonstrou nítido envolvimento com a cultura brasileira, que conheceu em 2014 ao fazer turnê com Rael da Rima e Emicida. No show usou todo o seu português e se conectou com o público: “Estou muito feliz de estar aqui em Goiânia. Gostaram do meu português? Are you feeling the vibration?”

Céu trouxe os seus trópicos eletrônicos, os bits de sua voz ecoaram no concreto de Niemeyer. Em casa, ocupou mais que o palco e manifestou sua insatisfação política, soltou o corpo e a voz ao público presente que cantou suas músicas em coro. Para além de Tropix, seu último disco vencedor do Grammy, revisitou sua carreira com sucessos de todos os tempos.

O BaianaSystem transcendeu o espaço e tempo com sua antropofagia que a tudo devora com maestria. Aos primeiros acordes da guitarra e fortes batidas eletrônicas, uma multidão correu em direção ao palco. Regidos por Russo Passapusso, um Ogan que pôe na roda axé, samba-reggae, ijexá, kuduro com um soundsystem contagiante, o publico foi ao êxtase de um transe.

No sábado (13) o festival que se abriu para atrações nacionais e internacionais e se aqueceu a banda goiana Carne Doce. A vocalista Salma Jô usou seu corpo como instrumento de empoderamento feminista, com letras potentes e sensualidade. Acompanhada de uma banda afiada, cantou de camisola, como se no quarto de casa estivesse. Goiânia a recebeu de braços abertos com um séquito de milhares de pessoas que entoaram suas canções com força.

Liniker e os Caramelows vêm com o lançamento da turnê Remonta e uma performance visceral de uma artista dona do corpo e do poder de incorporar divas de todas as épocas. Um canto que aborda o amor e o gênero com doçura. Uma turnê reafirma a maturidade de quem faz bem mais do que música: dança, empoderamento e teatro estão todos ali para arrebatar a plateia com emoção.

Tulipa Ruiz derrete nosso coração a cada apresentação. Desta vez fez um passeio deleite por sucessos de sua carreira em um show fino e delicado. O momento ternura foi quando Tulipa chamou Liniker para subir ao palco e cantarem juntos “Do Amor” e “Só sei dançar com você”. Como um ritual, canto coletivo e emoção reinaram em transe hipnótico.

O domingo (14) teve como destaque o show do Teto Preto. Não bastasse a forte presença sonora do grupo, a performance de Laura Diaz aka Carneosso incendiou o palco com uma energia potente que fez desta uma das melhores surpresas da noite. Bateu forte, provocador, pulsante, Teto Preto é a prova que dá para dançar e refletir sobre arte e política sim, com com corações pulsantes, metralhados pela performance vivaz de Laura Diaz e sua poderosa banda.


Karol Conka era muito aguardada e não havia espaço para tanta gente dançando junto com a cantora que fez o show ​impecável ​ao lado do​ DJ Hadji​. A rapper curitibana dominou tudo​, com suas rimas fortes e certeiras.

O belo encerramento do festival ficou por conta do baile Boogie Naipe de Mano ​B​rown​. O rapper, e agora soul man, lança seu primeiro álbum solo que se nutre de influências do funk norte-americano, da black e soul music. Acompanhado da poderosa voz de Lino Krizz, a guitarra de Duani e uma banda de peso, contou com a participação especial e surpresa de Seu Jorge. O público dançou e pôde conhecer um outro lado de Mano Brown, com letras que falam de amor, uma postura solta e dançante no palco. O entrosamento de Brown, músicos e convidados era nítido e contagiou o público que aproveitou cada minuto desse espetáculo musical até o início da madrugada de segunda-feira, com uma versão de “​I want you” d​e​ ​M​arvin ​G​aye​.