Cinema e Meio Ambiente se encontraram na 18º edição do FICA 2016.

De 16 a 21 de agosto.

Por Renato Acha

Fotos: Aline Arruda.
Fotos: Aline Arruda.

O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) foi realizado de 16 a 21 de agosto, na Cidade de Goiás, fundada do século XVIII, após investidas de bandeirantes que culminaram na exploração de minas de ouro e a extinção dos índios goiases.

O legado histórico de destruição parece se redimir em parte, pelo viés cultural, com a realização do Festival, cuja programação prima pela exibição de filmes que advertem e denunciam sobre fatos que afetam diretamente o meio ambiente do planeta. A mostra sobretudo amplia o olhar, e estende o foco para as relações humanas. O cinema ganha voz em várias línguas, em um panorama amplo que já chega a 18º edição como um evento referencial para a América Latina e o mundo.

Além das exibições da Mostra Competitiva, foram apresentadas a 14ª Mostra ABD Cine Goiás, Mostra Paralela de Cinema Brasileiro, Mostra de Lançamento Nacional, a VIII Mostra Infantil – FICA Animado, Mostra UEG FICA e a Mostra de Vídeos Escolares – Se Liga no Fica. O intercâmbio se ampliou com o Fórum de Cinema, Oficinas e Minicursos de Meio Ambiente, Laboratórios (ABD Cine Goiás), FICA Filme Market (GO Filmes), Encontro Goiano de Cineclubistas, Secima, FICA na Comunidade.

Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.
Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.

Música

A programação musical percorreu a cidade como a apresentação da Orquestra de Câmara de Goiânia, Orquestra Filarmônica de Goiás, shows de artistas de Goiás, do Jongo Malungos de Angola, de Maria Eugênia, Daniel Jobim, Carne Doce e o encerramento que trouxe “Um encontro inesquecível”, com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo.

A iraniana Maryam Kashkoolinia, diretora de "Vaghti Bacheh Bodam".
A iraniana Maryam Kashkoolinia, diretora de “Vaghti Bacheh Bodam”.

Convidados

Diversos convidados aterrisaram na Cidade de Goiás: Lauro Escorel (Presidente do júri), o fotógrafo e diretor de arte Adrian Cooper, os representantes da Green Film Network, Mário Branquinho, José Vieira Mendes e Eleonora Inusa entre outros. Dentre os filmes da competição, participaram do festival, a japonesa Momoko Seto (“Planet Sigma”, produção francesa que recebeu o Prêmio de Curta-Metragem Audi em Berlim), do Irã, Maryam Kashkoolinia (“Vaghti Bacheh Bodam”), da Índia, Haoban Paban Kumar (“Phum Shang”), os belgas Bram Van Cauwenberghe (“Remember Your Name, Babylon”) e Christopher Yates (“Reveka”), o austríaco Georg Tiller (“White Coal”), da Alemanha, Felix Röben (“Coal India”) e do Brasil, Marcelo Munhoz (“A Grande Nuvem Cinza”).

Ale Abreu, "O Menino e o Mundo" e Luiz Bolognesi, de "Amor e Fúria".
Alê Abreu, diretor de “O Menino e o Mundo” e Luiz Bolognesi, de “Uma História de Amor e Fúria”.

Tadeu Jungle (“Rio de Lama”), Luiz Bolognesi (“Uma História de Amor e Fúria”), Alê Abreu (“O Menino e o Mundo”) e Fábio Assunção (“Entre Idas e Vindas”) acompanharam as exibições de seus filmes que integraram a Mostra Paralela do Cinema Brasileiro.

publico 2 Foto Aline Arruda
Contras

Vale ressaltar que o Festival poderia aprimorar a estrutura, principalmente no que concerne à qualidade das projeções e a existência de cadeiras extremamente desconfortáveis. O movimento desorganizado de estudantes que frequentaram algumas sessões, por vezes sem ver os filmes em sua inteireza, causou um rebuliço desnecessário, que certamente atrapalhou o público ali presente.

Durante a cerimônia de premiação, a Secretária de Educação, Cultura e Esporte, Raquel Teixeira, garantiu que vai trabalhar em prol de mudanças do formato do Festival e que em breve, o público vai receber o novo Cine Teatro São Joaquim, em reforma desde 2015. A nova casa do FICA deve contar com um programa de audiovisual em parceria com a UFG, além de equipamentos adequados para projeções com excelência.

O fato desta edição ter ocorrido em simultaneidade à realização dos Jogos Olímpicos do Rio influenciou na quantidade de visitantes à cidade. A estrutura sonora do palco situado no Coreto também merece atenção na próxima edição, assim como o excesso de copos de água em embalagens plásticas distribuídos para os participantes durante a programação.

debate FICA Foto Aline Arruda
Prós

Dos pontos positivos, o FICA tem o poder de arregimentar um “tour de force” que reuniu críticos, diretores, especialistas em meio ambiente, jornalistas, produtores e amantes de cinema. A Cidade de Goiás se reafirma como um ponto de troca de ideias em ricos debates.

Momoko Seto, diretora de "Planet Sigma".
A japonesa Momoko Seto, diretora de “Planet Sigma”.

A curadoria fez uma excelente seleção que reuniu 22 produções, doze estrangeiras e dez brasileiras. A participação internacional trouxe títulos de países como França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Índia, Irã e México. Dentre os dez brasileiros, quatro filmes são goianos. Além de Goiás, participam películas dos estados do Maranhão, Paraná, Pernambuco, Ceará e São Paulo.

Professor Lisandro Magalhães Nogueira (Coordenação Geral)  e Daniel Calil, diretor de "E o Galo Cantou".
Professor Lisandro Magalhães Nogueira (Coordenação Geral) e Daniel Calil, diretor de “E o Galo Cantou”.

Do legado para a comunidade local, é digno de nota o projeto “Fica na Comunidade”, que neste ano desenvolveu o “Se Liga no Fica”, com oficinas de produção audiovisual nas escolas públicas da cidade. O resultado destas oficinas apresentou um filme curta-metragem que foi exibido durante a programação do festival. O primeiro Concurso de Produção de Texto do festival, com o tema: “O que fica do Fica?” vai envolver alunos da rede estadual de educação, que após e evento, passam a produzir textos sobre suas impressões e vivências. O prêmio para os dez finalistas será uma viagem ao Rio de Janeiro para conhecer o Museu do Amanhã. A cerimônia de premiação será no dia 30 de setembro, no Palácio Conde dos Arcos.

premiados FICA Foto Aline Arruda
Premiação

O Festival distribuiu troféus e R$ 280 mil em prêmios. A cerimônia de premiação, ocorrida no domingo (21 de agosto), consagrou o documentário “La Supplication”, de Luxemburgo. O filme trata do mundo de Chernobyl através de relatos de testemunhas que sobreviveram à tragédia. O diretor Pol Cruchten levou o Troféu Cora Coralina e mais R$ 70 mil.

Mario Branquinho, da Green Film Network, representou o diretor de "La Supplication", ao lado da Secretária de Educação, Cultura e Esporte, Raquel Teixeira.
Mario Branquinho, da Green Film Network, representou o diretor de “La Supplication”, ao lado da Secretária de Educação, Cultura e Esporte, Raquel Teixeira.

O Prêmio de Melhor Média-Metragem foi para “Phum Shang”, produção indiana dirigida por Haoban Paban Kumar, revela a luta entre o governo do estado indiano de Manipur e milhares de pescadores que viviam em casas flutuantes feitas de biomassa, que desalojados e tiveram seu modo de vida prejudicado.

Fernando Gabeira e  o diretor indiano Haoban Paban Kumar, de "Phum Shang"
Fernando Gabeira e o diretor indiano Haoban Paban Kumar, de “Phum Shang”

O Prêmio de Melhor Longa-Metragem foi arrebatado pelos diretores belgas Marie Brumagne e Bram Van Cauwenberghe, pelo documentário “Remember Your Name, Babylon”, que aborda a vida de imigrantes do norte da África que vivem no sul da Espanha.

Os belgas Bram Van Cauwenberghe e Marie Brumagne, de "Remember you name, Babylon".
Os belgas Bram Van Cauwenberghe e Marie Brumagne, de “Remember you name, Babylon”.

Confira a lista dos vencedores das mostras:

Mostra Competitiva Fica 2016:

Melhor filme do Júri Popular – Troféu Luiz Gonzaga Soares (R$ 10 mil): Taego Ãwa

2a Melhor Produção Goiana – Troféu José Petrillo (R$ 35 mil): E o Galo Cantou

Melhor Produção Goiana – Troféu João Bennio (R$ 50 mil): Taego Ãwa

Melhor curta-metragem – Troféu Acary Passos (R$ 35 mil): La Petit Pousse

Melhor média-metragem – Troféu Jesco Von Putkamer (R$ 35 mil): Phum Shang

Melhor longa-metragem – Troféu Carmo Bernardes (R$ 45 mil): Remember Your Name, Babylon

Melhor obra – Troféu Cora Coralina (R$ 70 mil): La Supplication

premiados mostra ABD Cine Goias Foto Aline Arruda
14ª Mostra ABD Cine Goiás:

Prêmio de melhor ator (R$ 7500): Jonatas Borges, pelo filme Jonatas

Prêmio de melhor atriz (R$ 7500): Mariana Nunes, pelo filme Blaxploitation: A Rainha Negra

Prêmio de melhor trilha sonora original (R$ 7500): Sankirtana, pelo filme Reincidência

Prêmio de melhor som (R$ 7500): Vasconcelos Neto, por sua participação diversificada em três produções Tereza Bicuda, Leblon Marista e Jonatas

Prêmio de melhor montagem/edição (R$ 7500): Fabrício Cordeiro e Luciano Evangelista, pelo filme Leblon Marista

Prêmio de melhor direção de fotografia (R$ 7500): Rei Souza, pelo filme Muitos Me Seguem , Mas Só Deus Me Acompanha

Prêmio de melhor direção de arte (R$ 7500): Úrsula Ramos, pelo filme E O Galo Cantou

Prêmio de melhor roteiro (R$ 7500): Getúlio Ribeiro, pelo filme: Jonatas

Prêmio de melhor direção (R$ 12 mil): Daniel Nolasco, pelo filme Febre da Madeira

Prêmio Martins Muniz de melhor filme experimental (R$ 12 mil): Silêncio Não Se Escuta, de Rochane Torres e Tive Fome Colhi Sede, de Rafael Freire

Prêmio Eduardo Benfica para o melhor filme documentário (R$ 12 mil): Febre da Madeira, de Daniel Nolasco

Prêmio Fifi Cunha de melhor filme de animação (R$ 12 mil): Vida de Boneco, de Flávio Gomes de Oliveira

Prêmio Beto Leão para o melhor filme de ficção (R$ 12 mil): Jonatas, de Getúlio Ribeiro

Marcela e Henrique Borela, diretores de Taego Ãwa.
Marcela e Henrique Borela, diretores de Taego Awa.

Se Liga no Fica:

Escola Lar São José, com o filme Plantar, cuidar e colher. Prêmio: 1 câmera fotográfica

Colégio Estadual Dom Abel, com o filme Esquadrão Cerrado. Prêmio: 1 projetor de vídeo

Escola Estadual Mestre Nhola, com o filme Água que te quero água. Prêmio: 1 kit GoPro

plateia do FICA Foto Aline Arruda

O repórter viajou a convite da produção do evento.