Gabriela Bilá tem uma sensível relação com as cidades, tecnologias e memórias do futuro. A arquiteta brasiliense precocemente alçou altos voos desde os tempos em que estudou Arquitetura na UnB.
No Brasil se notabilizou por O Novo Guia de Brasília e projetos como Teleport City (Museu Nacional da República e Rumos Itaú Cultural) e na direção de arte do Escala Brasília (Espaço Cultural Lúcio Costa). Daqui migrou para o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e antes de concluir o mestrado por lá, foi convidada a integrar a Bienal de Veneza com seu grupo.
O Acha Brasília conversou com a arquiteta multimídia e pesquisadora sobre o futuro das cidades no @mitmedialab sobre “With(in)“.
“Basicamente a ideia era observar os rituais ligados à comida e a própria organização das mesas das pessoas e assim tentar entender as dinâmicas urbanas dessas comunidades.”
O projeto concerne à conexão em multiplataformas e inclui uma exposição, instalação, exploração qualitativa e narrativa visual. Surgido a partir do MIT Media Lab City Science, mergulha na visão imersiva nos mundos de três mulheres em três assentamentos: Eva em Guadalajara (México), Gihan no Cairo (Egito) e MamaG em Port Harcourt (Nigéria). “Através da narrativa visual experimentamos atividades do mundano ao surreal, desde o profundamente significativo até o inconsequente.” Revela Bilá.
“Visitamos os bairros marginais e centros comunitários de Guadalajara, as favelas verticais e ruas movimentadas do Cairo, e as pequenas casas e mercados lotados de Port Harcourt. Na vida de cada indivíduo, examinamos o micro e o macro, desde o cuidado gentil de fixar o cabelo todas as manhãs até as ondas culturais de feriados, cerimônias religiosas e funerais. Nesses lugares, longe dos nossos, aprendemos e investigamos, nos reunimos e ouvimos, na esperança de entender melhor a complexidade do mundo ao nosso redor e novas possibilidades de como viveremos juntos no futuro.” Detalha.
A tese foi um braço de uma pesquisa mais ampla que decorreu naturalmente a ambas as visões de vanguarda tanto da artista, quanto do grupo e da Bienal, o diálogo certo da parte pelo todo, metonímia do futuro possível e nada ilusório.
“Um dos grandes fenômenos da urbanização atual são as ‘favelas’ (esse termo é mais próprio para o RJ), ou comunidades autoconstruídas, sem planejamento ou infraestrutura governamental” Alerta Bilá.
“Meu grupo de pesquisa é o City Science (Ciência da Cidade), e desenvolvemos tecnologias para pensar e propor soluções para o futuro das cidades.” Fala bem relevante para Brasília, já em ruínas com seu entorno que remete à ocupações que pouco se diferem de outras cidades.
“As Nações Unidas estimam que até 2050 68% da população mundial estará vivendo nessas condições de assentamentos informais. Se você olhar a América Latina, África e Ásia, as zonas de cidades planejadas já são minoria. E o meu grupo de pesquisa desenvolve possíveis tecnologias que podem ser futuramente utilizadas pelos habitantes em locais como esses.”
“O curador da Bienal de Arquitetura de Veneza convidou meu grupo para expor nossa pesquisa sobre esse assunto lá, e meu orientador me pediu para criar uma instalação para abordar o tema de uma forma artística. Assim eu acabei usando a oportunidade como minha tese de mestrado.”
Sobre o processo além-mar conta: “Contactei ONGs e universidades com quem temos colaborado para eles me colocarem em contato com uma chefe de família que estivesse interessada em participar do estudo. Passei duas semanas com cada uma destas mulheres acompanhando todo o processo” que consistia em adquirir ingredientes, cozinhar e comer em um dia de trabalho e em um dia de descanso. Eva trouxe Lomas del Centinela em Guadalara (Mexico), MamaG no Flyover Market em Port Harcourt (Nigeria) e Gihan em Ezbet Khairallah no Cairo (Egito).
Gabriela Bilá e seu coletivo reverberam temas como design, arte, antropologia e gastronomia para desenhar dimensões do futuro de outrora repleto de dívidas históricas onde instituições de renome, antes tarde do que nunca, abrem espaço para reparações sem fronteiras.
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