I Festival de Land Art de Brasília une arte e natureza no Jardim Botânico e CCBB.

Alagados, de Jimmy Christian. Foto: Jimmy Christian.

Renato Acha

O I Festival de Land Art de Brasília será aberto neste fim de semana com duas ações, a primeira acontece no sábado (2) às 16 horas no CCBB, quando o alemão Thomas Neumaier inaugura a “Travelling Forest”. No domingo (3) às 11 horas é a vez do público brasiliense conferir em primeira mão as obras de onze artistas e um coletivo que vão ocupar o Jardim Botânico de Brasília de junho a setembro.

O Festival é antecedido por uma residência artística que teve início no domingo (27). Trata-se de um processo imersivo em que os artistas montam seus trabalhos e têm a oportunidade de interagir tanto com o entorno quanto com a equipe formada por voluntários, produção e curadoria. Os artistas que vieram de fora da cidade se hospedam na ESAF, localizada ao lado do Jardim Botãncio, junto aos voluntários de cursos como Artes Visuais e Museologia. Um caldeirão cultural que mistura Brasil, Alemanha, Bélgica, Holanda e Uruguai em uma experiência única que deve deixar saudades.

Esta união se dá em torno da Land Art, também conhecida como EarthWork, algo como Arte Ambiental ou Obra/Trabalho da Terra. O espaço está aberto a conquistas, contrapontos, modificações ou hibridismos que denotam uma experiência sinestésica que existe graças a presença da arte como veículo que une fruidor e natureza.

Marco Zero, de Mário Fontenelle. Foto: Arquivo Público do DF. Divulgação.

Brasília nasceu de uma obra de Land Art, vide o Marco Zero, primeiro traço na paisagem do que seria a nova capital, duas linhas que se cruzam e representam os eixos monumental e rodoviário. Esta imagem ficou celebrizada no clique aéreo de Mário Fontenelle, um raro registro de duas linhas que cruzam a vegetação e um ícone do início da construção da cidade.

Las Vegas Desert, de Walter de Maria (1969). Divulgação.

Teria Brasília inspirado Walter de Maria a criar Las Vegas Piece em 1969? Uma linha que rasga a terra por seis milhas no Deserto de Tula, em Nevada. Ou Richard Long em Walking a Line in Peru (1972)?

Walking a Line in Peru, de Richard Long (1972). Divulgação.

A ideia de executar a mostra na capital nasceu da estreita relação que a cidade tem com a natureza e também com o fato dela se ver diante de um crescimento desordenado que caminha em passos largos na contramão da sustentabilidade, palavra da moda em tempos de Rio+20.

A ideia teve início quando Patrícia Bagniewski fez mestrado em vidro no Japão, ocasião em que integrou uma mostra coletiva de Land Art que marcou sua trajetória. No retorno ao Brasil, se vê diante de um forte desejo de realização de uma experiência ainda inédita na América do Sul. A parceria com Renato Acha na curadoria gerou o projeto que se materializa após mais um ano de pesquisa e produção. A dupla convidou Thomas Neumaier e o brasileiro Elyeser Szturm e selecionaram os outros nove artistas e um coletivo por meio de Chamada Pública.

Travelling Forest, de Thomas Neumaier (localizada no Centro de Visitantes do JBB). Foto: Thomas Neumaier.

Thomas Neumaier participa do Festival com a obra “Travelling Forest”, em exposição no Jardim Botânico de Brasília e no CCBB.  São peças portáteis de madeira que são transportadas pelo mundo inteiro, e pedem a interação do público que pode, ao final da exposição, levar consigo uma porção da floresta viajante, contanto que depois sejam enviadas fotos que registrem a interação da pessoa com a peça em qualquer lugar. Thomas Neumaier ministrará palestra durante sua residência em Brasília, no período de 27 de maio a 6 de junho de 2012.

Elyeser Szturm apresenta Camuflagem, parte de uma série de intervenções intitulada Ossos de Flores. São vassouras de palha invertidas que remetem a uma flor do cerrado, o Chuveirinho ou Pepalanto. A ideia é criar um tapete de vassouras que ressalte as canelas de ema enegrecidas pelo fogo. Na paisagem em torno do Mirante as vassouras vão se camuflar em meio à vegetação. Uma imagem de dissimulação. Afinal, arte é o que aparece ou o que parece ser?

André Ventorim criou uma série de caixas vermelhas, intituladas Dispositivos de Segurança contra Incêndio. São peças que se espalham em meio a uma trilha e criam uma imagem de alerta e emergência em relação ao fogo na reserva ambiental. Dentro das caixas há garrafas de água, líquido escasso na época da seca, quando o cerrado é assolado por constantes incêndios.

Geert Vermeire apresenta a “Biblioteca de caminhadas” ao lado de uma árvore anciã localizada na entrada da Casa de Chás. Nas prateleiras há recipientes de vidro, onde o público vai poder compartilhar experiências, objetos e desejos da memória coletiva.

O amazonense Jimmy Christian recria a floresta de Balbina (situada em Presidente Figueiredo, a 180 km de Manaus) no Lago dos Pinheiros em Alagados. A representação de uma floresta devastada pela alagação é uma imagem estarrecedora que revela o que restou do bioma, galhos retorcidos que emergem da água.

Alagados, de Jimmy Christian. Foto: Jimmy Christian.

João Queirolo provoca um trompe-l’œil, técnica que envolve imagens extremamente realistas para criar a ilusão de óptica que aparecem os objetos retratados em três dimensões. Queirolo apresenta uma fotografia em grande formato capturada no mesmo local em que será exposta, e assim utiliza o potencial da linguagem para provocar no espectador um diálogo interno e uma atitude contemplativa, em um jogo que confunde o registro e a realidade.

Karina Dias traz cubos que refletem as imagens do entorno, colocados em série a partir de uma trilha em direção ao cerrado, em movimento transversal. A conexão entre obra, espaço e o olhar do fruidor cria um elemento terceiro que se modifica a cada passo, uma imagem em transgressão que opõe a tortuosidade da vegetação à precisão geométrica.

Nuara Vicentini cria uma amálgama entre partes de móveis antigos e troncos do Campo dos Pinheiros, com a inserção de partes da mobília nas árvores, em encaixes perfeitos que criam uma intervenção fitomorfa. A ideia é de uma forma simbólica, devolver ao meio ambiente o que dela foi retirado e nesse hibridismo gerado pela intervenção, enaltecer a dicotomia entre natureza e ocupação humana.

Rodrigo Paglieri vai enterrar seis caixas de som amplificadas que irão tocar o jazz dos anos 1950 numa vitrola da mesma década. A obra Topofonográfico trata de um tempo topográfico de uma memória física da terra. Sons que remetem a outros tempos soam de dentro da terra das entranhas do planeta. A memória geológica da terra se funde à vida e à história do planeta.

Samuel Guimarães apresenta Um Lugar ao Sol, intervenção que consiste em um bloco de terra compartimentada que cria um grande quadrilátero na entrada do Jardim Botânico, em uma abordagem que contesta o fato de um bem imóvel como a terra se tornar uma mercadoria negociável, perecível e disponível ao poder de compra.

Túlio Pinto imprime uma narrativa cromática, escultórica e gráfica em Velame (conjunto de todas as velas existentes a bordo de uma embarcação) . Trata-se de instalação composta por blocos de concreto que se conectam, por meio de cabos de aço, a uma estrutura de tecido laranja, que flutua em meio ao bosque e o reconfigura como um poema visual sob a paisagem.

O coletivo Tuttaméia, formado por Fernando Aquino Márcio Motta, apresenta a obra Vento, uma instalação sensorial com sinos de ventos de metal, que se destacam no cenário e agregam ao ambiente um novo elemento sonoro, tridimensional, imersivo e orgânico, onde o espectador se coloca dentro da obra.

O projeto conta com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), e o apoio do Jardim Botânico de Brasília, CCBB/DF, ESAF (Escola de Administração Fazendária), Ilha Design e Acha Brasília.

Vento, de Tuttaméia. Divulgação.

Serviço: Galeria Aberta – I Festival de Land Art de Brasília

Data: De 4 de junho a 30 de setembro de 2012
Local: Jardim Botânico de Brasília (SMDB Conjunto 12 – Lago Sul)
Horário de funcionamento: De terça à domingo das 9 às 17 horas
Ingresso: R$ 2,00

“Travelling Forest”, de Thomas Neumaier
Data: De 3 de junho a 30 de setembro de 2012
Local: CCBB Brasília (Setor de Clubes Sul – Trecho 2 – Lote 22)
Horário de funcionamento: De terça à domingo das 9 às 21 horas
Acesso Livre

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