O mestre Jean-Luc Godard ganha retrospectiva no CCBB.

O Desprezo. Divulgação.
O Desprezo. Divulgação.

A mostra Godard Inteiro ou o Mundo em Pedaços chega ao CCBB de 21 de outubro a 30 de novembro. Trata-se de uma retrospectiva completa com todas as obras do diretor. Jean-Luc Godard é autor de um cinema que reflete sobre as contradições e os dilemas da sociedade ocidental no século XX. Seu nome tornou-se adjetivo que designa um tipo de cinema inventivo, que experimenta e amplia os limites da linguagem cinematográfica.

A mostra contempla a produção do cineasta em seus mais de 60 anos de carreira, com a exibição de 104 obras do diretor vindas da França, entre longas, médias e curtas-metragens, séries televisivas, filmes publicitários e vídeo-cartas, que exploram os temas mais variados. Serão exibidos desde os primeiros curtas do diretor, ainda nos anos 1950, como ‘Operátion Béton’ (1954) e ‘Une femme coquette’ (1955), passando pela fase do Grupo Dziga Vertov, até seus filmes mais recentes, como ‘Notre musique’ (2004), ‘Film Socialisme’ (2010) e ‘Adieu au langage’ (2014).

A programação vai apresentar duas raridades da filmografia do cineasta: uma reconstituição que Godard realizou do longa-metragem ‘esquecido’ “Salve a vida (quem puder)” e um episódio abandonado de “Seis vezes dois” (série com 12 programas). As duas obras foram exibidas pouquíssimas vezes e serão trazidas pelo professor inglês Michael Witt, diretor do centro de pesquisa em filmes e cultura audiovisual da universidade de Roehampton, Londres, autor de Jean-Luc Godard, Cinema Historian (Indiana University Press, 2013) e coeditor de Jean-Luc Godard: Documents (Éditions du Centre Pompidou, 2006). Além de apresentar os filmes, Witt também fará uma palestra no CCBB.

“Ao trazer obras nunca exibidas no país, a homenagem pretende inaugurar uma nova perspectiva de debate nacional em relação à filmografia do cineasta, referência para diretores de várias gerações e nacionalidades”, afirma o curador da mostra, Eugenio Puppo.

O Demônio das Onze Horas.
O Demônio das Onze Horas.

Paralelamente à exibição dos filmes, a mostra também realiza, nos dias 5 e 6 de novembro, curso sobre o cinema godardiano. “Godard e o futuro do cinema” pretende pensar o futuro da sétima arte segundo Godard e será ministrado por João Lanari, cineclubista, crítico, um dos fundadores da revista Cine-Olho e professor de cinema da UNB desde os anos 1980.

Já no dia 14 de novembro, haverá mesa de debate, contando com a presença de Pablo Gonçalo, professor da UNILA e um dos curadores do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, além de crítico e colaborador da Revista Cinética e de Alex Vidigal, especialista em Artes Visuais: Cultura & Criação e mestre pela Universidade de Brasília com a dissertação “A Representação da Violência no Faroeste Italiano”.

Viver a Vida.
Viver a Vida.

A mostra também lançará um catálogo de 304 páginas contendo textos inéditos e um artigo crítico para cada uma das 104 obras de Godard. Além de pesquisadores brasileiros, contribuíram para o livro especialistas internacionais, como Cyril Beghin, integrante do comitê de redação dos Cahiers du Cinéma; David Faroult, cineasta e professor de pesquisa em cinema na Université Paris III; Dario Marchiori, conferencista em História das Formas Fílmicas na Université Lyon 2, e a professora e autora Céline Scemama.

O catálogo contará ainda com seis ensaios escritos por Alain Bergala, professor da Université Paris III – Sorbonne Nouvelle, colaborador da revista Cahiers du Cinéma e autor de Jean-Luc Godard par Jean-Luc Godard e Godard autravail; Raymond Bellour, professor da Université Paris III – Sorbonne Nouvelle e coautor de Jean-Luc Godard: Son + Image; Nicole Brenez, autora do livro Cinéma/Politique; Mateus Araújo, o professor e doutor; Michael Witt, autor de Jean-Luc Godard, Cinema Historian e Ruy Gardnier, o professor e crítico de cinema.

Uma Mulher é uma Mulher.
Uma Mulher é uma Mulher.

Jean-Luc Godard passou a infância e a juventude na Suíça. Em 1952, tornou-se colaborador da revista francesa Cahiers du Cinéma e, durante este período, realizou cinco curtas-metragens.

No final da década de 1950, ao lado de François Truffaut e Claude Chabrol, Godard formou o triunvirato central da Nouvelle Vague, movimento cinematográfico francês que mudou a história do cinema. Em “Acossado” (1959), seu primeiro longa-metragem, já é possível observar procedimentos fundamentais em toda sua obra, como a desconstrução do enredo tradicional.

Ao final da década de 1960, após o movimento de maio de 1968, junto ao intelectual Jean-Pierre Gorin, Godard fundou então o grupo Dziga Vertov e voltou-se para um cinema mais político. O coletivo realizou, entre outras obras, “Vento do Leste” (1969 – com roteiro escrito pelo líder estudantil Daniel Cohn-Bendit e com a participação especialíssima de Glauber Rocha), “Lutas Ideológicas na Itália” (1970) e “Vladimir e Rosa” (1970).

Os anos entre 1975 e 1980 foram marcados pelo experimentalismo com o vídeo e com a televisão. Godard e sua mulher, Anne-Marie Miéville, produziram duas séries no período: “Seis vezes dois: sobre e sob a comunicação” (1976) – doze episódios de 50 minutos cuja primeira parte é um ensaio crítico e a segunda é constituída por entrevistas feitas por Godard com personalidades diversas – e “France/tour/détour/deux/ enfants” (1979), série em que Godard e Miéville continuam seu percurso em direção a uma posição crítica da comunicação, tomando emprestados os códigos da gramática televisual – reportagens, chamadas de matéria, entrevistas, clipes –, criando uma espécie de anti televisão.

Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela.
Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Dela.

“Salve-se quem puder (a vida)” (1979) marcou o retorno de Godard à ficção narrativa e ao cinema. A partir de então, o cineasta realizou filmes como “Carmen de Godard” (1983 –premiado com o Leão de Ouro do Festival de Veneza) e o polêmico “Eu lhe saúdo, Maria” (1985), censurado no Brasil e em diversos outros países.

A partir de 1988, a produção de Godard ganhou um caráter mais retrospectivo. A fase culminou em “História(s) do cinema”, obra em oito capítulos, que reflete a história do cinema através de seu próprio meio.

Mesmo com a idade avançada, Godard não deixou de produzir e inovar. Em 2010, lançou o longa “Filme Socialismo” (definido pela crítica como o mais godardiano dos filmes de Godard) e, em 2014, “Adeus à Linguagem”, obra que trabalha o 3D de maneira original, não só em relação aos seus filmes anteriores como a todo o cinema que o precede.

Desde a década de 1960, Jean-Luc Godard vem conquistando os principais prêmios do mundo do cinema. Já recebeu o Urso de Ouro e o Leão de Ouro Honorário do Festival de Berlim, conquistou dois prêmios César Honorários, o Leopardo de Honra, em Locarno, duas vezes o Prêmio do Júri do Festival de Veneza e o Oscar Honorário.

Acossado.
Acossado.

Serviço: Godard Inteiro ou o Mundo em Pedaços
Local: Cinema do CCBB (Setor de Clubes Sul, Trecho 2, Lote 22)
Data: De 21 de outubro a 30 de novembro
Horário: Ver programação
Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00
Informações: (61) 3108.7600.