Ian Viana lança o livro “Tristes Sonhos de Sol” e fala sobre a relação entre sua obra e as cidades

11 de maio (quarta), às 19:30, no Beirute da Asa Sul.

Ian Viana. Foto: Acervo pessoal.

Ian Viana, poeta, ativista social e agitador cultural da cidade lança seu segundo livro, “Tristes Sonhos de Sol“, um diário sentimental dos dois anos de pandemia na Capital do País, nesta quarta (11 de maio), às 19:30, no Beirute da Asa Sul. Ian foi linha de frente do trabalho com a população em situação de rua no Setor Comercial Sul, em sua atuação pelo Instituto No Setor. Na obra, cruel cotidiano das pessoas sem teto, a violência policial, o carnaval, histórias pessoais, tragédias, conquistas, amores e esperanças se misturam numa mistura prosa e poesia que se galga como documento histórico de nosso presente.

O Acha Brasília teve um bate-papo com Ian Viana sobre a nova empreitada. Confira:

Acha – Como surgiu o novo livro e qual a relação da obra com população em situação de risco?

Ian Viana – “Este é o meu segundo livro. O primeiro foi ‘Eu era aquela cobra coral no quintal da tua infância‘, lançado pela Editora Patuá de São Paulo e este surge com um selo chamado Ecoa, de Salvador. “Tristes Sonhos de Sol” é um relato sentimental, uma mistura entre prosa e poesia com manifestos sentimentais, confissões que mesclam a realidade social e política em que eu estive imerso aqui em Brasília pela atuação do Instituto No Setor, com o Brasil pequeno e o Brasil grande.

O olhar é ancorado das miudezas do Setor Comercial Sul, no local, mas pensando do total que é o Brasil, que é trágico e maravilhoso, alegre e triste, que é cruel por vezes e que é ensolarado apesar de tudo isso.

Então é uma grande mistura, um caos criativo de alguém que sentiu a cidade, sentiu os moradores de rua da cidade e viveu sua vida profissional, seus amores, seus afetos, seus sonhos, suas esperanças que partiram, suas esperanças que ficaram e se renovaram.

Apesar do título que remete à tristeza não deixa de ser uma tristeza ensolarada. Em um dos poemas eu falo disto, este se manter de pé, aquilo que Gramsci falava: pessimismo no pensamento e otimismo na ação, é um estar atento, estar no momento presente, é procurar as ferramentas do encantamento da cultura popular para seguir.

De uma forma mais técnica, o livro se divide em uma apresentação do Cláudio Leal, um amigo e baita jornalista da Ilustríssima da Folha de São Paulo e condensa ali textos de dois a três anos produzidos no auge da pandemia e da solidão. 

Em resumo estão ali, como eu brinco na minha apresentação, que um dia eu sonho estar no mesmo quarto, pelo menos por um segundo, estar no mesmo quarto que Zé Pelintra, Krishna e Buda, ou seja, ver essa cidade, esse caos todo e esses conflitos todos de uma forma sociológica, mas também com a minha crença fundamental, que é o mistério, que é a dança das pomba giras, a gargalhada dos exus, esse mais além, que sempre me instigou desde criança e que eu sempre busquei, que é fundamentalmente o que acredito. Então esse livro é uma busca desse olhar da criança, desta busca de Aruanda, da terra da justiça e da liberdade. Esse mistério que é a vida e a gratidão a mistério que é a vida. Pase lo que pase”.

Acha – Como a ancestralidade te influenciou?

Ian Viana – “Com certeza muito. O Cláudio até traz isso no prefácio, em que Madureira, o Nordeste e Taguatinga se encontram. Minha mãe é carioca e eu brinco que eu tenho três mães: minha mãe, minha avó e minha tia. Minha mãe é paraibana, teve os filhos no Rio e veio para Brasília nos anos 80.

Eles abriram um bar ali na Ceilândia dos anos 80. Foi bem conflituoso e forte. Vieram com sonho da capital da esperança e caíram ali no que era auge da contradição da cidade e que ainda é de várias formas na verdade. Minhas referências culturais são basicamente o Nordeste e o Rio do Samba e do Carnaval.

Inclusive toda minha movimentação cultural, que para além do social o No Setor traz, foi uma tentativa minha de criar na cidade em que eu nasci (Taguatinga) um lugar dos encontros, que é o lugar da cultura, um lugar da experimentação, um lugar da catarse, um lugar do mais além, portanto do mistério. Eu vejo a Cultura assim como a paixão, assim como a religiosidade, a espiritualidade, esse possível lugar que muda a vida, que a vida passa a fazer sentido”.

Acha – Você pega uma encruzilhada no centro da cidade, o No Setor, repleto de entidades. Como vir de uma ascensão diversa de vários cruzamentos e encontrar isso em Brasília de forma a transcender esse trabalho onde tudo se entrelaça?

Ian Viana – “Definitivamente, de alguma forma é um alívio porque eu sempre tive um querer ser tudo, um estar em todos os lugares, acho que muito do poeta, eu brinco de querer ser o palhaço e o dono do circo. Este produtor cultural, mas que tem também as sutilezas, que é um militante de esquerda, mas que se dói no estômago com a Realpolitik e este livro é um atravessamento de tudo o tempo todo. É um estado alterado de consciência”.

Acha – O que você gosta de ler e quais são suas mais fortes referências?

Ian Viana – “Um pouco antes da academia eu estava muito imerso na leitura do Davi Kopenawa Yanomami. Uma presença constante é o cinema, a poesia e a vida do Pasolini que me encantam. O cinema do Werner Herzog e aquelas contradições todas e a conquista do inútil, como ele chamava o Fitzcarraldo. Leio muito Oswald de Andrade também na busca dessa brasilidade, desse entender o Brasil, desse amar o Brasil, às vezes inclusive até flertando com um certo ufanismo. Eu tive essa fase, mas foi bom que eu caí de cabeça também nessa leitura do nacionalismo sentimental e acabou virando esse conceito que eu brinco que é a ‘cidade sentimental’. Gosto muito da poesia do Roberto Piva que está sempre presente na minha vida, da Hilda Hilst e de Marcia Denser, que traz a língua mãe: eu tenho minha tradição cultural, eu tenho direito de usá-la e eu vou usá-la, minha voz materna.”

O lançamento acontece nesta quarta (11 de maio), às 19:30, no Beirute da 109 Sul. Quem adquiriu seu exemplar no pré-lançamento vai poder retirar os livros no local, onde também estarão à venda. Quem quiser garantir a compra antecipada pode acessar o Sympla. A noite vai contar ainda com uma mesa redonda que traz as participações de Júlia Moura, historiadora que prefaciou o livro, e do rapper Murica Sujão.

Capa com arte de Chico Monteiro.

Lançamento do livro “Tristes Sonhos de Sol” de Ian Viana
11 de maio (quarta) de 19:30 às 23L30
Bar Beirute (109 Sul)
Vendas no local e no Sympla.