Chico Dub e Pedro Seiler falam sobre a Invasão Baiana no CCBB.

Márcia Castro. Foto: Renato Acha.

Márcia Castro. Foto: Renato Acha.

Renato Acha

O projeto “Invasão Baiana” aporta em Brasília de 1º a 16 de fevereiro, sob curadoria de Chico Dub e Pedro Seiler. Aos moldes do bem sucedido “Invasão Paraense”, também realizado no CCBB com enorme sucesso em 2012, o Festival “Invasão Baiana” volta seus olhos à produção contemporânea da Bahia, estado rico musicalmente em sua gênese.

O mapeamento curatorial foi muito além dos ritmos apregoados nos grandes veículos de comunicação e revelou tanto nomes que já ganharam destaque na mídia especializada, quanto artistas em ascenção, traçando um panorama que transita pelos mais diversos ritmos e estilos. A programação reserva três fins de semana com apresentações de Vivendo do Ócio, Maglore, Cascadura, Dois em Um, Márcia Castro, Baiana System, Lucas Santtana, Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz.

Pedro Seiler. Divulgação.
Pedro Seiler. Divulgação.

Pedro Seiler e Chico Dub concederam entrevista à Território Cultural, veiculada com exclusividade no Acha Brasília, onde abordam esta mais do que bem vinda invasão de “novíssimos baianos”:

Território Cultural – Muitos, aqui em Brasília, quando ouvem falar de música baiana lembram-se somente do Axé. O “Invasão Baiana” tem essa intenção de mostrar e apresentar para o brasiliense que a música Bahia vai muito mais além?

Pedro Seiler – “Historicamente a Bahia sempre foi um dos estados mais ricos musicalmente do país e com o projeto queremos mostrar que isso continua, e que sim, a musica baiana vai muito alem do axé, desde as raízes percussivas, o samba baiano, a Tropicália. Enfim, pena não ser possível levar muitos outros nomes que tiveram que ficar de fora.”

Chico Dub – “O axé teve e ainda tem uma força muito forte na indústria do show business brasileiro. E, por conta disso, na história recente da música popular brasileira, um acabou se confundindo com outro. Mas na verdade, sempre existiu música de tudo quanto é tipo na Bahia, mas o axé involuntariamente acabou escondendo uma porção de artistas e outros ritmos.”

Território Cultural – O “Invasão Baiana” tem um “quê” de carnaval da Bahia ou não?

Pedro Seiler – “O carnaval na Bahia tem um clima festivo e de mistura, que sim, o festival quer mostrar, mas também achamos legal mostrar que a atual cena vai além do carnaval.”

Chico Dub – “O Festival vai acontecer em pleno verão e logo antes do Carnaval. Então é impossível não associar um ao outro. Musicalmente entretanto, nossa abordagem é bem mais ampla que a música de Carnaval.”

Território Cultural – Que diálogo há entre a música dos artistas que participam do projeto e as culturas regionais da Bahia – Raízes negras como o candomblé, os tantos ritmos movidos por atabaques, berimbaus…, festas de santos.

Pedro Seiler – “Por ser uma amostragem bem abrangente, nem todos os artistas tem essa influência tão evidente, mas artistas como Baiana System e Orkestra Rumpilezz deixam isso bem claro, seja em forma de homenagem ou turbinando e trazendo para o presente.”

Chico Dub – “Concordo com o Pedro. O Baiana System faz um resgate da guitarrinha baiana, muito presente no início dos trios elétricos e eternizada pelas figuras de Dodô e Osmar. Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz bebem no universo percussivo baiano, todo ele de matrizes africanas. Também vale lembrar que o Cascadura também se influencia pelos sons do candomblé, principalmente no disco ‘Aleluia’, que inclusive, tem participação da Rumpilezz.”

Território Cultural – Estes novíssimos baianos do “Invasão” desembarcam em Brasília para mostrar um outro tabuleiro musical baiano. Quais são suas influências? São músicos que trazem na bagagem uma mescla de ritmos essencialmente regionais (baianos), ou também conversam com a música de outros estados brasileiros e do mundo?

Pedro Seiler – “Esta atual safra bebe em diferentes fontes, misturando raízes baianas clássicas e mais contemporâneas, mas sim, vive antenada com o que está vindo de fora do país e também de outros estados. Alguns dos artistas já moram fora da Bahia, já excursionam bastante, enfim, estão no mundo.”
Chico Dub – “Rock, pop, MPB, reggae, dub, funk carioca, hip-hop, ritmos afro-brasileiros… Tem de tudo um pouco no Festival Invasão Baiana.”
Chico Dub por Eduardo Magalhães.
Chico Dub por Eduardo Magalhães.

Território Cultural – O ritmo baiano do Axé abre ou fecha portas para a divulgação desta nova e atual musica baiana?

Pedro Seiler – “O axé acabou virando um termo comercial e vem com um teor pejorativo que vemos vários dos artistas querendo se distanciar, mas dentro desse mar de artistas e trios que surfaram e surfam essa onda dos carnavais pelo Brasil, tem muita coisa boa e bem relevante que acaba rotulada junto com tantas outras coisas que são realmente efêmeras.”

Chico Dub – “A cultura do axé acachapou a vida cultural da Bahia. Hoje em dia existe um universo sonoro muito além do axé que felizmente consegue se destacar e ser ouvido em função da internet.”

Território Cultural – Brasília foi a capital do rock por algum tempo. O que se pode esperar de diferente e de novo deste rock que vem da Bahia?

Pedro Seiler – “O rock baiano sempre teve uma trajetória bem peculiar, vendo as maiores referências como Raul Seixas, o próprio movimento tropicalista, Camisa de Vênus, passando por Pitty, vemos sempre um som muito verdadeiro, que é fiel ao rock mas que dialoga bem com outros ritmos.”

Chico Dub – “Tem muito rock na Bahia. Como o Pedro falou com propriedade, sempre rolou bastante rock and roll no estado. Mas acredito que hoje, a oferta é ainda maior. Além do Maglore, Cascadura e Vivendo do Ócio, também temos Tangerina Jones, Calafrio, Velotroz, Callangazoo, Falsos Modernos, Teenage Buzz, Vitrola Azul…”

Sobre os curadores:

Chico Dub é idealizador e curador do Novas Frequências, festival internacional de música contemporânea de vanguarda que já realizou 3 edições no Rio de Janeiro. Assinou em 2103 a curadoria da 13ª edição do Festival Eletronika (Belo Horizonte). Foi um dos curadores e relações públicas do Sónar São Paulo 2012. É curador e idealizador da Hy Brazil, série de coletâneas que tem como objetivo mapear a nova cena de música experimental do país. Trabalhou de 2007 a 2011 como assistente de direção do festival de performances audiovisuais Multiplicidade. Em 2008, assinou a curadoria do Sky Lounge Multimídia, evento de música e performances audiovisuais em São Paulo. É co-idealizador e roteirista do documentário Dub Echoes, filme que mostra a influência do dub jamaicano na música eletrônica e no hip-hop.

Pedro Seiler é produtor cultural, sócio fundado do Queremos! (Wedemand), tendo trabalhado na gravadora Biscoito Fino por 6 anos. Fez a produção das turnês nacionais de Maria Bethania, Simone e Simone com Zelia Duncan. Fez a Curadoria e a Direção Musical de festivais como Vivo Open Air (RJ e SP), Claro Cine (RJ), Vale Open Air (RJ), Invasão Paranese (BSB), Sai da Rede (SP, RJ e BSB) e do programa Experimente (Multishow), além da produção e direção do Festival Indie Rock. Foi responsável pelas trilhas sonoras dos filmes Surf Adventures 2, Proibido Proibir e Nalu e pela produção do projeto Chicobastidores (Chico Buarque).

Confira as datas da Invasão Baiana no CCBB:

Semana 1:

1º de fevereiro (sábado) Vivendo do Ócio – show 1: 19:00 / show 2: 21:30
2 de fevereiro (domingo) Maglore – show 19:00

Semana 2:

8 de fevereiro (sábado) Cascadura – show 1: 19:00 / show 2: 21:30
9 de fevereiro (domingo) Dois em Um – show 19:00

Semana 3:

15 de fevereiro (sábado) Marcia Castro – show 1: 19:00 / show 2: 21:30
16 de fevereiro (domingo) Encerramento ao ar livre : Baiana System
headliner: Lucas Santttana e Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz – show 17:00