A curadoria do professor Paulo Daniel Farah e Rodolfo de Athayde abrange objetos como vestimentas, mobiliário, tapetes, armas, objetos de cerâmica, mosaicos, instrumentos musicais e iluminuras.
“Para ilustrar 13 séculos de uma civilização que conseguiu criar uma arte de caráter tão próprio e diverso, ao mesmo tempo com traços inconfundíveis de homogeneidade, foi negociado um conjunto de obras que abrangem um amplo leque de objetos úteis e decorativos, através dos quais é possível admirar o refinamento e os conceitos estéticos aplicados pelos artistas-artesãos em sua maioria anônima”, declara Rodolfo de Athayde.
O público é recebido ao passar por um portão da arquitetura muçulmana e entra em contato com mapas e uma linha do tempo com acontecimentos importantes que descrevem os períodos de expansão territorial do Islã.
Em seguida são apresentadas plantas com projeção em 360 graus de três mesquitas: A Mesquita dos Omíadas (Damasco), a Mesquita da Rocha (Jerusalém)e a Mesquita Azul (Istambul).
A arquitetura tem destaque com objetos reais como os fragmentos originais do Palácio Al-Hir Al-Gharbi (Síria) aonde é nítida a influência greco-latina. Há vitrines com objetos de cerâmica e vidro, dos séculos VII ao XIII, como lâmpadas de azeite em cerâmica azul esmaltada. O fundo da sala mostra uma peça de madeira maciça com inscrições, usada como parte de uma barreira no século XI.
O próximo núcleo representa o saber, com desenhos que pertenceram à Livraria Real de Teerã, como a Miniatura de Shahnameh e outros que ilustram textos do século XV. Há uma série de objetos científicos, como o astrolábio plano do Palácio Golestan, em Teerã, e o astrolábio esférico de Isfahan, do século XI, que representa um globo celeste. Tudo isto é apresentado com um painel como pano de fundo, que ilustra algumas mentes brilhantes que fizeram parte desta civilização, como as aventuras da Casa da Sabedoria, criada em Bagdá no século IX, os feitos do filósofo e médico Avicena, o resgate de Aristóteles pelo filósofo andaluz Averroes.
A riqueza e beleza ornamental da ourivesaria apresenta peças como as jóias da Síria do século XI, brincos de ouro em forma de pássaros, pratas dos Tuaregues e uma exclusiva coleção de moedas antigas de várias épocas.
A próxima sala destaca a importância da caligrafia e sua influência em toda a cultura. Uma pedra de basalto em que estão inscritos os vários nomes de Deus é a peça mais antiga da mostra e traz o requinte da escrita e a força e simbologia desta arte nobre e sagrada no Islã.
É comum relacionar a arte islâmica somente a motivos geométricos, arabescos e imagens sem a presença de figura humana e animais, por serem criações divinas. Os curadores se concentraram em objetos não pertencentes ao espaço religioso da cultura muçulmana para ampliar o olhar do ocidente.
“Na caligrafia árabe, as letras adquirem formas distintas conforme sua posição na palavra, o que permite uma flexibilidade ilimitada. A caligrafia representa uma arte extremamente refinada à qual se agregam os arabescos, entre o geométrico e o vegetal. Essa arte alcançou um equilíbrio harmonioso entre as diferentes letras e os padrões decorativos, em todos os seus estilos, desde as linhas retas, angulares, da escrita cúfica (originária de Kufa, no Iraque) à elegância cursiva da thuluth e às curvas proeminentes do estilo diwani”, descreve Paulo Daniel Farah.
No próximo passo são exibidos os famosos e requintados tapetes persas, ao lado de trabalhos em metal e um nicho dominado por uma armadura de cota de malha de ferro do século XII, usada na época dos Cruzados. Uma vitrine central é dedicada à típica cerâmica azul, comum em todo o mundo islâmico.
Ao final o visitante é conduzido ao interior do Palácio Azem, residência do Paxá, governador da Síria durante o período Otomano, último dos grandes impérios muçulmanos. O espaço foi recriado com destaque para o mobiliário de poltronas e o baú crivados de madrepérolas, peças de artesanato, roupas e instrumentos musicais feitos pelo mais famoso luthier da Síria na época, Ahmad al-Hariri.
A mostra revela o intercâmbio de influências entre a cultura islâmica e todas as outras com as quais se relacionou em diversas terras, uma prova que as fronteiras não foram capazes de retê-la. Por onde passou, absorveu dados da cultura local e os agregou de maneira peculiar, ao produzir peças únicas onde o sincretismo está presente a todo momento. A exposição traça uma ampliação do ponto de vista geográfico, cultural, estético e histórico em uma viagem no tempo e espaço.
Serviço: Islã – Arte e Civilização
Data: 26 de abril a 3 de julho de 2011
Visitação: Terça a Domingo, das 9 às 21 horas
Local: Galerias 1 e 2 e Vão Central do Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul, Trecho 2, Lote 22)
Entrada Franca.
Classificação Indicativa: Livre.