João Angelini abre a mostra A Seco no sábado (12 de dezembro), a partir das 17 horas, na Referência Galeria de Arte (205 norte). O artista utiliza técnicas que vão da pintura à gravura, passando pela escultura e a performance. São três séries que exploram e subvertem os limites da arte em favor de uma poética de força extraordinária, sob curadoria de Carlos Ferreira.
Segundo os preceitos clássicos, a pintura é a arte de colocar tinta para criar uma imagem. A escultura retira camadas de material até alcançar a forma. A gravura é feita a partir da escavação de uma placa de madeira, pedra ou metal que recebe tintas e é colocada contra uma folha de papel onde a imagem será revelada. Nesta exposição, João Angelini manipula a materialidade das imagens por meio da pictorialidade, subvertendo as técnicas.
Na exposição que desembarca na Referência Galeria de Arte, João Angelini “dá testemunhos de sua vida”, afirma Carlos Ferreira em seu texto curatorial. Os trabalhos mesclam aspectos biográficos com as histórias incorporadas nas experiências artísticas, “como participantes de uma existência coletiva, cujos limites se ampliam”, continua. “As paredes guardam a memória das várias camadas de tinta que foram sobrepostas… As camadas de tinta podem ser planejadas e articuladas de um modo tal que favoreçam a intervenção de um gesto artístico. Aí, a pintura é quase uma arqueologia, construída de cima para baixo, em estratigrafias complexas”, completa o curador.
A Seco é fruto de uma intensa pesquisa de materiais e técnicas iniciada em 2007 e que agora vem à luz em uma mostra que reúne três séries distintas com um único fio condutor, os rastros de memória deixados nas paredes das casas. A poética e o lirismo na obra de João Angelini buscam resgatar a história, inicialmente no rastro das muitas experiências vividas na casa, onde o inesperado sempre joga um papel importante na construção da imagem, uma vez que ele não sabe quais cores e texturas irá encontrar em seu percurso. De posse dessa informação, ele passa para uma experiência ativa do processo.
A primeira série, que também dá nome à exposição, A Seco – em oposição a afresco – é resultado da raspagem de paredes da casa da família do artista em Planaltina de Goiás. Um trabalho de “exploração arqueológica” que mostrou inúmeras camadas de tintas nas mais variadas cores. Das escavações surgem as séries Azulejos e a Linha do Tempo, feitos de lascas das camadas de tinta que recobriam as paredes. São séries construtivas, de formato quadrangular, que guardam em si uma referência direta à obra de Athos Bulcão.
Observando a forma como as camadas de tinta se sobrepunham, João Angelini aplicou camadas de tinta de várias cores sobre placas de gesso acartonado para criar a série Sobotta e não morra. Inspirado em um livro clássico de medicina Sobotta Atlas de anatomia humana, do médico alemão Johannes Sobotta, o artista desenha órgãos e partes do corpo apresentados pela publicação para em seguida escavar a massa e revelar as formas desejadas. O interesse pela forma humana, João herdou do pai, médico, quem lhe apresentou o livro de Sobotta. Às imagens, acrescenta frases impressas por meio de carimbos feitos com tipos gráficos, que ao longo do tempo perderão a cor até restar apenas a memória do que ali existiu um dia.
Por fim, a terceira série leva para pratos de louça os desenhos de Sobotta, que desta vez são executados com técnica de gravação em baixo relevo, utilizando uma broca de dentista. Os sulcos serão entintados com sangue do próprio artista, em uma performance que será realizada diante do público na abertura da exposição, no sábado 12 de dezembro.
Durante a semana de montagem da exposição, entre os dias 9 e 11 de dezembro, João Angelini irá realizar um trabalho em uma das paredes da galeria, criando assim um eixo de memória entre a casa, o ateliê e o espaço expositivo. A intervenção e a progressão do trabalho poderá ser assistida pelo público, das 15h às 19h.
Serviço: A Seco, de João Angelini
Abertura: 12 de dezembro, de 17 às 21 horas
Visitação: De 12 de dezembro a 16 de janeiro
De segunda a sexta, das 12 às 19 horas
Sábados, das 12h às 17h
Local: Referência Galeria de Arte (205 Norte, Bloco A, Loja 9)
Telefones: (61) 3361-3501 e (61) 8162-3111
Entrada franca
Classificação indicativa: Livre.