Marta Carvalho fala sobre arte no DF e a realização do Satélite 24 hrs no ar.

Fotos: Renato Acha.

Renato Acha

Brasília se prepara para receber o Satélite 24 hrs no ar, evento previsto para ocorrer em 1º e 2 de setembro, com uma vasta programação gratuita que vai privilegiar os artistas locais de diversas linguagens como as artes visuais, cinema, dança, música, performances e uma série de eventos paralelos que vão ocupar o Complexo Cultural da República e o Teatro Nacional durante 24 horas. Na verdade, programação vai além de um dia, pois conta com debates, seminários e palestras, que configuram um rico painel da arte produzida no centro do país.

A primeira edição do Satélite 24 hrs no ar decorre da publicação do guia Satélite061, uma espécie de enciclopédia que registra artistas de diversas áreas e gerações, residentes nos quatro cantos do Distrito Federal. A iniciativa de criação do Guia Satélite 061, e consequentemente do Satélite 24 hrs no ar, decorrem de um antigo desejo da Ossos do Ofício Confraria das Artes, associação que conta com mais de 450 profissionais associados das mais variadas áreas de cultura.

A Presidente da Ossos do Ofício, Marta Carvalho, conversou com o Acha Brasília na sede na associação, no Setor de Diversões Sul. Ali, bem no coração da cidade, no famoso Conic, se elaboram, se discutem e se subsidiam diversos projetos culturais, como o Satélite 24 hrs no ar, que ganha vida em meio à crescente efervescência cultural de uma capital em constante construção de sua identidade, ainda jovem, mas já com características marcantes, como a ousadia.

 

Acha – A Revista Satélite 061 já possui uma tradição quando se fala em arte no Distrito Federal. Como foi este percurso desde o início?

Marta Carvalho – “Em 2007 tivemos a ideia de criar um projeto de difusão da cultura do DF, porque a produção que temos em Brasília é enorme, mas ela não consegue ser escoada para outros mercados. A gente vê uma batalha tão grande para se captar recursos, tocar em casas noturnas, que estão cada vez mais restritas. Há trabalhos autorais incríveis parados e fechados neste pequeno mercado do DF. Nós tínhamos o desejo de fazer parte da WOMEX (World Musc Expo), uma das melhores feiras da World Music que existe. Daí tivemos esta ideia.

O primeiro catálogo teve um alcance pequeno, mas foi um boom na WOMEX que aconteceu em Sevilha (Espanha) em 2007. Nós conseguimos catalogar cerca de 160 artistas de diversas áreas. Só que chegamos lá e vimos que os stands tinham tecnologia e a gente não. Só tínhamos o guia embaixo do braço. Daí começamos a fazer todas as paredes do stand com páginas do guia. Levamos as camisetas da Kingdom Comics para dar para os participantes da feira e aí a gente chamou a atenção. ‘Olha lá que galera maneira!’ – eram os comentários. Isto foi um forte diferencial e desde então participamos anualmente e já temos as pessoas que nos procuram e já têm interesse no guia.

Nós ainda não temos o braço de fazer negócio pelo artista, mas acho que isto é o próximo passo, que com o decorrer dos anos vamos conseguir realizar, ou pelo menos captar um pouco mais de recursos para que a gente possa formar agentes para assessorar os artistas do DF no exterior. Nós precisamos muito disto, pois ainda funciona o esquema ‘Do It Yourself‘. Acho que está na hora do artista ser mais curador e a gente formar profissionais para trabalhar a carreira desta criação tão grande que a gente possui.”

Acha – Em 2012 surge o Satélite 061 24 hrs no Ar. Até que ponto o evento decorre do guia?

Marta Carvalho – “O Satélite 061 24 hrs no ar é sim uma consequência do guia, tanto que estamos com 85% da programação com artistas do DF, com 15% de convidados. A maior parte pertence a este cadastro, mas estamos com inscrições abertas (http://ossosdoficio.com.br/) para que as pessoas deixem seus links e materiais de trabalho, pois é importante que a gente conheça esta nova cara que muitas vezes está escondida em lugares que a gente não tem acesso. A Ossos do Ofício tem associados em todos os lugares do DF e às vezes nos damos conta de coisas novas. ‘Onde estava isto que a gente não conhecia?’.

É claro que este movimento de poder estar dentro de uma associação que possui mais de 450 associados traz uma visão mais abrangente e para ser uma associação de classe, a gente se sente na responsabilidade de contemplar grande parte da arte feita no DF, juntando novos, antigos e várias cidades. Então tem muita coisa aí para ser mostrada.”

Acha – Diante deste amplo contato com artistas de diversas áreas e gerações, como você define a cara da arte produzida no DF?

Marta Carvalho – “Eu defino como um grande caldeirão de novidades. Eu acho Brasília e os artistas locais muito ousados, mas ainda acho que falta interação entre as áreas. É um caldeirão, mas a gente ainda se enxerga dentro de uma panelinha. Toda esta efervescência alçada hoje perde-se pela falta de troca. Falta um cuidado muito grande nestas relações. Principalmente por ser presidente de uma associação de classe, eu vejo que a gente tem tantos produtos aqui dentro, que a gente poderia trocar entre si e criar tantas coisas a mais do que apenas individualmente.

A intenção do Satélite 24 hrs no ar é que as pessoas tenham vontade de ficar muitas horas, que elas saiam de um espetáculo de dança na Sala Martins Penna e vejam uma exposição no foyer, depois descansem no cinema, tomem uma cerveja pulando na música, vejam exposições de arte urbana, escutem os DJs de Brasília. É um passeio, não somente para a sociedade que a gente julga como público, mas também para o nosso amigo que trabalha com arte.

Estamos trazendo o catálogo ao vivo, com tudo acontecendo ao mesmo tempo. A nossa ideia é principalmente promover uma mudança de perfil nestes eventos. São vários eventos e vários recursos aplicados em eventos, mas a gente não tem a sociedade dentro deles. As pessoas vão, bebem, dançam e voltam para casa sem se sentir parte daquilo. Em 24 horas queremos a sociedade opinando, fazendo crescer, porque é um projeto que não vai parar. Vai ser a vovó, o vovô, o netinho, o adolescente, enfim, todos conhecendo e reconhecendo a arte feita no DF, porque falta ainda muito para que este público tenha acesso à nossa arte.”

 

O Satélite 061 24 hrs no ar acontece do dia 1º de setembro (sábado) às 18 horas até 2 de setembro (domingo) às 18 horas. A programação de palestras, seminários e oficinas perfaz um total de três dias e será divulgada em breve.

A programação musical traz: Superquadra (DF), Satanique Samba Trio (DF), GOG (DF), Os Mocambos (DF), Fábio Miranda (DF), Bruno Yakalos (DF), Device (DF), Formatick (DF), Junior Ferreira e Victor Angeleas (DF), Andréia Leones (DF), Georgia W. Alô (DF), Wazzabi (Dinamarca), Escurinho e Labacé (PB), Curumin (SP), Sacal (PB), China (PE), Siba (PE), B Negão e os Seletores de Frequência (RJ), Wado (AL).

Nas Artes Cênicas já estão confirmados: Cia. Instrumento de Ver (DF), As Caixeiras (DF), Saia de Pandora (DF), Serpentes que Fumam (DF), Adeilton Lima (DF).

As Artes Visuais contemplam Cirilo Quartim, Mello, Nina Coimbra e Renato Rios, além de uma mostra de arte urbana no Espaço Parabólica, com uma vasta programação com exposição ao ar livre e obras “skatáveis”.

A Sala Alberto Nepomunceno vai receber 24 horas de Cinema, com uma programação de filmes do Distrito Federal, em uma espécie de compilação do cinema produzido na capital.

Serviço: Satélite 061 24 hrs no ar
Data: 1º e 2 de setembro de 2012
Informações e inscrições de artistas: http://ossosdoficio.com.br/
As inscrições podem ser realizadas até 23: 59 do dia 20 de julho de 2012, e devem ser feitas pelo site da Ossos, através do link http://ossosdoficio.com.br/webform/inscricoes-festival-satelite-061