Desejo de fala indígena em mostra com 12 artistas na Caixa Cultural

De 10 de maio a 9 julho.

Fotos: Cláudio Gerber.

Passado, presente e futuro do mundo conectados pela cosmologia indígena. Tempos aliados ao desejo de fala que se unem na conceito da exposição Nhe´ ẽ Se, em exibição na Galeria Vitrine da Caixa Cultural Brasília, de 10 de maio a 9 de julho, com entrada franca.

Com curadoria de Sandra Benites e Sallisa Rosa, a mostra apresenta um conjunto de obras que exprimem o desejo de mostrar a força política e beleza conceitual da arte e culturas indígenas. Bem como mostrar, através das criações, que indígenas são o passado, o presente e principalmente o futuro do mundo.

Sandra Benites, da etnia Guarani-Nhandeva (MS), foi a primeira curadora indígena, no Brasil, a integrar equipe de um Museu, pesquisadora Guaraní e Doutoranda em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ. Sallisa Rosa é artista visual cuja produção parte de sua experiência como indígena em contextos urbanos e que, em sua trajetória, acumula recorrente participação em exposições, dentro e fora do Brasil, desde 2017.

Por meio de pinturas, fotografias, instalações, vídeos e textos, as e os 12 artistas visuais contemporâneos, cada um com sua essência, provocam e convidam o olhar de visitantes a diálogos com diferentes etnias, territórios, expressões culturais e inquietações.

Nessas conversas multiétnicas, costuradas por linguagens diferentes, o observador tece uma rede harmônica, “onde a serenidade se apresenta naturalmente e a arte mostra o processo de se fazer o equilíbrio, palavra que não existe em língua indígena e precisou ser criada”, comenta a curadora Sandra Benites. Sobre as obras trazidas para a exposição, Sandra explica: “para nós, indígenas, inquietações e espiritualidade caminham junto em qualquer discussão, debate e são a tônica de Nhe´ ẽ Se, dada a importância e urgência de desejo de fala”.

Nhe´ ẽ Se é sobre comunicar. A expressão Guarani em português significa o desejo de falaa expressão do espírito e o diálogo como cura. Nesse sentido, no conjunto dos trabalhos do coletivo de artistas, curado por Sallisa e Sandra, se lê a exaltação das origens, da urgente preservação e da recuperação física e espiritual dos territórios, e a necessidade de enaltecer a ancestralidade. Como nas obras de Aislan Santos, natural do Povo Pankaruku (PE) e estudante de medicina na UnB, e de Tamikuã Pataxó, liderança Pataxó, cujo trabalho mostra o equilíbrio entre a irmã natureza e a mãe terra com a humanidade.

Em registro paralelo, o resgate das tradições e a voz do ativismo social, político e pelos direitos das mulheres indígenas são protagonistas na obra de Glicéria Tupinambá, da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. A artista apresenta, em Nhe´ ẽ Se, sua obra manto Assojaba Tupinambá, representando memória e resistência de seu território.

Trabalhando com a cerâmica, Déba Viana Tacana, de origem cigana e indígena, pertencente ao Povo Takana, no estado de Rondônia fronteira com a Bolívia, investiga o corpo indígena e o corpo território para expressar sua etnicidade e manifestar que sob nossos pés não há terra que não seja indígena. Déba, em seus trabalhos, articula análises ficcionais com a encantaria “luz que anda”, presente em diferentes territórios indígenas, para denunciar a violação de direitos humanos.

Para denunciar a poluição dos igarapés, a indígena trans, em diáspora e residindo em contexto urbano, Uýra Sodoma realiza performances explosivas com sua personagem queer. Bióloga de formação, a artista tece duras críticas às políticas ambientais e ao modelo econômico imposto ao povo que vive em meio à floresta. Sua atuação alinha-se à luta em favor dos direitos das mulheres e das populações LGBTQIA+, Negra e Indígena. Enquanto Lilly Baniwa, performer e atriz de São Gabriel da Cachoeira (AM), constrói manifestos políticos e identitários – em vídeo – que ganham as telas, para comunicar conhecimentos ancestrais, carregados na existência dos corpos indígenas.

No campo da fotografia, Edgar Kanaykõ Xakriaba, da Terra Indígena Xakriabá (MG) e primeiro indígena Mestre em Antropologia pela UFMG, se dedica a narrar o cotidiano de sua aldeia, contextualizando cada registro. E no audiovisual e também através de fotografias Paulo Desana, da etnia Desana (AM), traz à tona assuntos pertinentes à região do Rio Negro, no Noroeste do Amazonas, como assunto central. Em seus registros, irmão da tribo, curandeiras e pajés são retratados como personagens encantadas.

Comunicar a contemporaneidade e dar visibilidade à arte indígena ancestral, vinda de tempos inimagináveis, são o foco da produção de Merremii Karão Jaguaribaras, da Nação Karão Jaguaribaras (CE), que os retrata em grafismos e pinturas de seu povo. E o debate acerca da exploração e destruição da terra e a representatividade indígena como parte do mundo contemporâneo, são temas das pinturas e ilustrações de Arissana Pataxó, Mestra em Estudos Étnicos e Africanos, pela Universidade Federal da Bahia. Ela é professora na Terra Indígena Coroa Vermelha (BA).

Arte contra o apagamento da cultura indígena no Rio Grande do Sul é a ferramenta de Xadalu Tupã Jekupé, de origem ligada aos indígenas que historicamente habitavam as margens do Rio Ibirapuitã. Em seu trabalho, utiliza elementos da serigrafia, pintura e fotografia para abordar o tensionamento entre cultura indígena e ocidental nas cidades. Na exposição, o artista apresenta impactantes fotografias, serigrafadas em tecido, de seus parentes usando coletes à prova de balas.

Aju Paraguassu, neta da reserva indígena Paraguassu, ativista e mensageira afro-indígena, é graduada em desenho industrial e atua como designer há 16 anos. No seu navegar pelas artes, a pintura abre-se à escuta das curandeiras, das mães de sangue e de axé. Em suas obras, há cura para quem as observa.

Comum nos trabalhos apresentados pelas e pelos artistas desta mostra coletiva Nhe´ ẽ Se está o emprego e a utilização de matérias encontradas em seus territórios de origem. Quanto à coleta de tais, reforça-se o cuidado e o manejo como é feita, assim como quando. Ganha destaque, ainda, o respeito à conexão espiritual entre matéria e artista.

Na manhã do primeiro dia de visitação do público à exposição, 10 de maio a partir das 10hAM, haverá o bate-papo Diálogo é Cura com a presença das duas curadoras Sandra Benites e Sallisa Rosa. A ação tem o intuito de ampliar o conhecimento do público acerca das artes e culturas trazidas pela exposição. O encontro contará com tradução para Libras.

Em respeito à acessibilidade, haverá disponível aos visitantes audiodescrição e obra tátil, para que pessoas cegas ou de baixa visão possam conhecer os trabalhos. Ainda, os vídeos dos artistas, transmitidos em monitor instalado na galeria, contará com tradução para Libras. E na entrada do espaço, os textos terão versões no idioma Guarani.

Para a curadora Sallisa Rosa, ao reunir trabalhos de artistas indígenas de várias partes do país, de contextos e geografias díspares, e cada um com sua linguagem e singularidade dentro da coletividade, Nhe´ ẽ Se “é o espaço preparado para que o diálogo, com as diferentes vozes de diferentes artistas, aconteça e onde o acolhimento e também a escuta fazem parte,” conclui.

A baiana Via Press é a agência idealizadora e realizadora da exposição Nhe´ ẽ Se. “Celebro sermos uma agência bem-posicionada no cenário nacional, realizando trabalhos com o apoio de grandes marcas, como a CAIXA. Especialmente essa mostra, que traz uma temática de fundamental importância com um conjunto de trabalhos que exalta as origens do Brasil e aponta para a urgente preservação dos territórios indígenas”, destaca a CEO da Via Press, Elaine Hazin.

Exposição coletiva de arte indígena: Nhe´ ẽ Se
Galeria Vitrine – Caixa Cultural Brasília
Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3/4 – Edifício Anexo à Matriz da Caixa
De 10 de maio a 9 julho de 2023
Visitação: de terça a domingo, das 9 às 21 horas
Entrada gratuita
Classificação: Livre
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