A Arte Aborígene Contemporânea da Austrália em mostra na Caixa Cultural.

De 31 de maio a 16 de julho.

Divulgação.

A mostra O Tempo Dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália está em exibição na Caixa Cultural de 31 de maio a 16 de julho. Trata-se da mais vigorosa, significativa e diversificada coleção de obras de arte dos povos indígenas da Austrália a visitar a América do Sul. As obras que compõem o acervo são de artistas renomados, que já tiveram os seus trabalhos expostos no MoMA e Metropolitan, de Nova Iorque, Bienais como a de Veneza, São Paulo e Sidney, entre outros eventos de prestígio internacional, como o Documenta, em Kassel. “Essa coleção é um presente à população brasileira. Em um acervo de mais de três mil obras, selecionamos aquelas mais significativas. Muitas já foram publicadas em inúmeros catálogos de arte, citadas em teses de dourado e exibidas em várias instituições de importância na Austrália, Europa e Estados Unidos”, conta o curador brasileiro e brasiliense Clay D´Paula, que assina a curadoria com os australianos Adrian Newstead e Djon Mundine.

São mais de 60 obras, selecionadas por importância histórica, com uma linguagem contemporânea e técnicas diversas, tais como pinturas, esculturas, litografia e bark paintings (pinturas em entrecasca de eucalipto), que englobam um período de 45 anos, desde o despertar da comercialização da arte aborígene contemporânea na década de 1970 até o presente. Compõem o acervo obras de arte da Coo-ee Art Gallery, a galeria mais antiga e respeitada em arte aborígene da Oceania. Peças de coleções privadas e instituições governamentais também atravessaram o oceano exclusivamente para esta exposição.

Foto: Emmanuelle Bernard.

“No Brasil, costuma-se pensar de forma equivocada em artefatos indígenas. Com isso, pode causar surpresa ao público brasileiro descobrir que a produção artística dos aborígenes da Austrália vem sendo cada vez mais valorizada e reconhecida como arte e com status de arte contemporânea”, revela Ilana Goldstein, antropóloga da Unicamp, doutora e a mais celebrada especialista em Arte Aborígene da Austrália na América Latina e consultora do projeto.

A arte Aborígene da Austrália movimenta cerca de 200 milhões de dólares por ano naquele país-continente. Estima-se que hoje mais de 7 mil artistas indígenas vivam de sua prática artística. “Nós, brasileiros, tivemos, até hoje, poucas oportunidades de conhecer todo esse universo da arte aborígene da Austrália, o que pode, inclusive, levar-nos a refletir sobre os povos indígenas de nosso país. O Brasil e a Austrália possuem muitas coisas em comum. Contribuir para aproximá-los e convidar ao diálogo é um dos objetivos dessa exposição”, justifica o curador Clay D´Paula, que convidou o artista indígena brasileiro Xoha Karajá para participar do projeto. “Este projeto uni o presente e o passado e ilumina o aqui e agora. Essa conexão visual entre os artistas indígenas da Austrália e de Xoha é um feito inédito no Brasil e internacionalmente”, celebra o curador.

Com esta exposição, os curadores buscam proporcionar ao povo brasileiro a oportunidade de refletir sobre os povos indígenas da Austrália e do Brasil e sobre o impacto da colonização sobre eles. “Reconhecer o potencial artístico dos nossos ameríndios pode ser uma forma de reconciliação com o passado e trazer uma nova perspectiva”, aponta o curador brasileiro. O projeto também traz uma reflexão sobre a filosofia indígena, que consiste no conhecimento mítico aplicada à arte contemporânea.

Os artistas aborígenes pintam os seus sonhos (mas não a ideia Junguiana de sonhar e sua associação do inconsciente). Para eles pintarem o seu “Sonhar” (traduzindo da palavra “Dreaming”, em inglês) implica recontar histórias que são atemporais a fim de mantê-las vivas e repassá-las a futuras gerações. Não se trata de algo religioso, tem a ver com a sua sobrevivência. Essas pinturas contêm informações vitais, como, por exemplo, onde encontrar água “viva” permanente. Manter o “Sonhar” vivo é a motivação fundamental para a prática da arte dos artistas indígenas da Austrália.

Os visitantes vão apreciar as bark paintings, pintura sobre entrecasca de eucalipto típica do norte tropical da Austrália, região conhecida como Arnhem Land. Essa é uma das formas de expressão artística mais antiga do mundo, com mais de 40 mil anos. Inicialmente, as bark paintings tinham uma pobreza estética muito grande porque não foram criadas para durar, mas sim para cerimônias ou decoração. Hoje, elas trazem uma execução primorosa, sendo consideradas arte, não artefato, e estão em museus renomados, além de coleções particulares.

A mostra reúne os artistas aborígenes de maior projeção internacional, com uma paleta refinada e luminosa, como a do celebrado artista Rover Thomas (1926-1998) com suas paisagens de cor ocre que mudaram, com sua visão, a percepção paisagística australiana. Suas pinturas podem ser apreciadas da mesma forma que as criadas pelos impressionistas no século XIX, mas sem horizontes. A estética desenvolvida pelos artistas lembra o minimalismo e o expressionismo. No entanto, as obras criadas pelos artistas trazem uma linguagem visual única e de verdades eternas – lembrando que os artistas indígenas da Austrália, na sua grande maioria, não tiveram contato algum com a arte europeia. “A arte não é uma invenção dos europeus. Toda cultura tem a sua própria e singular forma de expressão: seja na música, na dança ou na pintura. Não existe diferença entre uma obra de arte criada no deserto e na cidade. Elas devem ser apreciadas e reconhecidas da mesma forma. Esta exposição vem descortinar tais pré-conceitos, reconhecendo as obras criadas pelos artistas indígenas de todo o mundo”, afirma o curador Clay Paula.

Lorna Fencer.

Outra artista de destaque, considerada pela crítica como uma das maiores pintoras expressionistas do século XX, é Emily Kame Kngwarray (1910-1996), que estará representada na mostra com dois trabalhos. Um deles é a pintura “Sem título, 1992”. Emily começou a pintar aos 79 anos de idade e se tornou a artista mais querida da Austrália. Representou o país na Bienal de Veneza e em vários outros eventos de arte internacional. É importante ressaltar que Emily nunca teve acesso à arte ocidental, logo enquadrar a sua pintura dentro de um movimento artístico europeu pode ser um equívoco. A arte aborígene, como outras formas de arte, é única e singular no mundo da arte.
Artista de Brasília é convidado para participar da mostra.

Nas cidades onde a exposição visita, um artista local é convidado para participar com uma obra comissionada. A iniciativa estimula diálogo entre o público, além de oferecer uma visão de unidade e confluência cultural. Em Brasília, o artista Glênio Lima é o convidado da temporada. Ele possui laços fortes com a arte Yanomami brasileira e com a arte dos povos Mixteca do México. Agora, pesquisa a arte aborígene para a criação da sua obra que comporá a exposição na Caixa Cultural Brasília.
O primeiro catálogo publicado na língua portuguesa por especialistas.

Existe uma literatura riquíssima em inglês, francês, alemão e até em japonês sobre arte aborígene, mas na língua portuguesa quase nada foi publicado. “Deixaremos um grande legado com esse projeto no Brasil. Além de apresentar essas obras raras e de estética inigualável, deixaremos à população das cidades visitadas o primeiro catálogo escrito por especialistas do Brasil e da Austrália em português. O volume servirá de consulta para pesquisadores das artes visuais, antropólogos, sociólogos e várias outras disciplinas”, revela o curador.

Serviço: Exposição: O Tempo dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália
Visitação: De 31 de maio a 16 de julho
Horários: De terça a domingo, das 9 às 21 horas
Local: Caixa Cultural (SBS Q 04 – Lotes 3/4 – Edifício anexo à matriz da Caixa)
Classificação indicativa: Livre