Olhar em movimento.

Patricia Gouvea  Catedral Foto Renato Acha

Renato Acha

Tudo começou em uma manhã de domingo, quando recebi uma ligação telefônica de Patrícia Bagniewski, integrante do Coletivo Transverso, conhecido por espalhar stêncils pelas ruas da cidade, sempre com poesia e imagens intrigantes.

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Via dos Anexos dos Ministérios Sul, altura da Catedral.

Fui conhecer o trabalho de Patrícia Gouvêa, jornalista, com Mestrado em Comunicação e Cultura, na área de Estéticas da Imagem. A carioca aterrisou em Brasília para aplicar cinco imagens em grandes formato nas ruas da capital.

Patricia Gouvea Foto Renato Acha
Patricia Gouvêa.

Ela trabalha com vídeo, fotografia e intervenções urbanas e nesta ação fez uso da técnica do “Lambe Lambe”. A palavra tem origem nos fotógrafos de rua, mas na arte urbana, o termo se associa à técnica que faz uso de cola, geralmente feita a partir do polvilho azedo, cozido até se formar uma goma transparente, utilizado para colar as impressões.

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Este foi o toque do curador Marco Antônio Teobaldo, que incentivou o ampliação do projeto para as ruas, estratégia criativa aliada ao lançamento do livro “Imagens Posteriores”, uma belíssima publicação que registra um percurso em progresso, com paisagens em movimento, vistas da janela, repletas de poesia e apuro estético, pinturas com ares de nostalgia do porvir.

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Ao lado do Espaço Cena (205 norte).

Confira o bate-papo com a artista:

Patricia Gouvea FE Foto Renato Acha
Faculdade de Educação. UnB.

Acha – Como surgiu o projeto?

“Comecei as primeiras pesquisas da série em 1999. As primeiras imagens foram feitas em 2000 foram feitas aqui em Goiás, eu queria ter uma experiência do horizonte que você não tem no Rio de Janeiro. Eu fiz uma viagem por Goiás Velho, Pirenópolis e Chapada dos Veadeiros.

Na verdade este não é um trabalho sobre lugares, nem sobre turismo, é um trabalho sobre o viajante, sobre a experiência do deslocamento, do tempo, que muda completamente quando a gente está inserido em uma viagem de longa distância.

Patricia Gouvea PGR Foto Renato Acha
Próximo à Procuradoria Geral da República.

As primeiras imagens surgiram em 2000. Eu fiquei dez anos fazendo o trabalho, sempre em grandes percursos, de barco, de carro ou de ônibus. Uma delas foi do Rio pelo litoral inteiro do Brasil, passando pelo Uruguai, voltando pelos Pampas, chagando via Curitiba, São Paulo. Outra viagem eu fiz pela Bolívia, uma viagem pelo norte da Argentina, outra viagem pelo Acre.

Eu sempre quis fazer um livro deste trabalho. É uma série de setenta imagens, o livro é um caderno de viagens, como uma viagem de bolso. Eu não nomeio nenhum lugar, porque acho que esta é a diferença do turismo, da viagem.

Quando estava fechando o projeto do livro e prestes a lançá-lo, conversei com um amigo, o Marco Antônio Teobaldo, jornalista e curador, que trabalha muito com arte urbana e grafite, me falou: ‘Patrícia, você tem que pegar este livro e levar pelas cidades, levar pras ruas’.

O livro é barato, eu tenho esta preocupação do acesso às pessoas, mas não é a mesma coisa que mostrar o trabalho na cidade. Isto abriu uma nova janela para o trabalho. Eu tinha trabalho como encerrado com o livro e ele veio como curador e me deu este toque que gerou novos desdobramentos.”

Patricia Gouvea AS Foto Renato Acha
Tesourinha da 102/202 sul.

Acha – Como surgiu o contato com o pessoal de Brasília?

Patrícia – “Eu escrevi para a Cláudia Linhares Sanz, que é minha amiga do Rio. Ela mora aqui e dá aulas na UnB, escreve muito sobre fotografia, tem um blog e ela me deu a dica: ‘Por que você não traz pra cá, fala com a Janaína Miranda para ela produzir? ’

Eu fiz estas intervenções no Rio, em Fortaleza, em Brasília e isto vai virar um trabalho em vídeo. Tem um compositor bem conhecido Rio, de música clássica contemporânea, que foi na abertura e pirou. Agora ele quer compor uma trilha original.”

Patricia Gouvea AS 2l Foto Renato Acha