Pavilhão do Brasil recebe Leão de Ouro de melhor participação nacional na Biennale Architettura 2023

Terra.

Obra de Jonathas Andrade no Pavilhão do Brasil. Divulgação.

A semana foi movimentada em Veneza com a realização da 18ª Mostra Internacional de ArquiteturaLa Biennale di Venezia. O Pavilhão do Brasil arrematou o prêmio máximo do júri internacional.

Foto: Matteo de Mayda

“É do Brasil! Pela primeira vez na história, o Pavilhão do Brasil ganhou o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza! Parabéns à exposição ‘Terra’, que traz nossas origens com tanta força e poesia, e aos arquitetos e curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares!”. Celebrou a Ministra da Cultura Margareth Menezes.

Maloca Tukano, em Iauaretê, Amazonas, Brasil, 2005. Foto: Vincent Carelli/Vídeo nas Aldeias.

O Leão de Ouro laureou o projeto “Terra”, com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares e participação dos povos indígena Mbya-Guarani, Tukano, Arawak e Maku, Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho), Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito, Jonathas Andrade, Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA), coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias.

Ayeson Heráclito. “O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée” (1025). Videoinstalação.

O Pavilhão do Brasil foi vitorioso por apresentar “uma exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que levam ao centro as filosofias e imaginários de populações indígenas e negras em direção a modos de reparação”. Declarou o júri da Bienal de Veneza, formado pelo arquiteto italiano Ippolito Pestellini Laparelli, a arquiteta palestina Nora Akawi e a curadora americana Thelma Golden, junto ao co-editor da Cityscapes Magazine Tau Tavengwa e a arquiteta polonesa Izabela Wieczorek.

A proposta brasileira vai ao encontro do tema geral da Bienal: “The laboratory of the future” (O laboratório do futuro), com curadoria de Lesley Lokko. Com o mote “Terra”, a ideia é levar para o centro os agentes esquecidos pela arquitetura tradicional.

Para mostrar a ancestralidade presente na cultura brasileira, o local foi aterrado. Assim, o público poderá ter contato com as tradicionais moradias indígenas, quilombolas e sertanejas. Terreiros de candomblé também foram contemplados.

Logo na entrada do Pavilhão do Brasil, elementos que remetem às habitações populares brasileiras poderão ser vistos. Um dos exemplos é o símbolo chamado de sankofa. Ele faz parte de um sistema de escrita africano conhecido como Adinkra e vem dos povos acã, da África Ocidental. Como foi muito usado em desenhos de gradis, é visto em várias cidades brasileiras.

Além disso, uma bandeira nas cores verde e rosa compõe a entrada do Pavilhão do Brasil, fazendo um contraponto ao símbolo nacional. A peça de Leandro Vieira traz os dizeres “índios, negros e pobres” no lugar de “ordem e progresso”. A mudança é um convite à reflexão, uma vez que esses são os sujeitos que evocam pela terra, usada pelos curadores como pano de fundo para a mostra.

Jonathas Andrade.

“Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, revelam Gabriela de Matos e Paulo Tavares.

A realização do Pavilhão do Brasil é fruto do trabalho articulado por diferentes atores, sob a liderança da Fundação Bienal de São Paulo e os Ministérios da Cultura e Relações Exteriores.