Inéditas de Pixinguinha ganham live no CCBB nesta quarta às 20 horas

22 de dezembro (quarta) às 20 horas.

Há uma alegria no ar. Chega ao público em 2022 uma seleção de obras inéditas de ninguém menos que o genial Pixinguinha, um dos músicos mais completos que o Brasil já produziu. Uma cuidadosa pesquisa no acervo do compositor, encampada no ano 2000 pelo Instituto Moreira Salles, se somou em 2017 à varredura no material em posse de outros compositores e instrumentistas. O resultado trouxe à luz mais de 50 músicas jamais gravadas – algumas, apenas tocadas em transmissões radiofônicas. O projeto tem patrocínio do Banco do Brasil.

O CCBB faz as honras da apresentação de 26 dessas pérolas, em um espetáculo que acontece a partir de janeiro nas unidades do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília – Pixinguinha como Nunca, dirigido pelo ator e cantor Marcelo Vianna, neto de Pixinguinha, direção musical do produtor e pesquisador Henrique Cazes e direção executiva de Lilian Barretto. Mas, nesse fim de ano, adianta algumas das peças em uma live no dia 22 de dezembro, seguida por um bate-papo com os músicos sobre o modo composicional de Pixinguinha e como os arranjos foram pensados para quais instrumentos. Serão apresentadas dez obras inéditas, em versão apenas instrumental, além dos clássicos Rosa e Carinhoso. Presentão de festas – um spoiler de luxo.

No palco do Teatro 2 do CCBB Rio, com transmissão gratuita, Henrique Cazes, com seu cavaquinho, estará à frente de um sexteto instrumental completado por Marcelo Caldi (sanfona), Carlos Malta (flauta e sax), Silvério Pontes (trompete e flugelhorn) Marcos Suzano (percussão) e João Camarero (violão de 7 cordas). Em participação especial, Marcelo Vianna. Os arranjos escritos por Cazes darão ênfase à perene modernidade do gênio do choro.

Pode parecer estranho que a obra de um nome tão impressionante da música brasileira, que alcançou tamanho respeito – Carinhoso, afinal, é tido como um hino não oficial da MPB – tenha ainda trechos de sombra. Henrique Cazes, que mergulhou na música de Pixinguinha há mais de 30 anos – fundou a Orquestra Pixinguinha, que saiu em disco em 1988, registrando as fantásticas orquestrações de Pixinga – vê algumas pistas. “Pixinguinha é uma figura mitificada, às vezes adorada, mas sua produção musical em si é pouco estudada”, diz. “Há circunstâncias históricas a considerar. Uma delas, a invasão das big bands americanas no rádio dos anos 1930, e a reação a isso foi transportar tudo o que havia antes para a gaveta do ‘passadismo’. O choro fica velho de um dia para o outro. E de certo modo, submerge para o grande público por longas décadas”.

Cazes vê ainda outra questão nessa ausência – cultural. “E, claro, há uma dificuldade de base, a de enxergar um homem negro como criador estruturante, e não como artista espontâneo. Portanto, o estudo de sua produção por muito tempo não se aprofundou na direção da sua finíssima técnica”. Na escolha dos músicos que compõem o sexteto do espetáculo, Cazes e Vianna miraram um pouco fora do círculo habitual do choro – “quis montar um som menos convencional, com presenças de Malta e Suzano, por exemplo”.

Marcelo Vianna e Henrique Cazes fizeram uma robusta série de aulas-espetáculos entre 2015 e 2017 em torno da obra de Pixinguinha – “Pixinguinha: as 5 estações”. O projeto da reunião das inéditas começou em 2018. A seleção das obras inéditas que estão no programa da live e também do espetáculo em 2022 segue a panorâmica de gêneros que Pixinguinha abordou. Choro, samba, polca, tango, o choro mais dolente, todo um arco com as composições dos anos 1910 até 1960. Das dez inéditas que estarão na transmissão, a mais antiga é de 1917 e a mais recente, de 1965.

“Na verdade, falar em 50 inéditas nos parece, diria, uma subnotificação”, avisa Cazes. “Pixinguinha entregava partituras sem cópia para músicos amigos, por exemplo, assim como orquestrações ficaram dispersas; o baú ainda reserva surpresas”.

Marcelo Vianna ressalta que essa é “uma nova chance de conhecer um dos maiores da música”. “Lido com esse acervo desde que me profissionalizei na música e no teatro, e tenho a percepção do herdeiro, mas também do brasileiro, com um orgulho infinito”.

Outra surpresa aguarda o público da turnê em 2022. As peças instrumentais reunidas vão ganhar letras de poetas contemporâneos da música. “Mas essa novidade só revelaremos em 2022”, avisa Marcelo.

Encantamento é palavra repetida pelos dois parceiros no projeto. “Em meio a tantas perdas, a música de Pixinguinha traz luz e energia”, garante Cazes, que tocou cada uma das partituras descobertas “com um prazer indescritível”. Marcelo, que lembra a proximidade do cinquentenário de morte de seu avô, em 2023, não tem dúvidas: Pixinguinha “é aqui e agora, contemporâneo, eterno”.

Programa da Live:

· Paraibana (Pixinguinha) valsa
· ‪Choro em Fá maior (Pixinguinha)
· Choro nº 7 (Pixinguinha)
· Feitiço (Pixinguinha) samba
· Foge de mansinho (Pixinguinha) choro dolente
· Luiz tocando (Pixinguinha) maxixe
· ‪Lembro-me do passado (Pixinguinha) polca choro
· No cacique do Armando (Pixinguinha)
· Para não te esquecer (Pixinguinha) choro canção
· Jagunça (Pixinguinha) polca vagarosa
· Rosa (Pixinguinha-Otávio de Souza)
· Carinhoso (Pixinguinha-João de Barro)

Pixinguinha como nunca – Live
22 de dezembro (quarta) às 20 horas
Transmissão online: YouTube canal do Banco do Brasil, diretamente do Teatro II do CCBB Rio