Hamilton Pereira toma posse na Secretaria de Cultura do DF.

Hamilton Pereira. Foto: Jeferson Paz.

A cerimônia de transmissão do cargo de Secretário de Cultura do DF atraiu cerca de quatrocentas pessoas à Sala Martins Penna do Teatro Nacional nesta segunda (3 de janeiro de 2011). Artistas, funcionários da secretaria e representantes do governo ansiavam para receber Hamilton Pereira na nova função, que já ocupara em durante o governo de Cristovam Buarque.

Antes da assinatura do termo de posse, houve a apresentação de artistas locais. A pianista Kátia Almeida e o violinista Thomas Koberstein executaram o Hino Nacional, Berimbau de Baden Powell e Nanã de Moacyr Santos.  A poeta Lília Diniz recitou “Os ombros suportam o mundo”, de Carlos Drummond de Andrade. A plateia deu as boas vindas de pé com fortes aplausos que precederam o discurso do novo secretário, que enalteceu a presença de Seu Teodoro, “símbolo da cultura popular” e de Vladimir de Carvalho, “o registro e memória desta cidade cinematográfica que é Brasília”.

“A partir de ontem a metade mais humana do nosso rosto assume o governo do país”, declarou ao referir-se à presidenta Dilma Rousseff, sem se esquecer de seu predecessor: “Foram cinco conferências entregues por Lula para que puséssemos de pé um projeto de cultura no Brasil para o século XXI”. Após trinta anos de militância no PT, Hamilton pretende trabalhar em parceria com diversos segmentos da sociedade em prol da construção de políticas culturais no DF.

O discurso teve o tom do poeta Pedro Tierra, seu pseudônimo artístico, com um reconhecimento histórico de grandes nomes que integram a gênese da cidade, como Darcy Ribeiro, Cláudio Santoro, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Bernardo Sayão e Israel Pinheiro.

Retrospecto que também mencionou os anos de ditadura em que esteve no cárcere e que mudaram completamente o destino proposto para a capital. “Em 1º de abril de 1964, o pesadelo da ditadura fez Brasília consolidar-se sob o reinado do terror”. A ausência de participação do cidadão que vivia em uma “ilha da fantasia”, negava as “concepções generosas de seu propósito original”.

Como militante, homenageou colegas de prisão em um momento de forte emoção que foi muito aplaudido. Houveram duras críticas aos dois últimos governos, onde a pilhagem de empreiteiras e equipamentos reafirmou a corrupção generalizada e um processo eleitoral em colapso. Criticou a gestão cultural que se limitou a alugar espaços públicos para a iniciativa privada. “Dois terços dos votos elegeram o novo caminho em uma recuperação do conjunto de propostas populares”, enfatizou ao referir-se à vitória de Agnelo Queiroz para governador.

“É cedo para afirmar que Brasília é a síntese do Brasil, só um século pode fazer isto. Brasília ainda é o espelho quebrado da cara do Brasil”, poetizou ao falar sobre a memória das gerações anteriores e a invenção inerente as gerações vindouras. Hamilton quer dialogar com produtores, artistas, associações, cooperativas, ONGs, representações diplomáticas e outros com vistas a “recuperar a dimensão da cidade com as políticas de cultura, com a estrutura da capital do Brasil do século XXI”.

O discurso foi encerrado com o anúncio de treze ações a serem realizadas pela Secretaria de Cultura nos próximos cem dias, seguido da apresentação da Festa da Morte do Boi pelo grupo Bumba Meu Boi do Seu Teodoro.