Brasília ganha revista que vai gerar renda para pessoas em situação de rua.

revista tracos
A Revista Traços ganha lançamento no dia 4 de novembro (quarta) na área externa do Museu da República. A ideia é que a publicação seja comercializada por pessoas em situação de rua, os Porta-Vozes da Cultura, em pontos estratégicos de Brasília. A revista custa R$ 5,00. Cada Porta-Voz da Cultura ficará com o lucro de R$ 4,00 e utilizará R$ 1,00 da venda para comprar nova revista e assim criar um ciclo de geração de renda.

“Foram dez anos de correria pra conseguir fazer o projeto acontecer. Ao longo do tempo até surgiram oportunidades de viabilizar a publicação, mas não o principal, que é o acompanhamento da pessoa em situação de rua. Quando fui conhecer outras publicações, percebi que é isso que garante o sucesso da iniciativa. É uma vitória. A gente conseguiu reunir grandes parceiros que possibilitaram as condições necessárias pra realizar o projeto”, explica o músico e jornalista André Noblat, idealizador e editor-chefe da Revista Traços.

A edição de estreia traz na capa o bandolinista candango Hamilton de Holanda, que é personagem de nossa entrevista especial. O artista fala sobre sua relação com a cidade e sobre seus inúmeros projetos. As fotos foram realizadas na Concha Acústica, em um fim de tarde deslumbrante, como costuma acontecer nos períodos da seca, pelo fotógrafo Bento Viana, responsável pela direção de fotografia da Revista.

Nesta primeira edição, os brasilienses também poderão conferir matéria especial sobre as ocupações culturais que estão mudando a paisagem do DF. A equipe passou pelo Plano Piloto, São Sebastião e Taguatinga para acompanhar essa mudança da relação da cidade com as pessoas que agora ocupam os espaços públicos de forma criativa e inventando novas maneiras de viver Brasília e as Satélites.

Na editoria Toca Raul, espaço dedicado às bandas e aos artistas da cidade, os leitores saberão mais sobre bandas Ataque Beliz e Scalene, fotografadas em belíssimas imagens tendo como cenário a Universidade de Brasília.

A editoria 3×4 é dedicada a contar a história de pessoas que vivenciam ou vivenciaram a rua. Na primeira edição, o público vai conhecer a história de Rogério, que há 15 meses superou a situação de rua. Sua vivência ilustra a importância do projeto e da Revista Traços para a visibilidade dessas histórias.

“Eu gostei muito de contar minha história. Ela saiu do escuro e agora muitas pessoas vão conhecê-la. A revista vai ser um empurrão pra muita gente, eu acredito demais nesse projeto, ele vai abrir um novo horizonte pra gente. A gente vai passar a ser conhecido, representar a cultura. A revista vai me reintegrar na sociedade. Acho que era o que faltava, ela vai colocar a gente em comunicação com a sociedade”, fala Rogério.

“A Traços é uma publicação cultural e Brasília está carente disso. É uma revista que vai sempre procurar mostrar a outra Brasília, ou as diversas Brasílias que formam essa cidade. A gente quer saber o que está sendo feito de produção cultural, mostrar novos talentos. Enfim, revelar essa outra cidade. A revista vai ter um bom conteúdo, é visualmente linda e ainda tem um projeto social maravilhoso, que é o que nos move também. A gente vai recuperar aquele jornalismo com missão, com responsabilidade social. As pessoas que vão comprar essa revista não vão comprá-la para ajudar o nosso vendedor, nosso porta-voz da cultura. Vão comprar porque a revista é boa. E por tabela vão ajudar também uma pessoa muito legal a ter uma nova oportunidade na vida”, reforça José Rezende Jr., escritor e jornalista, ex-repórter especial do Correio Braziliense, O Globo, IstoÉ e Jornal do Brasil, chefe de redação da Revista Traços. José Resende Jr. também é autor de três livros de contos, um livro infantojuvenil e ganhador do prêmio Jabuti de Melhor Livro de Contos em 2010.

“Convivendo no Centro Pop percebemos que o Estado já realiza um acompanhamento inicial com assistentes sociais, psicólogos e orientação jurídica. Então, vimos que existe uma demanda para geração de renda. Nesse contexto, o nosso acompanhamento vai buscar consolidar as pessoas nos pontos de trabalho, orientar a maneira como lidam com o dinheiro e auxiliar na transição para um trabalho formal. Vamos desenvolver um trabalho de motivação permanente com nossos Porta-Vozes da cultura, procurar mediar os conflitos. E um dos propósitos da Revista é ajudar a vencer preconceitos, consolidar a convivência dessas pessoas com a classe média”, explica Alexandre Rangel, coordenador da área social de Revista Traços.

A Revista Traços surge para valorizar o cenário cultural da cidade. O projeto pioneiro no Distrito Federal tem como meta aliar dois objetivos: oferecer jornalismo de qualidade, com espaço para poesia, literatura, artistas gráficos e fotógrafos, entre outros; e criar condições para que pessoas em situação de rua possam melhorar de vida.

Os vendedores da Revista Traços serão chamados de Porta-Vozes da Cultura e estarão identificados com coletes e bonés em bares, restaurantes, pontos comerciais, eventos culturais. Uma parceria com Abrasel e Sindhobar ajudou a sensibilizar os estabelecimentos comerciais que funcionarão como pontos de venda fixo do projeto.

Os beneficiários do Projeto foram selecionados no Centro Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) da 903 Sul e capacitados por meio de oficinas nas quais foram desenvolvidos diversos temas, entre eles: jornalismo, fotografia, vendas, além do código de conduta da Revista.

No total, serão 50 vendedores, e a ideia é que cada vendedor possa construir uma rede de clientes em seu ponto. Cada Porta-Voz da Cultura recebe gratuitamente um lote inicial de 30 exemplares. A revista custa R$ 5,00. Para vender mais revistas, os Porta-Vozes Culturais compram novas unidades ao preço de R$ 1,00. Dessa forma, cria-se um ciclo para geração de renda, conquista de autonomia e reconhecimento do trabalho.

Oficina do projeto. Divulgação.
Oficina do projeto. Divulgação.

Serviço: Lançamento da Revista Traços
Dia: 4 de novembro (quarta) às 19:30
Local: Área Externa do Museu Nacional
Informações: 9692- 9835 (Fábia Pessoa) e 9359 -2908 (Marcus Lacerda).