Rita Benneditto fala sobre música na pandemia, espiritualidade e a relação com Brasília no lançamento de “Com o afeto das canções”

O clipe de "Com o afeto das canções" vai ar ar na sexta (26 de março).

Fotos: Ana Alexandrino.

Rita Benneditto apresenta Com o afeto das canções ao lado de dois conterrâneos maranhenses: Joãozinho Ribeiro e Zeca Baleiro. O single saiu na última sexta (19 de março), pelo selo Saravá Discos (de Zeca Baleiro), com distribuição digital via ONErpm.

O videoclipe será lançado na sexta (26 de março), às 19 horas, no YouTube. A direção, produção e roteiro são de Thais Lima. O cenário, mais do que apropriado, é o Centro Histórico de São Luís e conta com um time de bambas no elenco.

O reggae de autoria de Joãozinho Ribeiro é a mensagem perfeita para estes tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Juntos, Rita Benneditto e Zeca Baleiro, passam uma mensagem contagiante na gravação inédita com produção musical e arranjo do maestro Zé Américo Bastos. A canção já constou do repertório de algumas lives da artista até ser gravada remotamente em estúdio. Um presente que gerou um bate-papo avonts com Rita Benneditto:

Acha – Começamos a entrevista com a tecnologia que nem sempre funciona. Como você tem se adaptado a este novo momento de lidar com o público virtualmente e ter que ampliar as ações da artista para outras frentes?

Rita Benneditto – “Esta questão pegou todo mundo de surpresa. A tecnologia veio e nos deixou muitos felizes com as possibilidades todas. De repente o mundo se tornou globalizado e todo mundo se conecta, está junto, ligado, mas por outro lado, ela nos trouxe também bastante confusão. Com este vírus que tomou conta do planeta, a gente teve que dar uma pausa bem grande para reflexão e entendimento do que estava acontecendo.

Infelizmente, a classe artística foi a classe mais atingida por estar impossibilitada de trabalhar, de aglomerar. Nós representamos um risco para a disseminação do vírus. Por conta disto, muita gente perdeu o emprego, parou de produzir, muitos shows foram cancelados e a gente teve que se reinventar na medida do possível no entendimento maior desta tecnologia. De repente, meu show passou a ser feito em casa com o cenário no fundo da minha sala, com duas câmeras e uma galera processando o som de forma diferenciada, com captação de som e mixagem direcionada para a transmissão da internet.

Realmente foi um baque! Acredito que todo mundo tenha vivenciado isto e ainda está vivenciando. Alguns acompanharam rápido, mas muita gente também não acompanhou. Alguns têm dificuldade com a tecnologia e demoram um pouco mais para fazer todo o processo. Nós estávamos tentando gravar a nossa entrevista, se ver e conversar em tempo real, mas não conseguimos.

É um processo de adaptação e ao mesmo tempo é desgastante porque você passa a ser roadie, técnico de som, cenógrafo, iluminador. E ainda fazer lives com seu lar exposto, com pessoas fazendo tudo dentro de casa. Mas tudo é uma questão de readaptação. O lance é não entrar em paranoia nem em loucura. A gente para, reflete e vê para que lado vai, qual o melhor caminho”.

Acha – Que bom que você não deixou de fazer música! A arte e principalmente a música no Brasil nunca foram tão importantes pra gente abstrair desta situação difícil e inesperada. Como você vê a música como um manifesto de positividade no Brasil atual?

Rita Benneditto – “Independente da situação atual, a música sempre foi um manifesto de positividade, elemento de transgressão, de transcendência, um alimento para a alma. A arte e a música conseguem realmente acessar a memória das pessoas, manter um povo unido, manter um país, uma história fortalecida. Independente da atual circunstância, a arte sempre foi necessária pra todos nós. Agora ela se tornou imprescindível, porque mesmo diante deste caos, o que tem salvo muito milhões de pessoas em todo o planeta é justamente a arte e música. As pessoas querem em casa uma música pra ouvir, uma live pra assistir, um livro pra ler, um filme pra ver, milhões de possibilidades de sair um pouco da realidade dolorosa e transcender através de uma canção ou mesmo assistindo um filme. Enfim, é arte que salva a todos nós desde sempre. É o que nos conecta com o que é divino, com o nosso espiritual, independente de religião, a coisa que é sagrada em nós. Agora mais do que nunca a arte é fundamental neste processo que estamos vivendo. É lamentável que justamente neste momento, uma das classes mais afetadas pela pandemia é justamente a artística, que não tem condição de produzir mais, sem estrutura para viabilizar mais alento, mais positividade, mais transcendência e mais força para as pessoas. Nós fomos todos muito afetados com muita gente sem trabalhar, sem ter o que comer, principalmente as pessoas que trabalham nos bastidores da música, como roadies, técnicos e carregadores.

Independente disto, a música salva, ela é pra mim um alimento da alma mesmo, ela é a lamparina, é o fogo sagrado que nos ilumina. Fico feliz que mesmo apesar de todo o caos e dificuldade, a gente continua acendendo este fogo pra que todo mundo tenha esperança e consiga passar, atravessar esta tormenta e superar este processo de dor e dificuldade que a gente está vivendo agora”.

Acha – Foi muito bom você ter falado sobre arte e espiritualidade. Interessante porque você nasceu no dia 13 de junho de 1966, Dia de Santo Antônio, Dia de Exu, no ano do Cavalo de Fogo. Parece que foi predestinada para aliar música e espiritualidade.

Rita Benneditto – “Eu adoro o dia do meu nascimento por ser Dia de Santo Antônio, Dia de Exu, início das festas juninas no meu Maranhão, por ser Cavalo de Fogo. Meus elementos são fogo e vento. Acho um dia sagrado e abençoado. Sempre que chega meu aniversário eu grito de alegria porque nasci neste dia. Fui perceber com o tempo que fui predestinada mesmo ao que faço hoje, só depois de já adulta, com um pouco mais de consciência e maturidade. Eu sei que fui uma criança muito espontânea e alegre, minha mãe e irmãs falam isto pra mim, eu sempre tive uma disponibilidade muito grande com a vida. Eu acho a vida uma benção mesmo com dificuldades, mesmo com a labuta, é um privilégio estar viva. Eu acordo e durmo feliz, sem nenhum Polianismo, só uma disponibilidade que tenho com a vida que acho que vem desta conjunção astral de ser geminiana, filha de Santo Antônio, Santa Rita de Cássia, de ter nascido no mês de junho. Parece que sou uma fogueira de São João, ou mesmo uma bandeirinha. Sempre me associo com esta alegria das festas juninas, das populares do Nordeste, então fui percebendo que tinha uma missão mesmo através do meu canto, da minha voz, da minha comunicação, que foi me dada a possibilidade de me comunicar. Este é o meu grande lance, me comunicar e como usar esta capacidade para transformar de alguma maneira o mundo, não de uma forma pretensiosa e arrogante, mas de uma forma sagrada. Eu canto, naturalmente além de cantar eu quero encantar, chegar às pessoas com mensagens de esperança, amor, alegria, força, coragem. Eu quero que elas escutem a minha voz e não apenas escutem a voz de uma cantora afinada e que tem um bom repertório, mas que a minha voz possa realmente tocar o coração de cada uma delas e com isto fazer com que elas também se conectem comigo nesta vibração de energia do universo, da positividade, de que a gente é capaz de transformar o mundo através do nosso próprio mundo, através da nossa força interna. Tenho até uma música que se chama “Mensageira da Canção” e fiz pra mim mesma, neste sentido de ser a mensageira, como se fala nos terreiros de candomblé eu sou o cavalo, o meio de onde passa as coisas, o fio condutor da energia. Então esta é minha grande missão, cantar e encantar e de alguma maneira deixar no mundo uma fogueira bem grande de força e luz pra todas as pessoas”.

“Com o afeto das canções”. Divulgação.

Acha – Isto vai ao encontro do lançamento do single “Com o afeto das canções” com você e Zeca Baleiro, que interpretam a canção de Joãozinho Ribeiro. Um reggae, ritmo de mensagens positivas.

Rita Benneditto – “Quando a pandemia começou e fui fazer umas lives aqui em casa, o Joãozinho Ribeiro, compositor maranhense, parceiro meu e de Zeca Baleiro, me enviou várias músicas pelo Whatsapp. E quando surgiu a pandemia, ele me enviou uma canção chamada “Amor Maior” que lancei no dia 12 de junho (Dia dos Namorados). A música falava do amor. Foi o que eu senti de imediato falando com o maestro que fez tanto o arranjo desta música (“Amor Maior”) quanto do single (“Com o afeto das canções”). Eu falava que precisávamos urgentemente ativar a energia do amor. Não o amor necessariamente do afeto, do namoro, da paixão, mas a energia universal do amor, transformadora, aquela faz despertar as pessoas para as mudanças necessárias no planeta, que era o que a gente precisava e precisa ainda, porque de repente tudo virou um canal de desespero, medo, ódio. Então eu achava que alguma coisa precisava ser feita, eu precisava mandar uma mensagem neste sentido. Aí gravei o single “Amor Maior” em junho do ano passado, e nesta live de lançamento já incluí “Com o afeto das canções”. Eu achei a música outra porrada de mensagem, quando ele diz: ‘Deixar que o mundo se dane, não! Que o amor não nos abandone em vão’. Ou seja gente: ‘Acorda!’ Vamos despertar para o mundo, vamos dar as mãos, nos unir, vamos vibrar positivo, agradecer, cuidar da natureza, vamos vibrar esta energia de amor.

Eu aprendi durante muitos anos com o Preto Velho Pai Benedito das Almas de Angola. Ele diz sempre que os humanos precisam entender o amor como uma grande e poderosa energia. A partir daí eu passei a entender o amor como uma energia fundamental. Aí passou-se quase um ano e decidi gravar esta música. Falei com o Joãozinho, ele adorou e sugeriu chamar o Zeca Baleiro. Somos amigos, parceiros, conterrâneos e temos um trabalho juntos há muitos anos. Confraria maranhense né: Zé Américo Bastos, Rita Benneditto, Zeca Baleiro, Joãozinho Ribeiro. Nós gravamos no final do ano e lançamos agora. A ideia é justamente esta de reafirmar, fortalecer a energia do amor e como você falou, utilizar um gênero musical que é por si só resistência, combate no sentido de permanência, transgressão e transcendência. A mensagem de Bob Marley era justamente esta de conscientização humana planetária, pelo amor, vida e natureza. Caiu perfeitamente esta força do gênero com a letra da música. O Joãozinho é um super mega poeta e manda ver mesmo na palavra. Aí juntou eu e Zeca. Para mim é a fórmula perfeita do sucesso e ainda cheia de amor. O afeto das canções”.

Acha – Você estava cantava uma música de Brasília quando começamos a conversa. Envie uma mensagem para a cidade.

Rita Benneditto – “Quando falava com você lembrei desta música de Djavan: ‘Céu de Brasília traço do arquiteto…’. Eu tenho uma relação maravilhosa com Brasília. Acho a energia da cidade muito boa, com uma galera muito especial. As cidades que não têm mar concentram mais a energia. As pessoas ficam mais pra dentro, o que é muito bom e às vezes nem tanto, porque você pode dar uma pirada e acho Brasília um pouco pirada. Por outro lado, ela é muito atenta e vibrante, as pessoas são muito ligadas na cultura, como em Curitiba e São Paulo. Nas cidades que têm mar as pessoas são mais dispersas. As cidades sem mar são mais concentradas e eu percebo isso quando vou aí. As pessoas são atentas ao que eu faço, estão abertas ao novo e ligadas no que vem de outras partes do Brasil. Eu adoro Brasília e realmente tenho um carinho muito grande com o público. Foram muitas experiências musicais ricas que tive aí. Infelizmente o polo político tem uma energia distorcida (Claro que há algumas boas exceções nessa trupe). Talvez porque estas pessoas não vivam aí, só vão três vezes por semana para sugar a energia da cidade. Mas para alguns, tanto faz quem é Brasília. Elas só querem passar dias ali e fazer besteiras. E ninguém aí está isento da loucura concentrada numa região sagrada, o centro de nosso país, uma região rica de pedras, energia esotérica e holística muito forte. Estas pessoas vão aí, passam três dias e sugam a energia do lugar. Quem é mesmo do lugar sabe da força e do axé que Brasília tem! 

Então eu quero deixar aqui o meu carinho, axé, agradecimento por todas as vezes em que eu fui acolhida e muito bem recebida pelo público de Brasília, por todas as vezes em que eu caminhei pelas grandes avenidas. Fui nos bares à noite, curti a galera e me diverti. Tem uma cachoeira linda perto da cidade que frequentei e era fantástica. As piscinas de águas naturais (Água Mineral). Enfim, eu pude vivenciar a cidade um pouco por outro lado, não só de ir lá rapidinho e fazer um show. Minha irmã e empresária Elza morou um tempo aí e pude viver um pouco de Brasília. Acho uma cidade muito especial, com pessoas muito especiais. Pessoas que realmente fizeram e fazem Brasília. Essa galera que passa aí três dias sugando a energia da cidade está boa de rever seus conceitos.

Também sei que o movimento do axé aí é muito grande. Fiz um show na Praça dos Orixás no Réveillon. Foi tão bom! Foi tão lindo e mágico! Então fico feliz porque a cidade tem um movimento holístico e de energia mesmo astral e espiritual muito grande. As pessoas estão conectadas com o universo e são elas de verdade que sustentam a cidade. Eu sou próxima ao céu de Brasília. Tão lindo!”