O mestre Rubem Valentim ganha mostra individual.

De 15 de março a 28 de maio.

Objeto Emblemático (1969). Fotos: Leonardo Ramadinha e Raquel Silva.

A mostra Rubem Valentim – Construção e Fé ocupa a Galeria Vitrine da Caixa Cultural de 15 de março a 28 de maio. A exposição revela ao público um rico panorama do trabalho do pintor e escultor baiano e sua inserção na arte nacional e internacional, privilegiando a produção pictórica e escultórica do artista com obras disponibilizadas de coleções públicas, particulares e dos herdeiros do artista. A curadoria é de Marcus de Lontra Costa.

Emblema (1978) .

Suas obras sintetizam em formas geométricas as simbologias místicas de matriz africana e se destacam na arte moderna construtivista e concretista brasileira. Um artista vanguardista que, ao residir em Brasília no fim da década de 1960, incorpora de forma única a tridimensionalidade à sua obra. Serão apresentados cerca de 60 trabalhos, entre pinturas, relevos e esculturas, que mapeiam sua trajetória artística com ênfase na produção realizada em Brasília. Um recorte inédito que resgata a negritude de sua arte e destaca a maturidade estética alcançada no período em que viveu na capital.

Emblema (1979).

Considerado um dos mestres do construtivismo brasileiro, suas primeiras experiências foram abstratas, contudo, em meados da década de 1950, movido por questões ideológicas, buscou sua ancestralidade africana e encontrou na cultura popular afro-brasileira as características que nortearam seu trabalho até o final da vida, em suas pinturas, esculturas e objetos, em uma trajetória artística avessa às modas. No entanto, para Marcus Lontra, a negritude na obra de Rubem Valentim sempre foi colocada em segundo plano, valorizando-se apenas o caráter construtivista de sua obra. “Mais além do construtivismo, e do seu trabalho de vanguarda, o fato é que ele se apropriou da simbologia do candomblé. Ao reduzir o símbolo à sua essencialidade primária, submetia-o à lei da pintura: proporção, simetria, cor.”, destaca Marcus Lontra. Assim, suas obras podem ser lidas por quem possui as referências da religiosidade afro-brasileira, mas seu trabalho não se resume à essa origem, ou ao que ela pode representar. “O trabalho de Valentim tem a autonomia de sua fantasia e assim será lido em tempos futuros. Sua pintura ultrapassa essa objetividade mais visível. Ele desenvolveu sua arte a partir de signos da cultura afro ao som de atabaques que reclamavam uma erudição.” assinala o curador.

Objeto emblemático.

A exposição é, portanto, um momento de consagração e valorização da questão negra na obra do artista, em uma luta de resistência contra os padrões estéticos vindos de fora. Reelaborando o pensamento construtivista, Valentim passou a empregar signos inspirando-se nas ferramentas e nos instrumentos simbólicos do candomblé, sintetizando-os nas formas geométricas. Para o crítico italiano Giulio Carlo Argan, a arte do brasileiro correspondia a uma “recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais”.

Escultura (1978).

Outra vertente da exposição são as obras produzidas no período em que o artista viveu em Brasília. “É onde Rubem Valentim adquire mais maturidade, influenciado pela monumentalidade da cidade, o cerrado, e a obra de Oscar Niemeyer”, afirma Marcus Lontra. Impactado pela espacialidade característica da cidade, para onde se mudou na década de 1960, Valentim sentiu a necessidade de recortar, do suporte bidimensional da pintura, seus símbolos e signos, concedendo-lhes a vida autônoma de objetos tridimensionais. Assim sua pintura transformou-se em esculturas e objetos: totens, altares e estandartes marcados por uma grave e mística religiosidade de matriz africana.

Sem título (1978).

É dessa época o mural de mármore feito para o edifício-sede da Novacap, considerado sua primeira obra pública. Em São Paulo, realizou a escultura de concreto instalada na Praça da Sé, um marco histórico na cidade. Reproduções dessas obras públicas tridimensionais fazem parte também da exposição. Há 20 anos sem uma mostra dedicada exclusivamente a sua obra, a exposição resgata para o público a produção de um artista que contribuiu de forma decisiva para a história da arte brasileira e agregou valores internacionais e da cultura afro-brasileira na construção das questões vanguardistas presentes no século XX.

Sem título (1970).

Serviço: Rubem Valentim – Construção e Fé
Local: Galeria Vitrine da Caixa Cultural (SBS Quadra 4, Lotes 3/4 – Edifício Anexo à Matriz da Caixa)
Visitação: De 15 de março a 28 de maio, de terça a domingo, das 9h às 21h
Informações: (61) 3206-9448 e (61) 3206-9449 www.caixacultural.com.br
Classificação indicativa: Livre
Entrada franca.