Silvie Eidam abre a mostra “Masculinidades” no Elefante Centro Cultural.

Até 21 de abril.

Fotos: Tiago de Aragão.

A mostra Masculinidades, de Silvie Eidam, ocupa o Elefante Centro Cultural (706 norte), com abertura no dia 4 de março (sábado), às 18 horas. As obras, divididas em dois andares, estão inseridas na discussão atual sobre representatividade, gênero, corpo e como a sociedade determina leituras, padrões e comportamentos. A artista propõe, no decorrer da mostra, uma desconstrução das leituras até então dominantes. A curadoria é de Manuel Neves.

“O feminino tem que ser trabalhado sempre. O masculino é tido como neutro. Não tem que se performar. Mas isso é um mito”, afirma Silvie. As duas séries, “Coreografias” e “Masculinidades” são de obras realizadas em tinta óleo sobre tela e exploram, principalmente, o jogo de luz e sombra bem como as expressões corporais e faciais.

Com raras exceções, na história da arte, as mulheres foram, durante muito tempo, colocadas à margem. Elas ocuparam, principalmente, o papel de modelos, posaram para que os homens as tornassem a imagem da beleza, do erotismo ou da maternidade santificada. O movimento feminista artístico começou, então, a reapropriar os corpos das mulheres, ao redirecionar e desconstruir o olhar, e a procurar novas linguagens integrativas. Em seguida, emancipou o objeto e tirou o poder do sujeito nas artes visuais. Os corpos deixaram de ser lidos e passaram a ser construídos, desconstruídos e reformulados.

No segundo andar do Elefante Centro Cultural, a artista explora a fluidez entre o sujeito e o objeto e a transitoriedade do sujeito. Nas obras da série “Masculinidades”, marcadas pelo jogo de luz e sombra, e por um trabalho minucioso ao pintar olhares expressivos, o objeto da imagem passa a ser o sujeito que olha de volta para o espectador. Cria-se uma relação mútua de transformação. Em cada pincelada, as ações performativas que consolidam a impressão de ser homem estão marcadas.

Apoiada, por exemplo, nos estudos e pesquisas da filósofa Judith Butler, a artista Silvie Eidam decidiu questionar o masculino contemporâneo. Para ela, o feminino sempre foi estudado. As mulheres são feitas, moldadas, ensinadas. Os homens ao contrário, para a sociedade, nascem prontos. São neutros. “Quais são as representações dessa masculinidade?”, indaga Silvie. Após a série, ela concluiu: “Não existe masculinidade homogênea. Os homens também sao submetidos a uma performance de gênero rígida e vigiada”.

Durante a pesquisa, a artista pediu para alguns amigos disponibilizarem suas fotos de perfil de uma rede social. Eles poderiam escolher a imagem que quisessem e que melhor os representavam. Era a vez de uma mulher pintar o masculino.

Na série “Coreografias”, exposta no térreo do espaço, a artista visual passa do questionamento do performativo de gênero para a expressividade dos corpos. Nessas telas, assim como nos mais recentes protestos de mulheres no Brasil, na Polônia e na Argentina, a estrutura física se revela como sujeito, cheia de significado e poder. Os corpos, entre movimentos de braços e pernas, passam a ocupar e ter espaço. Contudo, são corpos sem gênero, sem uma identidade. “Estaria na dança, na coreografia, a essência do indivíduo?”, indaga Silvie.

Atualmente, uma grande parte da vida cotidiana acontece nas redes sociais e na internet, ou seja, em uma realidade sem corpo. Mas, ao mesmo tempo, existe uma vivência crescente da experiência de ter um corpo. Em um mundo marcado por notícias sobre violência de gênero, racismo e preconceitos de todos os tipos, as mulheres são chamadas a se encarnar. Silvie, como artista e mulher, se encarna em cada pincelada dessa exposição para se expressar e instigar questionamentos e desconstruções.

Serviço: Masculinidades, de Silvie Eidam
Abertura: 4 de março (sábado) às 18 horas
Visitação: Até 21 de abril, de segunda a sábado, das 14h às 18h30
Entrada gratuita
Classificação indicativa: Livre
Local: Elefante Centro Cultural (W3 Norte, quadra 706, entre os blocos B/C, Loja 45)
Telefone: (61) 3541-3146.