Noite de entrega do Troféu Palmares reuniu sete divindades da música brasileira.

Texto e Fotos de Renato Acha.

Fundação Cultural Palmares premiou personalidades femininas que trabalham pela sociedade.  Este foi o diferencial desta terceira edição do Troféu Palmares 2010, que enfatizou a questão do gênero. A premiação aconteceu nesta sexta (20 de agosto) em cerimônia na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional.

A votação foi feita por meio de ampla consulta na internet entre os funcionários da Fundação Cultural Palmares e elegeu três baluartes dentre quinze indicadas. No campo religioso, a premiação foi para Mãe Neide Oyá D’ Oxum, fundadora da ONG GUESB (Grupo União Espírita Santa Bárbara) que auxilia comunidades desassistidas material e espiritualmente. Nas últimas enchentes em Alagoas, a ONG teve papel fundamental na ajuda diária com alimentação para a comunidade quilombola de União dos Palmares, que foi devastada pelas águas.

A atriz Chica Xavier recebeu o troféu no campo cultural por suas lutas contra o preconceito religioso e a favor da igualdade racial. Em 2009 recebeu o título de cidadã do Estado do Rio de Janeiro e o Diploma Zumbi dos Palmares da Assembleia Legislativa do Rio.

Alaíde do Feijão , como é conhecida Alaíde da Conceição é expert em culinária afro baiana e recebeu o prêmio no campo social. Seu restaurante homônimo no Centro Histórico de Salvador, sempre foi frequentado por figuras importantes na luta contra o racismo, e Alaíde sempre interagiu e viu nascerem grupos como o Ilê Ayê e o Oludum.

O presente da noite foi a apresentação de sete divas negras da música, que homenagearam Yemanjá ao interpretar grandes clássicos de Dorival Caymmi, Baden Powell, Vinícius de MoraesLenine.

As cantoras convidadas: Alaíde Costa, Daúde, Luciana Mello, Margareth Menezes, Mart´nália, Paula LimaRosa Marya Colin se reuniram em um belíssimo show em que se apresentaram em duetos e no final todas juntas.

Mart´nália e Margareth Menezes. Foto de Renato Acha.

O concerto intitulado “Mães D´Água – Yeyê Omó Ejá” contou com a direção de Fábio Espírito Santo e o maestro Ângelo Rafael Fonseca acompanhou a Osquestra Sinfônica do Teatro Nacional nas performances das grandes cantoras. Todos vestidos de branco em um palco com sete enormes vasos de louça branca com flores amarelas e brancas em homenagem a Yemanjá, que foi retratada em suas sete qualidades:

1. Yemoyo – Mulher de Oxalá, e que protege os filhos com suas sete anáguas;
2. Ogunté – Guerreira, vive no encontro da água com as pedras;
3. Yewa – Vive no meio do oceano, no lugar onde as sete correntes oceânicas encontram-se. É frequentemente confundida, em algumas lendas, com Yemanjá;
4. Assabá – Representa as profundezas do mar e está sempre fiando algodão;
5. Yamassê – Mãe de Xangô, vive nas espumas do mar;
6. Olossá – Vive na água doce, é feminina e vaidosa;
7. Yasessu – Ligada à gestação, é voluntariosa e respeitável. Vive em águas agitadas e sujas;

Paula Lima e Luciana Mello. Foto de Renato Acha.

As apresentações foram emocionantes e agradaram o público que deixou a Sala Villa-Lobos lotada e participou euforicamente do bis em que todas cantaram juntas em uma festa memorável.

O Acha Brasília conversou com Mart´nália logo após o show, em que foi ovacionada pela plateia. Ela falou eufórica sobre o encontro das cantoras e o reconhecimento progressivo que o negro obteve na sociedade.

Mart´nália. Foto de Renato Acha.

Foi muito emocionante ver as figuras que representam o Brasil, cada uma de sua forma. A Fundação Palmares originou essa coisa mais nossa, da luta e do respeito pelo negro, e agora comemora 22 anos de uma coisa que é difícil e eu vejo assim muito por conta do meu pai. É muito bom estarmos aqui representados, imagina, cantar com uma orquestra neste lugar gostoso e pra essa muvuca. Isto é mais uma coisa feita com alegria, com a nossa força e energia. Eu não sei em relação às outras cantoras, mas eu sou macumbeira.

Pedimos para Mart´nália voltar aos palcos da cidade porque Brasília adora sua presença, assim como de todas estas divas que representam a cultura negra do país.

Parabéns a Fundação Cultural Palmares, que se firma no cenário nacional por meio de sua atuação em prol da luta contra o preconceito e pela igualdade entre as raças.

E vale lembrar que o Dia da Consciência Negra se aproxima e que o Edital Ideias Criativas para 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra está aberto até o dia 16 de setembro.

Vinculado ao Ministério da Cultura, o edital visa apoiar ações inovadoras de valorização da cultura afro-brasileira e contempla agentes culturais, produtores e professores e também entidades privadas. Em cada região serão selecionados dois projetos na categoria Individual e um projeto na categoria Entidade, com prêmios de R$ 20.000,00 e R$ 60.000, respectivamente.

O Edital pode ser visto no site www. palmares.gov.br.

Alaíde Costa. Foto de Renato Acha.
Daúde. Foto de Renato Acha.
Margareth Menezes. Foto de Renato Acha.
Mart´nália e Virgínia Rodrigues. Foto de Renato Acha.
Rosa Maria Coryn. Foto de Renato Acha.
Vovô do Ilê, Mãe Neide Oyá D´Oxum e Virgínia Rodrigues. Foto de Renato Acha.
Mart´nália pede a benção à Mãe Neide Oyá D´Oxum. Foto de Renato Acha.