Renato Acha
A Ossos dos Ofício Confraria das Artes celebrou dez anos na segunda (22 de agosto) e lotou a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional com o projeto Cultura Instrumental, que apresenta célebres nomes da rica música brasileira.
A noite começou com a apresentação do grupo AQuatro composto por Dudu Maia (bandolim de 10 cordas), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Valerinho (pandeiro) e Fernando César (violão de 7 cordas). Dudu Maia é um expert que conquista cada vez mais espaço na cena nacional e internacional com seu trabalho como instrumentista, compositor, arranjador e produtor musical.
Acompanhado por excelentes músicos, o grupo apresentou composições como “Brejeiro”, um maxixe de Ernesto Nazaré e as composições próprias, como “Não tem Coré Coré” e “Saruê Bengala”, criadas no sul da Bahia durante turnê por terras nordestinas.
Dudu Maia também possui composições em parceria com o músico Alex Souza, do grupo Caraivana, do qual também é integrante. Uma rica geração de jovens virtuoses que penetram o coração de um público ávido por músicas autorais e interpretações de clássicos da MPB, repletas de originalidade e leveza.
Em seguida, o instrumentista Jaime Ernest Dias adentrou o palco acompanhado por José Cabrera (teclados), Rafael dos Santos (bateria) e Hamilton Pinheiro (contrabaixo). O violonista, arranjador e compositor apresentou composições que homenagearam lugares e pessoas que passam por sua vida, como “Vila Rica” (1986) e “Canção para Lucas” e “Cecília”, singelas homenagens a seus filhos.
Depois apresentou, entre outras, “Pintando o Sete” e o clássico “Rosa”, de Pixinguinha, em linda e extremamente aplaudida interpretação. Para encerrar convidou sua esposa, a violonista Liliana Gayoso de Moura, para adentrar o palco e encerrar a apresentação com alma feminina.
A noite foi encerrada em grande estilo com Yamandu Costa, virtuose que angariou reconhecimento mundial frente ao seu violão de sete cordas. Uma verdadeira entidade tomou conta do palco da Sala Villa-Lobos desde os primeiros acordes de seu instrumento, uma vara mágica que enfeitiçou uma plateia atenta, que se regozijou diante de composições que remetem a elementais da natureza, homenagens a sua esposa francesa e sua filha de quatro meses de idade, com uma canção de ninar que levou o público ao mundo dos sonhos ou às ondas do mar como uma sereia que desliza sobre fluidas ondas. Um artista de alma simples e que traz em si a presença da beleza onipresente. Muito feliz com a excelente acolhida dos brasilienses, fez comentários afiados, entre goles de chimarrão, e elogiou a excelente qualidade do som.
“Uma vez fui tocar em outra cidade e um cara gritou: ‘Garfield, toca Raul’. O cara estava doido, mas estava certo. Esta vida boa engorda”, bradou seguido de gargalhadas e aplausos. A seguir homenageou o memorável instrumentista Rafael Rabelo: “O Rafael pensava na tradição da música. Eu, o Hamilton de Holanda e vários outros músicos, somos filhos do Rabelo, musicalmente falando. Isto vem dando certo, pois já existem netos dele e a Escola de Choro de Brasília.”
Muito simpático, Yamandu Costa recebeu vários fãs para autografar seus CDs, logo após o show. Da Sala Villa-Lobos seguiu para o restaurante Severina, onde aconteceu uma festa em clima nordestino para convidados. Uma década da Ossos do Ofício não poderia realmente passar em branco, pois trata-se de um importante instrumento na criação, difusão e produção artística.
Vida longa para a Ossos. Evoé!