Catalisadora de interações interculturais e intersubjetivas intensas, a Aldeia Multiétnica, que reúne representantes de diferentes povos indígenas durante o 16º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, chega a sua 10ª edição. Para quem pretende viajar para a Chapada dos Veadeiros nessas férias, o próximo fim de semana garante momentos e ensinamentos para guardar na memória e no coração.
A Aldeia acontece até o dia 22 de julho, quando os índigenas entregam o Encontro para os mestres, grupos de cultura tradicional, artistas populares e convidados que participam da segunda parte do evento, realizada na Vila de São Jorge, distrito do município goiano de Alto Paraíso.
A cerimônia de abertura da Aldeia teve início com a benção de Raimundo Dessana, Pajé Kissibi: “Aqui não existe pra nós racismo. Preto, amarelo, vermelho, todos nós temos um sangue. Todos de um criador, nosso Deus. Mãe Terra, pai Sol, símbolo fogo. Esse é o poder que nós temos, os indígenas. Água viva, pedra viva, planta viva, folha viva, como nós.”
Pronto! O instinto de união estava invocado e daí em diante foi só calor humano e celebração. Dessanas, Kayapós, representantes do Alto Xingu, Krahôs e Fulni-ôs, compartilharam com os presentes os rituais que eternizam seus saberes. Assistiram, filmaram e aplaudiram uns aos outros.
E a festa continua! No decorrer da semana, cada dia na Aldeia Multiétnica será dedicado à uma das etnias indígenas, que compartilhará seus cantos, danças, rituais e modos de fazer com os presentes.
Esse ano, a Aldeia tem como tema norteador “Dez anos de Aldeia Multiétnica: comunicação, saberes tradicionais e novas linguagens”. As rodas de prosa contam com a participação de lideranças indígenas, pesquisadores, estudantes, ativistas das causas sociais, lideranças comunitárias, representantes do poder público, educadores populares, artistas e comunicadores na discussão de um novo mundo.
A polifonia das prosas que emerge das rodas abarca vários temas, como extrativismo sustentável, segurança alimentar dos povos indígenas, artesanato indígena e economia criativa, convenções da Organização Internacional do Trabalho, dentre muitos outros. Debatem-se assuntos urgentes da vida política presente, compartilham-se costumes e saberes ancestrais e abrem-se janelas para a construção de um futuro comum. Proseando é que se vão tecendo teias de solidariedade e resistência, circuitos de circulação de sabedorias. Cada um daqueles que toma a palavra busca sintetizar experiências vividas no esforço de tornar comum uma riqueza partilhável. E há magia infinda em perceber que a realidade fica enriquecida, e não diminuída, pela partilha.
A multiplicidade de oradores que se manifestam, buscando harmonizar suas diferenças, revelam várias abordagens sobre o poder do verbo e o trato correto com a palavra. A 10ª Aldeia Multiétnica raiou sob o impacto de eventos recentes, como a onda de ocupações e protestos do #OcupaFunai, que atingiu seu auge poucos dias antes do início do 16º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiro, em 13 de julho.
Esta sinfonia polifônica de debates e partilhas constitui um mosaico onde passado, presente e futuro marcam presença conjuntamente. As rodas de prosa servem à transmissão dos saberes e fazeres consagrados que mantêm viva a chama da memória coletiva, mas também para discutir problemas candentes do presente que demandam a urgente ação coletiva. Assim deliberam-se rumos para a construção do futuro, no qual nada impede que floresçam iniciativas inovadoras e cheias de potencial, como a própria Aldeia Multiétnica e sua Tenda Multimídia Indígena.
Serviço: 10ª Aldeia Multiétinica – 16º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros
Data: Até 22 de julho
Local: Vila de São Jorge (Chapada dos Veadeiros).
