Ana de Hollanda assume o Ministério da Cultura.


Ana de Hollanda. Foto: Renato Acha.
Logo na entrada do auditório do Museu Nacional já havia um prenúncio do que seria a cerimônia de transmissão de cargo de Juca Ferreira para Ana de Hollanda. Uma amálgama de sons e cores sobrepostos em um uníssono não ensaiado, como uma orquestra espontânea. Ouvia-se o grupo de percussão Batalá ao lado de gaitas de fole de um jovem grupo militar, ladeado por um xote animado seguido do “povo de santo” belamente vestido. Pernas de pau conduziam para um grupo de senhoras capoeristas que sorriam ao lado do encantador maracatu com batuque e indumentária impactantes que levavam a um grupo da bateria e passistas da Escola de Samba Aruc.

A diversidade do Brasil presente simultaneamente em poucos metros quadrados arrepiava quem se dirigia ao auditório lotado por cerca de mil pessoas, com representantes de todas as áreas. Artistas como a cantora Sandra de Sá, o ator José de Abreu, Ricardo Ohtake, a cantora Rosemary, Marcelo Gentil do Olodum, representantes governamentais brasileiros e estrangeiros, como o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, Fernando Haddad (Educação) Márcio Meira (Funai), o senador Eduardo Suplicy, que não perdeu a oportunidade de causar e sambou com a Aruc e atraiu todos os flashes. Haviam muitos funcionários do MinC e artistas locais, todos presentes para prestigiar um momento histórico para o país.

GOG foi o mestre de cerimônias e iniciou a apresentação com um agradecimento ao ministro Juca Ferreira e seu predecessor, Gilberto Gil. “Que Brasil pegamos e que Brasil temos hoje!”, bravou o rapper seguido de aplausos de agradecimento da plateia que ficou de pé.


GOG. Foto: Renato Acha.

Em seguida, Juca Ferreira se despediu e destacou os avanços e conquistas nestes oito anos de governo Lula. A emoção permeou o discurso que foi interrompido por duas vezes com lágrimas seguidas de aplausos efusivos dos presentes. Leia trechos de destaque:

Despeço-me do MinC com a certeza do dever cumprido. Fomos além dos deveres e das obrigações. Nesses oito anos, nós, dirigentes e servidores, nos dedicamos de corpo e alma a fazer de um ministério inexpressivo, como o que pegamos dos governos anteriores, um poderoso instrumento de apoio aos artistas e às políticas culturais.

A cultura em nosso país, na gestão do governo Lula, passou a ser tratada como primeira necessidade de todos, tão importante quanto comida, habitação, saúde etc. Esta foi uma grande vitória. Talvez a maior de todas, na nossa área. Colocamos a cultura no patamar das políticas públicas mais importantes no Brasil. Contribuímos para que a cultura fosse incorporada ao projeto de desenvolvimento do país. E fomos além: federalizamos, democratizamos e descentralizamos as ações do Ministério da Cultura; procuramos seguir rigorosamente a orientação do presidente Lula, de atuar dentro dos padrões de um Estado democrático, republicano e responsável com o desenvolvimento cultural do país.

Deixamos como legado um novo marco institucional e legal para a cultura brasileira. Um marco em construção, com peças importantes que foram amplamente debatidas e consensuadas pela sociedade. Os projetos de lei que ainda tramitam no Congresso – a quem agradeço pela parceria, compreensão e apoio -, tais como o Procultura e o Vale Cultura, entre outros, complementam essa nova institucionalidade favorável ao desenvolvimento cultural do país. A modernização da legislação do direito autoral no Brasil é uma necessidade para garantir tais direitos aos criadores e possibilitar o desenvolvimento de uma economia cultural saudável, capaz de conviver com o ambiente criado pelas novas tecnologias.

Desejo muito boa sorte e sucesso ao novo governo que agora começa e à ministra, e me coloco disposto a colaborar com tudo que estiver ao meu alcance para que conquistemos o Brasil que queremos”.


Ana de Hollanda e Juca Ferreira. Foto: Renato Acha.

Em sua fala, Ana de Hollanda reconheceu os resultados:

O que recebemos hoje aqui é um legado positivo de avanços democráticos. É uma herança de um governo que se compenetrou de sua missão de fomentador, incentivador, financiador e indutor do processo de desenvolvimento cultural do país”.

A ministra garantiu manter a ampliar as conquistas durante a gestão de Dilma Rousseff na presidência e mais, ir além ao buscar a inovação:

É claro que vamos dar continuidade a iniciativas como os Pontos de Cultura, programas e projetos do Mais Cultura, intervenções culturais e urbanísticas já aprovadas ou em andamento.

Quando queremos levar um processo adiante, a gente se vê na fascinante obrigação de dar passos novos e inovadores. Esse será um dos nortes da nossa atuação no Ministério da Cultura: continuar e avançar”.

Com a plateia repleta de representantes do Congresso Nacional, Ana de Hollanda não vacilou e pediu apoio para a aprovação do Vale Cultura:

E aproveito a ocasião para pedir uma primeira grande ajuda ao Congresso, aos senadores e deputados agora eleitos ou reeleitos pela população brasileira: por favor, vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale Cultura, para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora. Cesta que não deve ser apenas “básica” – mas básica e essencial para a vida de todos. Em suma, o que nós queremos e precisamos fazer é o casamento da ascensão social e da ascensão cultural. Para acabar com a fome de cultura que ainda reina em nosso país”.

O incentivo a áreas em expansão vai estar aliado ao apoio à criatividade e aos criadores:

A criatividade brasileira chega a ser espantosa, desconcertante, e se expressa em todos os cantos e campos do fazer artístico e cultural: no artesanato, na dança, no cinema, na música, na produção digital, na arquitetura, no design, na televisão, na literatura, na moda, no teatro, na festa.

Pujança – é a palavra. E é esta criatividade que gira a roda, que move moinhos, que revela a cara de tudo e de todos, que afirma o país, que gera emprego e renda, que alegra os deuses e os mortais. Isso tem de ser encarado com o maior carinho do mundo. Mas não somente com carinho. Tem de ser tratado com carinho e objetividade. E é justamente por isso que, ao assumir o Ministério da Cultura, assumo também a missão de celebrar e fomentar os processos criativos brasileiros. Porque, acima de tudo, é tempo de olhar para quem está criando”.

A ministra garante pulso firme e sensibilidade em um jeito pessoal de lidar e incentivar o fazer artístico:

O que interessa, agora, é saber fazer. Mas, também, saber escutar. Quero que a minha gestão, no Ministério da Cultura, caiba em poucas palavras: saber pensar, saber fazer, saber escutar. Mas tenho também o meu jeito pessoal de conduzir as coisas. E tudo – todas as nossas reflexões, todos os nossos projetos, todas as nossas intervenções –, tudo será feito buscando, sempre, o melhor caminho. Com suavidade – e firmeza. Com delicadeza – e ousadia.

Mas, volto a dizer, e vou insistir sempre: com a criação no centro de tudo. A criação será o centro do sistema solar de nossas políticas culturais e do nosso fazer cotidiano. Por uma razão muito simples: não existe arte sem artista.

Muito obrigada”.

José de Abreu. Foto: Renato Acha.
Antônio Patriota (Ministro das Relações Exteriores) e Ideli Salvatti (Ministra da Pesca e Aquicultura). Foto: Renato Acha.
Sandra de Sá. Foto: Renato Acha.
Senador Eduardo Suplicy. Foto: Renato Acha.