Antony Gormley fala sobre Brasília e sua obra.

Antony Gormley. Fotos: Renato Acha.

Renato Acha

Antony Gormley recebeu a imprensa horas antes de abrir sua maior mostra retrospectiva em Brasília. Depois do sucesso de público no Rio de Janeiro e São Paulo, a mostra Corpos Presentes – Still Being, com curadoria de Marcello Dantas, ocupa todas as galerias do CCBB e o centro da cidade.

As vias públicas são a plataforma para se estabelecer o diálogo entre as esculturas humanas em tamanho real e o que as circunda, onde tudo ganha uma escala que transcende a tridimensionalidade, tal qual o trabalho de Gormley, milimétrico e científico, mas intimamente ligado à alma de um artista sensível e visionário.
Critical Mass.

O artista britânico conversou com o Acha Brasília e falou sobre a cidade que agora recebe suas esculturas.

Acha – No que diz respeito à arquitetura, qual a relação entre suas obras e o espaço urbano?

Antony Gormley – “Eu decidi não interferir na arquitetura de Niemeyer porque seria uma decoração do trabalho de um outro artista. Acho que Brasília é realmente uma escultura em que as pessoas vivem e seria uma tautologia, a arte pela arte. Não é este o ponto.

Gosto da ideia de colocar os trabalhos em relação aos carros e os pedestres, com esta referência à distância que Niemeyer usa, para articular a sua visão. É um paradoxo para mim, mas Brasília é um paradoxo. Ela é bela e inspiradora, mas em outro nível, porque tem um fundamento, é um ideal utópico, uma coisa criada e não algo que cresceu.

A cidade causa um tipo de alienação e sofrimento. É algo engraçado, porque eu a acho visualmente incrível, mas andar do Congresso Nacional ao Teatro Nacional é exaustivo. Você se sente como uma pequena formiga em um enorme espaço. Não há conexão. Isto me lembra alguns lugares como a Praça Vermelha e e algumas partes da Varsóvia, bem dentro daquele fundamento socialista.”

Amazonian Filed.

A obra Amazonian Field foi produzida em 1991 com cerca de sessenta ajudantes, moradores de favelas ao redor de Porto Velho. A primeira exibição da obra ocorreu no Museu de Arte Moderna (MAM) durante a realização da Eco 92. Gormley poetiza sobre esta obra arrebatadora, em exibição no subsolo da Galeria 1.

“São aproximadamente 25 mil peças, cada uma feita individualmente. É um tipo de liberação, uma ocupação do espaço e te faz sentir culpado. Nós somos os que não têm voz, aqueles sem lar, nós somos os não nascidos, os não reconhecidos, nós somos o futuro.

Vocês têm liberdade, pensamento, sentimento. O que vamos fazer sobre o mundo que as pessoas herdaram? Estas são criaturas que gritam para existir. Suas cores vem do fogo, são sombras de uma paisagem desértica ou a pigmentação de várias raças na superfície da Terra”.

Breathing Room. Galeria 2.
Drift III.Flesh.Floor.
Sum.

Serviço: Antony Gormley – “Corpos Presentes” – Still Being
Visitação: De 23 de outubro de 2012 a 6 de janeiro de 2013

De terça-feira a domingo, de 9 às 21 horas

Classificação indicativa: livre

Entrada franca

Centro Cultural Banco do Brasil Brasília
SCES, Trecho 02
Informações: (61) 3108-7600