A curadora conversou com o Acha Brasília e revelou detalhes desta mostra que tem obras representativas e proporciona uma excelente aula de arte e história contemporâneas:
Acha – A exposição apresenta um recorte contemporâneo da arte islâmica em um momento que o mundo volta os olhos para o Oriente Médio. Como você vê esta relação entre oriente e ocidente e qual o papel educativo e esclarecedor da mostra?
Anya – “Eu acho que a exposição traz esta relação que está sempre presente na obra dos artistas e este diálogo por vezes complexo entre Ocidente e Oriente está em muitas obras. Por exemplo, as fotos de Shadi Ghadirian apresentam mulheres no estúdio no final do século XIX e início do século XX. A mulher introduz elementos anacrônicos neste contexto, como o rádio e o aspirador de pó.
A vídeoarte de Wael Shawky mostra o artista em uma caverna, decorando um capítulo do Corão e recitando este capítulo totalmente alheio a este exercício de memória, onde mistura o caráter religioso e o do consumo, pois ambos criam os próprios rituais e esquemas onde convivem, porém não se cruzam. É interessante ver como estes diálogos refazem parte do contexto.
Alguns artistas criam obras um pouco premonitórias com relação a estes conflitos que ocorrem hoje em dia. São crônicas do mundo contemporâneo em várias camadas em um contexto antiquíssimo no qual o homem é herdeiro de uma longa história que chega aos dias de hoje. Esta noção de história que o homem carrega é transitória e dinâmica. A exposição acentua a noção desta consciência e o papel ativo que o intelectual pode ter no momento da guerra.
A mostra visa mobilizar o pensamento em relação a esta sociedade que conhece o oriente mais pelos jornais, que são factuais, do que pelo contexto real. Os artistas presentes abordam a complexidade do pensamento. Eles falam dos problemas do homem contemporâneo original. Estas obras poderiam ser feitas por um artista brasileiro também, pois eles falam dos problemas humanos e como se mover entre culturas diferentes.
Estou feliz por fazer esta exposição em um momento que coincide com os atuais fatos. As obras já estão falando desta insatisfação e necessidade de mudança. O contexto foi bem oportuno”.
Serviço: Miragens: Arte Contemporânea no Mundo Islâmico
Visitação: 11 de maio à 08 de junho de 2011
Horários: terça à domingo, das 9:00 às 18:30
Local: Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Esplanada dos Ministérios)
Entrada Franca
Classificação Indicativa Livre.