“Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar” em temporada no Teatro do CCBB

Até 27 de agosto.

Fotos Julia Zakia.

O espetáculo “Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar” ganha temporada no Teatro do CCBB Brasília até 27 de agosto. Inspirado no episódio da invasão holandesa em Pernambuco, no século XVII, quando a região era a maior produtora de açúcar do mundo, o espetáculo mescla passado e presente. A trama se desenrola a partir da tentativa de reproduzir o momento em que Anna Paes, dona de engenho da época, escreve um bilhete para o aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. O bilhete está guardado até hoje no Arquivo Nacional dos Países Baixos.

Anna Paes, uma mulher considerada à frente de seu tempo, que sabia ler e escrever, algo raro para a época, assumiu também a administração de um dos maiores engenhos de Pernambuco com a morte do marido. Valores positivos para esse início de modernidade, como liberdade e emancipação, vão sendo desmontados, revelando a grande farsa do projeto que deu início a esse empreendimento açucareiro, já que ele só existiu graças à escravidão. 

O idealizador, dramaturgo e diretor da obra, Marcos Damigo, enfatiza: “É uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar a forma como nos enxergamos e, assim, talvez, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos.”

O produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini, adianta que a peça provoca reflexões profundas. “A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui, questionamos não apenas os reconhecimentos em si, mas também seus privilégios e as barreiras que precisam ser superadas para alcançar um lugar diferente”, afirma Bortolini.

Com sucesso de público e crítica em sua estreia em maio, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o espetáculo tem “cenas que revelam lugares mais oblíquos do racismo, justamente por parte daquelas personagens que se veem como artistas ‘antirracistas’”, afirma a crítica Júlia Guimarães no site Horizonte da Cena.

“Nessa primeira temporada foi interessante ver como o espetáculo toca as pessoas de maneiras tão diferentes, dependendo de onde você se situa em relação às questões que emergem em cena”, conta o diretor Marcos Damigo. “Em Brasília, esperamos receber também pessoas de diferentes gêneros, raças e idades, pois essa diversidade de olhares também compõe a obra e inclusive atribui sentido a ela”, complementa.

A atriz Carol Duarte, que interpreta o papel de Anna Paes, destaca a importância de abordar a barbárie histórica do país. Mas, ressalta, “como podemos olhar para o passado sem reparar que os pilares desse país foram sustentados pela escravidão? Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos erradicar qualquer indício dessa herança escravocrata, restaurando o lugar devido para aqueles que foram capturados e para aqueles que ainda são oprimidos”, afirma a atriz.

Além de Carol Duarte, o elenco traz Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, que também assina a dramaturgia da obra; Jamile Cazumbá, artista baiana que transita pelo audiovisual e a performance; e Leonardo Ventura, ator consagrado em obras dirigidas por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral; além de Adriano Salhab, que assina a direção musical do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo em cena, com músicas originais.

Destacando-se tanto na atuação quanto na dramaturgia, o ator e poeta Ermi Panzo explora a reconstrução desse período para revelar a existência do racismo como herança da escravidão, e suas implicações nos modos de nos relacionarmos com a própria ideia do trabalho. “A obra traz uma representação vívida do cenário dinâmico do trabalho da época, que resulta em um conjunto de elementos que caracterizam a precariedade das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade, especialmente para a maioria negra”, explica Panzo.

Com duração de aproximadamente 80 minutos, “Babilônia Tropical” oferece ao público uma experiência sensorial rica e instigante, com música ao vivo e recursos audiovisuais, utilizando desde imagens de arquivos históricos até filmagens realizadas em estúdio por uma equipe audiovisual, com imagens de grande impacto e beleza.

O projeto recebeu apoio da Embaixada dos Países Baixos para o desenvolvimento da dramaturgia, o que possibilitou uma viagem do autor Marcos Damigo a Pernambuco, bem como a participação do historiador Daniel Breda no processo de pesquisa, além de uma primeira imersão com o elenco da peça em 2022. O resultado dessa investigação pode ser conferido a partir do dia 3 de agosto.

A peça que estreou no CCBB Belo Horizonte, após passar pelo CCBB Brasília, já tem temporadas confirmadas no CCBB São Paulo e no CCBB do Rio de Janeiro.

Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar
Drama Histórico
Até 27 de agosto
Horário: Quinta a Sábado, 19h30 | Dom, 18h
Teatro do CCBB (SCES Trecho 02 Lote 22)
Classificação indicativa: 14 anos
Duração do espetáculo: 84 minutos
Ingresso: R$ 30,00 (inteira), e R$ 15,00 (a meia para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência (e acompanhante, quando indispensável para locomoção), adultos maiores de 60 anos e clientes BB), à venda em www.bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB Brasília
Capacidade do teatro: 327 lugares (sendo 07 espaços para cadeirantes e 03 assentos para pessoas portadoras de obesidade)