Cai Guo-Qiang chega ao Brasil com grande mostra.

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Foto: Joshua White/JWPictures.com, cortesia The Museum of Contemporary
Art, Los Angeles.

Renato Acha

A cultura chinesa tem uma certa tradição em construir projetos de engenharia ambiciosos, sem uma real necessidade prática. Criações como helicópteros, aviões e robôs são parte integrante deste hábito peculiar a alguns camponeses, em contraponto ao suposto pragmatismo oriental.

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Li Yuming. Twilight No. 1 (2004). Foto: Lin Yi, cortesia Cai Studio.

Cai Guo-Qiang se interessou por estas máquinas quando conheceu o submarino Twilight No. 1, construído por um fazendeiro da província Anhui, chamado Li Yuming. “Entrei em contato com ele durante o feriado de Ano Novo Chinês de 2005, quando adquiri o submarino, a primeira peça de um camponês a integrar minha coleção.”

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Li Yuming. Twilight No. 1 (2004). Foto: Lin Yi, cortesia Cai Studio.

O artista cultivou o hábito do colecionismo, interferiu em algumas obras, além de realizar diversas ações em que o público de cada cidade é co-criador. O resultado desta compilação chega ao Brasil, com a primeira parada em Brasília. A mostra “Cai Guo-Qiang: Da Vincis do Povo (Peasant Da Vincis)” ocupa os prédios do CCBB e do Museu dos Correios, de 5 de fevereiro a 31 de março, com curadoria de Marcello Dantas.

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Wu Yulu’s Robot Factory (2010). Foto: Lin Yi, cortesia Cai Studio.

A exposição apresenta instalações de grande porte, desenhos produzidos com pólvora e invenções desenvolvidas por trabalhadores chineses, que são homenageados como “centenas de milhões de camponeses que pagaram o preço para a construção da sociedade moderna e da melhoria na vida urbana na era da reforma”, como conta o artista.

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Wu Yulu’s Robot Factory (2010). Foto: Lin Yi, cortesia Cai Studio.

Estes “readymades culturais” resultam da utilização de materiais do cotidiano e sucata, que se transformam pequenas engenhocas inventadas pelos chamados “Leonardo da Vinci” chineses, gênios cuja trajetória surpreende tanto pela criatividade quanto pela busca de uma sociedade igualitária.

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Fairy Tale (2010). Foto: Dong Tianye, cortesia Cai Studio.

Eles protagonizam uma história contada pelo artista, que usa a arte contemporânea como veículo para refletir sobre o ato de criar, a estreita relação entre natureza e universo e do próprio papel da arte como veículo para se repensar o mundo e a si mesma, em uma metonímia carregada de ironia. São vários os momentos em que Cai revisita a história da arte e faz releituras críticas com clareza conceitual.

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Wu Yulu. Yves Klein’s Living Brush (2010). Foto: Lin Yi, cortesia Cai Studio.

CaiGuo-Qiang cruza as fronteiras geográficas e artísticas ao abrir espaço para intervenções coletivas que resultam em trabalhos em constante mutação, que se adequam ao contexto cultural e arquitetônico de cada local por onde passam.

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Desenho com pólvora. Desire for Zero Gravity (2012). Foto: Joshua White/JWPictures.com, courtesy The Museum of
Contemporary Art, Los Angeles.

O fascínio de Cai por fogo é notório e se faz presente na série inédita de desenhos feitos com pólvora, que serão produzidos especialmente para a mostra brasileira, com a participação de voluntários. A pólvora, descoberta na China, foi assunto de interesse do Qiang por ocasião de sua visita a fábricas de fogos de artifícios no município de Santo Antônio do (MG), no início de 2012.

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Fairy Tale (2010). Foto: Li Yi, cortesia Cai Studio.

A instalação Fairy Tale ocupa o Pavilhão do CCBB, que se transformará em um espaço com dezenas de aviões, helicópteros e objetos não identificados surrealistas, suspensos no teto. A obra Complex se apóia na laje, em um simulacro de um porta-aviões, de 20 metros de comprimento.

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Complex (2010). Foto: Dong Tianye, cortesia Cai Studio.

O Pavilhão I traz um tanque de água congelada, onde uma flotilha de submarinos semissubmersos simulará uma navegação em mar glacial.

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Wu Yulu’s Robot Factory (2010). Foto: Li Yi, cortesia Cai Studio.

Ao caminhar pelas instalações do CCBB, o visitante vai se deparar com 29 robôs funcionais feitos à mão pelo inventor chinês Wu Yulu, que também virá ao Brasil para a mostra. Dentro da série de autômatos que se engajam em atividades performáticas diversas, chama a atenção a irreverente série (feita por encomenda de Cai Guo-Qiang) que simula artistas famosos contemporâneos, como Jackson Pollock, Damien Hirst, Yves Klein e Bruce Nauman. As obras desenvolvidas pelos robôs – programados para pintar, além de desempenhar ações artísticas diversas – serão colocadas à venda durante a exposição.

Outro espaço abrigará uma instalação multimídia formada por 40 pipas de bambu e seda, presas ao chão por hastes, animadas com diferentes projeções de vídeo enquanto são avivadas por ventiladores.

Pipas.
Kites (2010). Foto: Justin Jin, cortesia Cai Studio.

O Programa Educativo conta com um espaço interativo, onde crianças serão estimuladas a desenvolverem capacidades criativas. Noworkshop “Ufocina”, os pequenos “Da Vincis” produzirão seus próprios robôs, aviões, submarinos e discos-voadores a partir de objetos do dia-a-dia. O artista selecionará algumas destas invenções para integrar a sua instalação Crianças Da Vincis. De maneira cumulativa, o número de obras aumentará na medida em que novas peças serão criadas durante a passagem do projeto por São Paulo e Rio de Janeiro.

Divulgação.
Du Wenda. Flying Saucer D. Foto: Li Yi, cortesia Cai Studio.

A extensão de Da Vincis do Povo, no Museu Nacional dos Correios, ganhará uma das mais intrigantes obras da mostra. Uma versão caseira de um disco-voador, iluminado e em plena rotação, posicionada no topo daquele edifício, cuja fachada exibirá a frase “Nunca aprendi a pousar”, dará as boas-vindas aos visitantes da exposição e aos pedestres que circulam pela região. O interior do prédio apresentará uma retrospectiva em vídeo dos projetos de explosão realizados pelo artista em diversos lugares do mundo nos últimos 20 anos, incluindo as queimas de fogos das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Com apelo de massa sem precedentes, as cerimônias de abertura e encerramento dos jogos alcançaram audiência de mais de um terço da população mundial. O Museu Nacional dos Correios exibe ainda desenho de pólvora inédito, esboços e documentários relacionados ao processo criativo da mostra em Brasília, além de outros registros de sua variada obra.

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Wu Yulu. Large Rickshaw-Puller Robot (2010). Foto: Justin Jin, cortesia Cai Studio.

Serviço: Cai Guo-Qiang: Da Vincis do Povo (Peasant Da Vincis)

Galerias I e II, Pavilhões I e II do CCBB Brasília

De 05 de fevereiro a 31 de março/ Terça a Domingo, das 9h às 21h

Entrada franca – Classificação Livre

MUSEU NACIONAL DOS CORREIOS – Salas 2 e 3

Setor Comercial Sul, Quadra 4, Bloco A

De 7 de fevereiro a 31 de Março

Terça a sexta de 10 as 19h

Sábado, domingos e feriados, de 12 as 18h

Entrada Franca – Classificação livre

Telefone: 3213-5076