Daiara Tukano apresenta mostra de arte indígena no Museu Nacional

Até 26 de novembro.

Fotos: Ana Pigosso.

Brasília foi escolhida como palco para a primeira exposição individual em um museu da artista indígena Daiara Tukano. Pamuri Pati – Mundo de transformação desembarca na capital federal no dia 10 de outubro e fica em cartaz na galeria principal do Museu Nacional da República até 26 de novembro. A exposição é realizada em parceria com a galeria Millan, de São Paulo, que representa a artista.

Daiara diz que Pamuri Pati – Mundo de transformação é uma espécie de retrospectiva da carreira dela. “São obras muito importantes na minha caminhada. Essa exposição marca a importância da chegada da arte contemporânea indígena em espaços como esse museu, onde está sendo realizada a maior mostra de uma artista indígena, com mais de 70 obras”, comemora a artista plástica.

Foto: Levi Fanan/Fundação Bienal de São Paulo.

A artista explica que a expressão “Pamuri Pati” significa “mundo de transformação”, conceito arraigado na cultura indígena: “Para nós, os seres do mundo são seres em transformação. O mundo em transformação traz todas essas narrativas desde os petroglifos (representações gravadas pelo homem em pedra ou em rochas), que são as pinturas mais antigas em pedras e cachoeiras”.

“A arte tem que ser vista como uma cosmovisão. Para os povos originários são manifestações artísticas de forma a construir o mundo. É a ancestralidade presente na arte contemporânea”, completa. 

Festa no céu: Arara vermelha.

Em Pamuri Pati – Mundo de transformação, Daiara Tukano fala sobre as transformações sociais que podem ser observadas pelas óticas do feminino e do próprio povo indígena. Para ela, isso se dá por uma retomada da “memória ancestral” com a qual a sociedade se reconecta. “Quero compartilhar um pouco da cultura do meu povo, mas também dessa vivência de luta”, afirma.

Daiara destaca que estamos vivendo um bom momento na arte indígena. “Em função das fortes mudanças climáticas é importante ouvir os povos que sabem se comunicar com a natureza”, enfatiza. E a arte indígena cumpre esse papel. “Pela primeira vez temos um ministério que nos representa (o Ministério dos Povos Indígenas), gerido por pessoas indígenas que sempre estiveram envolvidas com esse movimento de resistência e que lutam por uma política indígena justa para o nosso povo. A arte indígena é uma celebração da cultura da vida”, celebra. 

Festa no céu: Urubu-Rei.

Entre as obras vistas em Pamuri Pati – Mundo de transformação, estão algumas que fizeram história ao compor Véxoa: Nós sabemos, a primeira exposição com temática indígena contemporânea na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2020. “São obras que falam sobre o espelho da vida”, define.

Espelho da Vida, que esteve em Véxoa, foi exibida na 34ª Bienal de São Paulo, em 2021. A obra, inspirada no manto Tupinambá, que a artista viu por acaso em uma visita a um Museu de Bruxelas, foi costurada por Daiara com plumas artificiais tingidas. Ela acrescentou, ainda, um espelho convexo, em que a imagem refletida nos reflete bem menores do que somos.

Festa no céu: Gavião-Real.

A mostra Amõ Numiã, a primeira exposição individual de Daiara Tukano, na galeria Millan (SP), também está contemplada no conjunto de Pamuri Pati – Mundo de transformação. Dali, ela traz as figuras femininas das grandes mulheres que marcam o trabalho dela. São telas que retratam a feminilidade e a força das mulheres, em que a artista lança mão com frequência das formas geométricas e das cores.

Outro destaque da mostra é a obra Festa no Céu, composta por quatro pinturas suspensas que representam os pássaros sagrados gavião-real, urubu-rei, garça-real e arara-vermelha. Para os Tukano, as aves, chamadas de miriâ porâ mahsâ, fazem cerimônia para segurar o céu e impedir que o sol queime a terra fértil. No verso de cada pintura, um manto feito de penas entrelaçadas que remete à tradição dos grandes mantos plumários. “Esta obra fala do sagrado, mas também do luto que tenho vivido e compartilhado com a perda de parentes e ancestrais”, afirma a artista.

Manto da arara.

A série Kahpi Hori leva ao Museu Nacional da República pinturas acrílicas sobre telas com desenhos em alusão aos traços indígenas e padrões geométricos com cores vibrantes e feixes de luz que dão uma sensação de efeitos 3D. O significado de “Hori” são miragens que se enxerga a partir do Kahpi (nome dado pelos Yepá Mahsâ ao cipó da ayahuasca). 
Pamuri Pati – Mundo de transformação tem ao menos uma obra inédita. Trata-se da instalação Maloca, uma grande lona plástica pintada com petroglifos e erguida sobre estrutura de bambu. A peça simboliza os acampamentos indígenas no Rio Negro que nasceram junto com as cidades. A instalação será uma casa, onde as pessoas vão poder entrar e ouvir histórias”, adianta Daiara, que gravará esses relatos e deixará tocando dentro da estrutura de Maloca.

Festa no céu: Garça-Real.

Pamuri Pati – Mundo de transformação
Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, lote 2 Esplanada dos Ministérios)
De 11 de outubro a 26 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 18h30h
Entrada franca
Classificação: Livre.