Festival de Brasília do Cinema Brasileiro homenageia Antônio Pitanga e ganha seleção em tecnologia 4K

Cláudia Ohana em “Nós somos o amanhã” (SP). Divulgação.

A programação oficial do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi anunciada. O Cine Brasília recebe a maratona da sétima arte de 09 a 16 de dezembro com produções das cinco regiões do Brasil. São diversas vozes, narrativas e estéticas, desde o cinema indígena à produção urbana periférica e dos interiores do Brasil.

“Mais um dia Zona Norte” (RJ). Foto: Guilherme Tostes.

O primeiro Troféu Candango de 2023 já tem dono. O veterano ator Antonio Pitanga será o grande homenageado desta 56ª edição e receberá a estatueta pelo conjunto de sua obra na noite de abertura. A trajetória do artista, assim como a do Festival de Brasília, remete a uma linha do tempo de resistência na produção audiovisual, dos anos 1960 até os dias de hoje. Antonio e o festival permanecem fundamentais para o imaginário artístico do país.

“No céu da pátria nesse instante”. (DF-RJ-SC-SP).

Após bater recorde de filmes inscritos (1.269 títulos, sendo 984 curtas e 285 longas), o 56º Festival de Brasília apresenta seis longas-metragens e 12 curtas na Mostra Competitiva Nacional; quatro longas e oito curtas do 25º Troféu Câmara Legislativa – Mostra Brasília, voltado para as produções do DF; e mais de 20 títulos nas mostras paralelas (Outros Olhares, Coproduções e Festivalzinho).

“Cartório das Almas” (DF).

Sob a direção artística da cineasta, curadora e atriz Anna Karina de Carvalho, a 56ª edição do Festival de Brasília reúne uma programação vasta, com filmes que refletem a diversidade narrativa e estética de expressões brasileiras. Os selecionados para as mostras competitivas nacionais serão remunerados com cachê de seleção nos valores de R$ 30 mil para longas-metragens e R$ 10 mil para curtas. Na Mostra Brasília, o audiovisual candango concorre a R$ 240 mil reais em prêmios concedidos pelo 25º Troféu Câmara Legislativa.

“A transformação de Canuto”. Foto: Ernesto de Carvalho.

“A programação fecha o ano de 2023 com um suco narrativo de ‘Brasis’, que pouco foram exibidos nas telas do país e que dão um panorama real da produção atual”, atesta a diretora artística.

A grande novidade desta edição é a incorporação de tecnologia 4K para todas as exibições, iniciativa da organização da sociedade civil Amigos do Futuro, que aproxima a projeção das maiores tendências do mercado exibidor audiovisual mundo afora. Além da alta definição em tela, outro investimento técnico incorpora o uso de processadores de áudio e servidores Dolby, o que garantirá qualidade nunca antes vista para o público frequentador do evento.

“Ecos do Silêncio”. Mostra Brasília.

A programação do festival também será composta por oficinas online, seminários e encontros setoriais, masterclass e atividades de aceleração de projetos para o mercado. As cinco oficinas formativas serão conduzidas de maneira virtualmente, por meio da plataforma Zoom, de 11 a 15 de dezembro, durante o festival. As inscrições estão abertas até 3 de dezembro. Já as atividades do Ambiente de Mercado, como a Clínica de Projetos, os encontros com players, os Pitchings e as Rodadas de Negócios, ocorrem de forma presencial entre 10 e 15 de dezembro, com programação em dois lugares: o Hotel Vision Plus e o Espaço Cultural Renato Russo. O espaço da W3 Sul também será a casa para os Seminários e Encontros Setoriais, e o Auditório II do Museu da República receberá uma masterclass com o realizador mineiro Gabriel Martins,o premiado diretor de “Marte Um”.

Nesta edição, Brasília aposta também em acessibilidade 360. Além da tradução para Libras nas cerimônias de abertura e encerramento, o festival disponibilizará um receptivo especializado para atender e guiar as pessoas com deficiência que chegarem para assistir aos filmes. As sessões das mostras Competitiva Nacional e Brasília terão legendagem descritiva para pessoas surdas e audiodescrição para pessoas cegas, acessíveis por aplicativo de celular – mesmo aqueles que não dispunham originalmente destes recursos. O festival investe ainda em sessões exclusivas com acessibilidade no Festivalzinho e estrutura para garantir o fluxo de pessoas com mobilidade reduzida na Praça de Alimentação.

“Não existe almoço grátis”. Mostra Brasília.

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL – LONGAS – A seleção oficial da Mostra Competitiva Nacional do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro terá na programação longas-metragens de cineastas estreantes e consagrados, além de importantes representações do cinema produzido por mulheres, indígenas, LGBTQIA+ e pessoas pretas, muitas já conhecidas, inclusive, premiadas em anos anteriores do festival.

Deste modo, a programação foi pensada para representar a diversidade brasileira em tela. Entre os longas-metragens selecionados, “A Transformação de Canuto”, produção pernambucana e paulista dirigida pelo cineasta indígena Ariel Kauray Ortega e por Ernesto de Carvalho, aborda a comunidade Mbyá-Guarani na divisa brasileira com a Argentina, por meio de uma reconstituição cinematográfica sobre a lenda de um homem que se transformou em onça.

Do Distrito Federal, “Cartório de Almas” é a estreia do diretor brasiliense Leo Bello na Mostra Competitiva Nacional. Premiado por obras anteriores no gênero do cinema fantástico, este seu segundo longa-metragem de ficção narra a história da mais nova funcionária contratada pelo tal cartório do além. Aos 126 anos, ela tem como função protocolar as motivações de quem renunciou à eternidade. Em “Nós Somos o Amanhã”, ficção de São Paulo, Lufe Steffen, referência do cinema LGBTQIA+, mergulha numa viagem no tempo que leva uma professora de música de volta aos anos 1980, para ensinar as pessoas a lutarem contra o bullying, a perseguição e a intolerância racial, de gênero e de sexualidade na sociedade da época.

A seleção de longas traz de volta à capital nomes já consagrados no festival. A cineasta carioca Sandra Kogut, jurada na 54ª edição do evento, conhecida pelos longas “Mutum” (2007), “Campo Grande” (2015) e “Três Verões” (2019); o premiado diretor carioca Allan Ribeiro, vencedor do Candango de melhor direção de arte e edição por “Esse Amor que Nos Consome” em 2012; e o diretor mineiro André Novais, que participa pela quarta vez do festival, após sagrar-se grande vencedor da 51ª edição, com o longa “Temporada” (2018).

Nesta edição, Sandra Kogut apresenta o documentário “No Céu da Pátria Nesse Instante”, um olhar sobre os turbulentos meses do período eleitoral de 2022 que culminaram na invasão dos Três Poderes em 8 de janeiro deste ano. Allan Ribeiro mais uma vez recorre à linguagem poética para refletir sobre o cotidiano em “Mais um Dia, Zona Norte”, no qual mostra as transformações na rotina de trabalhadores da periferia do Rio. E André Novais traz sua nova ficção ambientada em Contagem (MG), “o Dia Que Te Conheci”, sobre a vida do bibliotecário Zeca, cuja rotina é interrompida após conhecer uma moça chamada Luisa.

“Rodas de Gigante”. Mostra Brasília.

MOSTRA COMPETITIVA NACIONAL – CURTAS – Na seleção de curtas-metragens, o 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro reforça sua vocação para trazer questões urgentes da sociedade, sob as mais diversas perspectivas geográficas, de gênero e de raça. Dois curtas do Distrito Federal documentam comunidades autóctones. “A Fumaça e o Diamante”, de Bruno Villela, Fábio Bardella e Juliana Almeida é uma coprodução entre Amazonas e DF que acompanha o reencontro de uma família Yanomami. “Vão de Almas”, dirigido por Edileuza Penha e Santiago Dellape, mergulha no imaginário do Quilombo Kalunga na região de Cavalcante (GO).

Do Espírito Santo, vem “Remendo”, de Roger Ghil (GG Fákọ̀làdé), que evoca a espiritualidade anticolonial; de Alagoas, a ficção “Queima Minha Pele”, de Leonardo Amorim, aborda a estética queer ambientada no litoral do estado; e do Rio Grande do Sul, “Pastrana”, de Gabriel Motta e da skatista Melissa Brogni, documenta uma homenagem ao amigo e parceiro de rampas que dá nome ao filme, revivendo suas memórias a partir de amigos e familiares. A temática da espiritualidade ainda aparece em outros dois curtas: “Axé Meu Amor”, produção paraibana dirigida por Thiago Costa, ficção sobre uma mãe de santo em busca do sagrado, e “Dona Beatriz Ñsîmba Vita”, dirigido pelo artista mineiro Catapreta, em que uma mulher singular tenta cumprir uma missão divina, inspirada no legado da heroína congolesa Kimpa Vita.

Três produções mergulham nas idiossincrasias da vida urbana para contar histórias de ficção das mais distintas. “Erguida”, dirigido e estrelado pela atriz e diretora Jhonnã Bao, do Coletivo Contraplano, acompanha a resistência de uma jovem poeta da periferia de São Paulo; enquanto “Cidade By Motoboy”, outra produção paulista, mostra as intempéries de um motoboy do interior do estado. “Cáustico”, curta brasiliense de Wesley Gondim, por sua vez, se divide entre realidade e fantasia para narrar a história de mãe e filha em busca de cura para uma misteriosa doença. Completam a lista de postulantes aos Troféus Candangos de curta-metragem os curtas cariocas “O Nada”, do poeta e dramaturgo André Ladeia, do Rio de Janeiro, que adapta um conto do autor russo Leonid Andreiev; e “Helena de Guaratiba”, de Karen Black, estrelado pela diretora, produtora e atriz Helena Ignez, no papel-título de uma senhora que encontra o amor em um bairro pesqueiro do Rio.

Compõem a Mostra Outros Olhares quatro longas-metragens. O primeiro é“A Batalha da Rua Maria Antônia”, melhor filme no Festival do Rio, com projeção no dia 9 de dezembro, às 20h. A obra, um longa em preto-e-branco da cineasta paulista Vera Egito, propõe uma reimaginação da resistência do movimento estudantil aos ataques dos militares à USP, em 1968. Outra produção que compõe a mostra, “Uma Carta para Papai Noel” (RS) sagra o retorno do cineasta gaúcho Gustavo Spolidoro ao Festival de Brasília, no qual estreou como diretor em 1998, levando o Candango de melhor filme e direção na mostra competitiva de curtas daquele ano. Do Rio de Janeiro, integra a mostra paralela “Crônicas de Uma Jovem Família Preta”, de Davidson D. Candanda, produção que estreou no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul. E completa a seleção o novo filme da cineasta e produtora cultural indígena Graciela Guarani, com co-direção de Alice Gouveia: “Sekhdese”.

Com objetivo de estimular e sensibilizar novos públicos, a criançada poderá assistir a uma sessão com 11 curtas-metragens. Destaques para “Brincando de Imaginar”, documentário paranaense sobre uma escola em meio a uma floresta; e as animações “Os Pelúcias” (SP), acerca de dois bichinhos de pelúcia que ganham vida; “Pipas Coloridas” (SP), sobre as férias dos materiais escolares; e “Tom Tamborim” (BA), história de um garoto inquieto e cheio de suingue que só quer saber de batucar.

“A chuva do caju”. Mostra Brasília.

Além das mostras paralelas, o público poderá assistir a outras duas sessões hors concours. No dia 10 de dezembro, às 18h, será apresentado “Utopia Tropical”, documentário de João Amorim, que traz conversas entre o diplomata Celso Amorim e o escritor, filósofo e ativista norte-americano Noam Chomsky. Esta sessão é beneficente e os ingressos são entregues mediante doação de 1kg de alimento não-perecível.

E, na sessão de encerramento, antes da premiação, o público poderá assistir ao documentário “Raoni – Uma Amizade Improvável”, dirigido pelo cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux, mostrando sua história de amizade com o cacique Kaiapó Raoni ao longo de 50 anos, após as filmagens de “Raoni” (1978), longa com Marlon Brando indicado ao Oscar, que projetou o cacique como a mais importante liderança indígena brasileira para o mundo.

Em 2023, o Festival de Brasília apresenta cinco oficinas online, três seminários, quatro encontros setoriais, uma masterclass e os debates das mostras Brasília e Competitiva Nacional, o primeiro logo após as sessões, no hall do Cine Brasília, e o segundo na manhã seguinte às exibições, no Hotel Vision Plus. Com todas as atividades gratuitas, somente as oficinas e masterclass demandam inscrição prévia, e estão abertas até 3 de dezembro, pelo site do festival.

No dia 10 de dezembro, o Auditório II do Museu da República recebe a masterclass “Cinemas Fora do Eixo Representando o Brasil no Mundo”, ministrada pelo diretor de “Marte Um”, Gabriel Martins. Ao longo de duas horas, ele rememora seus caminhos como roteirista, fotógrafo, diretor e montador, dos primeiros curtas à sagração de “Marte Um” à seleção como representante do  Brasil no Oscar 2023. O Espaço Cultural Renato Russo também será palco para os seminários e encontros setoriais. A programação será lançada em breve.

As oficinas online trazem como temas, “Curadoria e Programação de Cinema no Brasil – Pesquisas, Conceitos e Práticas”, com o pesquisador cearense Pedro Azevedo; “Desenho de Audiência: Novos Caminhos para Distribuição e Comercialização de Filmes Brasileiros”, ministrada pela distribuidora e pesquisadora Marina Tarabay; “Funcionamento de salas de roteiros”, com a roteirista, professora e consultora de roteiros Francine Barbosa; “Preparação de Projetos e Produtores para Mercados Audiovisuais”, com a preparadora para pitchings Krishna Mahon; e “Produção Executiva – Introdução a Modelos e Aplicação”, com Flávia Santana, diretora executiva da Mulungu Realizações Culturais. 

“A estrela da tarde”. Foto: Tatiana Reis.

56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
De 9 a 16 de dezembro de 2023
Locais: Cine Brasília (106/107 Sul), Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul), Complexo Cultural de Planaltina, Complexo Cultural Samambaia, Hotel Vision Plus e Auditório II do Museu Nacional da República.
Ingressos da Mostra Competitiva Nacional a R$ 20,00 e R$ 10,00, à venda na bilheteria do Cine Brasília a partir de duas horas antes de cada sessão. Demais exibições com entrada franca.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br