Hélio Oiticica renasce das cinzas na mostra “O Museu é o Mundo”.

Renato Acha

A exposição itinerante “Hélio Oiticica – Museu é o Mundo” chega à Brasília. O título deriva de uma das célebres assertivas do artista e segue à risca os preceitos pregados por ele há quarenta anos, quando muito pouco se falava sobre o termo arte contemporânea, já prenunciada por Oiticica por meio de detalhadas instruções de como montar suas instalações, seguidos à risca pelos curadores, e pelo fato de que elas promoveriam uma interação com os espectadores, fato que é o cerne da produção atual.

Em "Mergulho do Corpo", Oiticica propõe a interação do fruidor com a água no interior da obra. Divulgação.

A mostra revela o percurso de um dos maiores contestadores da sociedade e do mercado de arte, tratado como marginal no Brasil e ovacionado no exterior. Das abstrações geométricas aos bólides, parangolés e penetráveis, a exposição traça um rico perfil deste grande representante da arte brasileira. Ao lado de Lygia Clark, Hélio Oiticica é um dos nomes brasileiros mais reconhecidos lá fora.

"Metaesquema" apresenta a fase em que o artista flertava com o abstracionismo geométrico. Divulgação.

A homenagem póstuma acontece após o incêndio ocorrido em 16 de outubro de 2009 na residência do irmão de Oiticica, onde trinta por cento de suas obras viraram cinza. Isto atentou à família e principalmente aos órgãos públicos ao fato de que este acervo mereceria mais atenção e preservação.

"Penetrável da Gal" proporciona à participação sinestésica do espectador e uma reflexão sobre a relação de sua obra com o movimento da Tropicália. Divulgação.

Uma força tarefa capitaneada pelo Ministério da Cultura e pelo pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) iniciou a higienização e restauração de telas e peças, processo que está em andamento até 2011, quando serão incorporadas à mostra. O Ministério da Cultura investiu mais de R$ 800 mil na reforma do espaço e mais de R$ 2,3 milhões na recuperação e difusão da obra de Oiticica. Nesta itinerância foram aplicados R$ 1,5 milhão, o que resultou na maior retrospectiva do artista, jamais vista anteriormente.

"Seja Marginal, Seja Herói", destruída no incêndio, apresenta "Cara de Cavalo", bandido morto pela polícia na década de 70. Divulgação.

“A exposição prova que a obra de Hélio Oiticica não acabou. Pelo contrário, ela está mais viva do que nunca. Era isso o que o Hélio queria: colocar todo o seu percurso de artista, desde a adolescência até o final de sua obra, com a exibição de obras e categorias que nunca foram mostradas na sua plenitude”, explica César Oiticica Filho, sobrinho de Hélio e um dos curadores da mostra, ao lado de Fernando Cochiaralle e Wagner Barja.

Penetrável "Nas Quebradas (PN28)", obra que é uma "assimilação das construções das favelas", como define o curador Fernando Cocchiarale. Foto de Sérgio Castro/AE.

“É muito importante, porque chegará a cidades que ainda não conheciam as obras de Hélio Oiticica”, comemora. “Sinto falta de fazer este tipo de exposição fora do eixo Rio-São Paulo, porque é muito grande e a logística é muito difícil e cara”.

Hélio Oiticica se aproximou da comunidade do Morro da Mangueira em 1964 e passou a utilizar materiais como pano, plástico, borracha, papel, tinta, corda e esteira para confeccionar indumentárias carnavalescas como "Incorporo a Revolta", vestida por Nildo da Mangueira nesta foto. Divulgação.

Depois de passar pelo Paço Imperial no Rio de Janeiro e pelo Itaú Cultural em São Paulo, ela chega à Casa de Cultura da América Latina (com o penetrável GAL) e posteriormente ao Museu da República, em Brasília e daqui segue para Belém, sob o patrocínio do Fundo Nacional de Cultura (MinC) e da Petrobras, via Lei Federal de Incentivo à Cultura.


Serviço: “Hélio Oiticica – Museu é o Mundo”

Penetrável GAL

Abertura: 16 de dezembro (quinta)

Local: Casa de Cultura da América Latina – CAL (SCS – Q. 04 – Ed. Anápolis)

Visitação: de 17 de dezembro de 2010 a 13 de fevereiro de 2011

De terça à sexta de 10 às 20 horas. Sábados, domingos e feriados de 12 às 18 horas.

A exposição completa será inaugurada no Museu Nacional no dia 21 de  dezembro às 20 horas.

Intervenções:

“Invenção da Luz” – Funarte (Eixo Monumental)

“Mesa de Sinuca” – Rodoviária do Plano Piloto (Plataforma Superior)

Entrada Franca.

Classificação Indicativa Livre.