A banda Judas lança três canções do EP Casa de Tolerância nº 1 neste sábado (26 de março), às 21 horas, no Clube do Choro. A orelha do artista Vincent van Gogh simbolicamente parou no estúdio da banda Judas, umas das mais inventivas do atual cenário pop musical de Brasília. O órgão auditivo, ícone da passionalidade do gênio da pintura, é o mote metafórico que batiza o EP “Casa de Tolerância nº 1”. Nada mais apropriado do que lançar EP no tradicional sábado de Aleluia e de malhação de Judas, o odiado personagem bíblico.
Neste dia, os fãs vão conhecer as canções “Casa de Tolerância nº1”, “Cada Cidade, Um Porto” e “Oroboro”. O lançamento oficial do EP sucede o elogiado álbum “Nonada” (2014), que surpreendeu pela qualidade das letras e a fusão melodiosa da viola caipira com o pop-rock urbano, numa criação que tornou real a união improvável dos dois maiores pilares inspiradores de Adalberto, compositor principal: um musical, Bob Dylan e outro estético, João Guimarães Rosa.
Paris das meretrizes
Agora, o imaginário da Judas deslocou-se para uma mítica Paris do século XIX, boêmia e cheias de bordéis pulsantes. Casa de Tolerância nº 1 era um deles. Lá, o pintor Vincent van Gogh cortejava Rachel, a musa à qual, posteriormente, ele endereçou a orelha esquerda mutilada junto a um bilhete ensanguentado: “Guarde esse objeto com cuidado”.
“A história de Van Gogh, um desenrolar extremo de um sentimento amoroso, dá o tom adulto que o EP carrega. Denota ainda a temática desse trabalho, o 1º de uma trilogia que o grupo pretende lançar até o final de 2017: amor e ódio. Depois, vem vida e morte, no EP ‘Matadouro nº 5’, e, por último, doença e cura, no EP ‘Enfermaria nº 6’”, adianta o compositor e líder da banda Adalberto Rabelo Filho, que, antes de vir morar em Brasília, pertencia as bandas paulistanas Numismata e Conjunto Vazio. Como autor, Adalberto tem músicas gravadas por Wado, Maria Alcina, Luiz Melodia e Jards Macalé.
Formada em Brasília em 2009, no encontro entre Adalberto e o violeiro Fábio Miranda, Judas é uma conjunção de músicos experientes e de donos de trajetórias sonoramente diversas. Afetada pela aridez e a solidão do cerrado, a banda está em sua terceira formação, apresentada pela primeira vez ao público no começo do ano, no Clube do Choro.
São eles: Adalberto Rabelo Filho (vocalista), Fábio Miranda (viola caipira), Carlos Beleza (guitarra e integrante da psicodélica e setentista Almirante Shiva), BC Araújo (guitarra, bandolim e ex-Móveis Coloniais de Acaju), Pedro Souto (baixo e também da Almirante Shiva), Hélio Miranda (bateria, antes era o tecladista da Judas, é também baterista da incensada banda de rock Rios Voadores) e Pedro Vaz (viola caipira e percussão, integrante das bandas goianas Cega Machado e o Calango Negro). O caldeirão resultou numa música pop eletrificada envenenada pelo tom agreste da viola.
“O nome da banda faz uma alusão (entre outras) à fase Judas do Bob Dylan. Judas é como o rotularam quando ele eletrificou o folk. Construí o Judas como um arquétipo do excluído, pra que ele funcionasse como meu bode expiatório, o animal que eu sacrifico para expiar minhas aflições e minhas culpas”, destaca Adalberto.
“Casa de Tolerância nº 1” sustenta o conceito do EP e é um mergulho pesado da Judas numa onda mais psicodélica, enquanto “Oroboro” é uma balada com viés romântico e pegada nordestina. “Cada Cidade, Um Porto” dialoga com a Bahia num “afoxé existencialista”.
O EP “Casa de Tolerância nº 1”, que sai pelo selo Martelo, do produtor musical Gustavo Halfeld, foi gravado na Casa Fumarte, da Bilis Negra (dos irmãos Bruno Prieto e Breno Brites). As canções foram captadas à moda antiga, quase todas ao vivo, absorvendo a ambiência do espaço.
A capa do trabalho é do artista Felipe Monoyume, que junto a Adalberto concebeu a arte a partir de referências ao pintor Van Gogh e ao cineasta David Lynch, citando visualmente elementos do filme “Veludo Azul” e da icônica série “Twin Peaks”.
Serviço: Lançamento do EP “Casa de Tolerância nº 1”
Data: 26 de março (sábado) às 21 horas
Local: Clube do Choro de Brasília (Eixo Monumental)
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada)
Valor do CD: R$ 6,00 (também a venda fisicamente com o compositor Adalberto na fanpage da Judas no Facebook)
Classificação indicativa: Livre.