Exposição celebra os 14 anos de carreira do artista plástico brasiliense Lucio Piantino

Foto: Yasmin Velloso.

“Minha outra metade” é o título da exposição que comemora os quatorze anos de carreira de Lucio Piantino, artista plástico brasiliense que precisou vencer, no dia a dia, o preconceito e provar o seu talento e compromisso com a arte de seu tempo. Aos 27 anos, ele prova à sociedade, em grande parte preconceituosa e excludente, que a Síndrome de Down é apenas uma de suas inúmeras características e que ele veio para ficar e mudar paradigmas.

Patrocinada pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a exposição está prevista para ser lançada no dia 7 de dezembro. Com curadoria de Lurdinha Danezy, a mostra conta com 27 telas, sendo 14 selecionadas entre o acervo do artista e 13 inéditas.

O artista explica que é muito importante saber que seu trabalho tem reconhecimento local. “Estou empolgado com o lançamento, pois sei que farei diferença com a minha história e as minhas obras”, relata.

Pessoas com diagnóstico de deficiência são capazes de produzir e ter uma função social quando as oportunidades e as condições lhes são dadas. “Lucio agarrou, com unhas e dentes, todas as oportunidades e apresenta, nessa mostra, as muitas fases da sua produção artística”, afirma a curadora.

Quando, aos dezoitos anos, pintou seu autorretrato, o trabalho foi denominado de ‘autorretrato inacabado’. “Isso porque talvez aquele não era mais ele exatamente, mas uma parte do seu processo. Notei as suas pinturas como uma jornada diária de se fazer e refazer, buscando, dia a dia, a construção da identidade própria dele no espaço”, ressalta.

Durante os primeiros anos como artista, Lucio pintava com as tintas, ferramentas e elementos que lhe eram familiares dentro da sua convivência com outros artistas plásticos. Pintou usando pigmentos orgânicos, tinta acrílica ou vinílica. Passou pelo esmalte, pelo carvão, pelo óxido e, finalmente, encontrou a sua pegada enquanto artista do seu tempo: de uns anos para cá, usa o spray como elemento principal da sua obra.

Lucio Piantino é do hip-hop, do grafite, do break e é com esses elementos que ele mostra sua personalidade. Lucio retrata a realidade de um tempo de luta pela igualdade de direitos e pelo respeito à diversidade.

Com local ainda em definição, a mostra disponibilizará visitas guiadas para pessoas com deficiência auditiva ou visual. Ambas deverão ser agendadas pelo telefone (61) 99931-7100.


Exposição: “Minha outra Metade”, do artista plástico Lucio Piantino
Curadoria: Lurdinha Danezy
Data: 7 de dezembro de 2022
Espaço Cultural Renato Russo

Sobre Lucio Piantino – Lucio Piantino é um artista plástico com Síndrome de Down que, em 2022, completou 27 anos de idade; e 14 de carreira. Reconhecido internacionalmente, teve a sua trajetória eternizada no documentário “De arteiro a artista: a saga de um menino com síndrome de Down”, quando tinha apenas 17 anos.

Lucio foi o primeiro artista com Síndrome de Down a compor o cadastro de artistas plásticos do Distrito Federal, com apenas 15 anos de idade. Sua trajetória no mundo artístico possibilitou que, em 2014, tivesse suas obras expostas em um importante Museu da Europa, na cidade de Perúgia, na Itália. Nos anos seguintes, fez mais uma exposição individual e três coletivas em Roma.

Com seu trabalho, vem reforçando e reafirmando o valor das diferenças, da defesa das minorias e da valorização das pessoas historicamente excluídas dos processos sociais, educacionais e culturais.

Além disso, Lucio tem enfrentado bravamente e conseguido ocupar espaços antigamente inimagináveis, assegurando o direito de ter e exercer uma função social. Inclusive, ele é uma das poucas pessoas com deficiência que veem suas capacidades reconhecidas pela sociedade através da participação ativa nos espaços sociais e culturais.

Os catorze anos de carreira como artista plástico e os nove como ator, tem garantido um reconhecimento artístico, pessoal e social que, apesar de ter sido construído a duras penas, coloca o artista em um lugar de destaque.

Como a grande maioria das pessoas com diagnóstico de deficiência, Lucio sofreu preconceito, discriminação e exclusão na escola e na vida pessoal e profissional. Passou por escolas despreparadas e teve que cavar cada espaço conquistado com força, carisma, competência e talento.

A exposição “Minha outra metade” traz um pouco dessa trajetória e conta, de tela em tela, a história deste rapaz que teve, no dia a dia, que provar para uma sociedade capacitista que um diagnóstico de deficiência não determina uma existência. Lucio existe como artista e como pessoa social e culturalmente ativa e se destaca em meio a muitos artistas convencionais.