Luis Humberto abre a mostra “A reforma do olhar possível” no Museu Nacional da República.

De 21 de novembro a 5 de janeiro de 2019.

Divulgação.

A mostra A reforma do olhar possível traz 45 obras de Luis Humberto para o Museu Nacional da República de 21 de novembro a 5 de janeiro de 2019. Um dos principais nomes do fotojornalismo brasileiro, professor que formou e inspirou várias gerações de fotógrafos e fotojornalistas de Brasília e do País, cofundador da Universidade de Brasília (UnB) e criador do Instituto de Artes da mesma instituição.

Fotos de Rinaldo Morelli nos intervalos das sessões na CLDF

As obras foram realizadas pelo artista a partir do olhar de uma pessoa com limitações físicas para se locomover e dificuldades para segurar objetos. A curadoria e a edição são do próprio fotógrafo, que contou a assistência curatorial de Rinaldo Morelli e Usha Velasco e a expografia de Ralph Gehre.

Aos 84 anos, o espírito investigativo segue intocável. O título da série que dá nome à exposição reflete a inquietação e o inconformismo. “A reforma do olhar possível” traz em si uma “dupla militância do possível”, tanto do olhar quanto da reforma. “É algo sempre penoso. O olhar também é submetido aos novos limites. Agora, meu olhar passa a navegar em outros mares”, afirma.

Crítico de sua obra, não se permite fazer concessões ao seu próprio trabalho. Luis Humberto é o curador e o editor das imagens que compõem a mostra. “A responsabilidade pela obra é do autor”, afirma. E ressalta que o fotógrafo está sempre procurando descobrir o desconhecido, resgatar uma importância não percebida e doar aos outros o resultado de suas investigações. Para além de fotografias meramente informativas, a obra de Luis Humberto traz para o público um olhar crítico e ao mesmo tempo lírico. A cor e a luz são amplamente usadas como elementos da linguagem fotográfica.

A mostra reúne as fotos que começou a realizar há pouco tempo, resultado de um processo de mudança de paradigma do fotógrafo, sua relação com a câmera e o espaço. As 45 imagens apresentadas na mostra surgem das limitações impostas ao fotógrafo devido à obrigação de usar cadeira de rodas. No entanto, não poder andar e ter que ficar boa parte do tempo sentado não lhe impedem de olhar o universo ao seu redor e observar e retratar a luz que entra pela janela ou os objetos que parecem banais.

Fotos de Rinaldo Morelli nos intervalos das sessões na CLDF

Temas como a vida no espaço limitado entre quatro paredes – física ou metaforicamente –, o cotidiano familiar e a proximidade do objeto fotografado a uma distância relativamente curta são uma recorrência na produção de Luis Humberto: “Trabalho com a minha própria herança”, diz ao citar a série “Paisagens domésticas”, onde retratou os filhos pequenos, o dia a dia da casa, entre outras cenas domésticas. “Fiz essa série que durou uma década, de 1974 a 1984. Há certas áreas vedadas que dizem não podem ser feitas, porque alguém já fez. Fiz por mim e fui descobrindo a casa”, afirma. O fotógrafo fez o mesmo com a série “Cerrado”. Ao longo de 13 anos produziu intensamente fotografias de flores, árvores, arbustos, porque diziam que o Cerrado era “feio, baixinho, retorcido que não era possível encontrar beleza nele”. Essas fotos faziam parte de sua pesquisa de doutorado em Arquitetura e Paisagismo interrompido em 1964 com a ditadura militar. Ainda assim, seguiu com o trabalho, mesmo que nunca o tenha apresentado.

Fotos de Rinaldo Morelli nos intervalos das sessões na CLDF

As fotos que produziu ao longo de sua extensa carreira no fotojornalismo, desde meados da década de 1960, até sua produção autoral, mostram um indivíduo interessado em olhar para os detalhes que compõem e dão sustentação a uma grande cena pictórica. Nestes detalhes, que podem ser pontos de cor ou luz em uma foto de uma multidão que caminha na rua, crianças correndo na Praça dos Três Poderes ou cenas do poder, residem a sustentação e o entendimento da importância da obra do artista. Segundo o fotógrafo e professor Salomon Cytrynowicz, trata-se de um mergulho onírico na intimidade do cotidiano”, onde “a luz filtrada por janelas, persianas e cobogós é a principal atriz: transforma objetos banais em arte”.

Em “A reforma do olhar possível”, Luis Humberto retoma a ideia de que tudo ainda está por ser descoberto em especial nas coisas mínimas. Na mostra que abre no Museu Nacional da República, o fotógrafo aborda as várias possibilidades da fotografia. “A arte é uma só, o resto são derivações. Não muda a natureza. Ela existe pelo simples fato de que alguém criou alguma coisa. Nesse sentido, a fotografia compõe uma das vertentes das artes, que como linguagem, tem valor transformador e como tal não pode ser feita ou vista como algo gratuito”, completa.

Fotos de Rinaldo Morelli nos intervalos das sessões na CLDF

A reforma do olhar possível – Fotografias de Luis Humberto
De 21 de novembro a 5 de janeiro de 2019
Sala 2, Piso Térreo (Museu Nacional da República – Esplanada dos Ministérios)
Visitação: De terça a domingo, das 9h às 18h
Entrada franca
Classificação indicativa: Livre.