Memorial dos Povos Indígenas recebe doação mais de oito mil artefatos indígenas apreendidos na “Operação Pindorama”

MPI torna-se a segunda maior coleção de objetos dos povos originários do Brasil.

Divulgação.

O Memorial dos Povos Indígenas (MPI) recebe mais de oito mil artefatos de diferentes nações indígenas nesta quarta (3 de novembro) O material, apreendido na “Operação Pindorama” da Polícia Federal (PF), estava guardado em depósito há 18 anos.

Uma equipe da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) vai embalar e transportar o acervo para o MPI. No museu, haverá um recebimento simbólico dos objetos. Indígenas da nação Guajajara, habitantes da capital federal, farão um ritual para celebrar a proteção desse material que poderia ter sido incinerado se não fosse o pedido de salvaguarda da pasta.

O gerente do MPI, David Terena, visitou a Superintendência da Polícia Federal em Brasília e emocionou-se ao testemunhar o material apreendido que passa a ser custódia do museu: “Fiquei muito feliz. Essa doação é inédita. Um pajé fará esse ritual para a chegada de todas essas peças”.

Com essa doação, autorizada pelo Ministério Público Federal em pleito da Secec, o MPI, hoje com cerca de 700 itens, torna-se a segunda maior coleção de objetos dos povos originários do Brasil, atrás apenas do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, da Fundação Nacional do Índio (Funai).

“A doação acentua o caráter de preservação da memória e dos fazeres dos povos originários, vocação primeira do Memorial dos Povos Indígenas. Acolhemos cada peça, que, infelizmente, tiveram esse destino do contrabando”, destaca o secretário em exercício, Carlos Alberto Jr.

A equipe da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac) avaliou o recebimento das peças. Felipe Ramón conta que o lote de milhares de objetos, alguns raríssimos, foram confeccionados por diversos povos indígenas de vários estados. “Podemos citar, por exemplo, pentes confeccionados pelos Karajás e cocares feitos pelos Kayapós, adereços corporais raros e objetos com penas de animais em risco de extinção”, completa,.

Gerente de acervos da Supac, Aline Ferrari afirma que se trata de “um material precioso. Apesar do tempo, tem peças muito bem conservadas. Estavam em caixas de isopor lacradas, assim não sofreram com a ação do sol e da poeira”.

Aline afirma que mesmo itens soltos no lote são valiosos: “Teremos material para restaurar peças danificadas que já estão em nosso acervo. Esse material todo é de origem animal e vegetal, muito sensível, então ter um banco de peças de reposição é fundamental”, explica.

Assim que os objetos cheguem ao MPI, esse lote passa por processo de seleção e higienização para indicação de possíveis restauros. O MPI é cauteloso em relação a quando os artefatos serão colocados para exposição pública. No momento, o museu está em fase final de reforma, com novo sistema de proteção de incêndio, troca de piso e pintura. A previsão de reabertura é para este mês.

“O valor monetário desse acervo é incalculável, mas o valor monetário não é a única riqueza: ali estão representações de saberes tradicionais e modos de vida de vários povos. O valor cultural, artístico e histórico também é enorme”, aponta Felipe Rámon.

A “Pindorama” – nome que remete à cosmogonia dos tupis-guaranis sobre uma terra de bem-aventurança, também denominação dada ao Brasil por povos dos Andes – foi deflagrada em vários estados em 15 de maio de 2003 para evitar que os artefatos indígenas fossem embarcados para a Europa e Estados Unidos, onde alcançam alto valor para colecionadores e organizações criminosas de biopirataria. “Havia sementes embaladas a vácuo para plantio fora do Brasil”, relata Felipe Ramón.

Processo judicial ao qual a Secec teve acesso registra que “o líder da quadrilha encomendava artefatos aos demais membros, localizados nos diversos Estados da Federação e, quando recebia os produtos, realizava depósitos em dinheiro a servidores públicos federais dos quadros da FUNAI”. Os crimes prescreveram sem condenações.

Fonte: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF.