Exposição na Embaixada de Portugal aborda a relação entre humano, cidade e natureza

Fotos: Jean Peixoto.

A Galeria Camões recebe a exposição “Oréades”, de Gabriela Albergaria e Marcelo Moscheta. A ideia é refletir sobre a relação entre humano, cidade e natureza. Estaremos conscientes que a matéria do mundo não é passiva e obediente aos nossos desígnios e comandos? Qual a origem da destruição que provocamos?

Habituados a subjetificar natureza e paisagem e tê-las como objeto principal de estudo em suas obras, a artista visual portuguesa Gabriela Albergaria e o brasileiro Marcelo Moscheta tiveram Brasília como tema para os trabalhos patentes em “Oréades”. Foi a partir da paisagem característica do Cerrado, em contraposição com o ideal moderno e utópico da arquitetura da capital brasileira, que ambos, nas palavras de João Fernandes, “constroem nesta exposição ‘conversas’ entre as suas peças, que se revelam como outros tantos diálogos fascinantes e sutis, entre as suas obras e o lugar em que são apresentadas, entre esse lugar (Embaixada de Portugal) e a cidade sui generis que o situa, entre a cidade e o Cerrado, nesse percurso fractal que nos convidam a descobrir”.

Para Gabriela Albergaria, cuja busca como artista é encontrar pontos de comunicação entre Homem/Natureza e Cultura, a impressão mais marcante de Brasília foi o uso da natureza endêmica e a paisagem local que configuram o Jardim Botânico. Ao conhecer o local, contrapôs a naturalidade do Cerrado com o paisagismo de Burle Marx na capital, e percebeu que o artista e paisagista brasileiro “de fato fez uma paisagem política, no sentido em se encontram juntas no mesmo local espécies de todo Brasil”, diz Albergaria. É nessa confluência de Brasis em Brasília que Albergaria centrou sua principal peça em exposição na Galeria Camões, intitulada “1/20 de terra cultivável necessária para preencher o espaço da galeria”, feita com terras provenientes de diferentes regiões do Brasil.

O trabalho de Marcelo Moscheta volta-se para a memória do lugar e questiona, por meio da arte, as fronteiras do território, a geografia e a física. “Minha relação com a paisagem repousa numa tentativa primeira de construir um lugar ideal, uma imitação da natureza como retrato fiel das relações de perfeição e equilíbrio”, esclarece, e, por meio de uma classificação similar à arqueológica e conceitos da antropologia moderna, Moscheta busca abarcar todas as possibilidades de entender um local, não somente pelo desenho e a fotografia, como também por meios racionais, como latitude e longitude, e referências técnico/científicas.

Na instalação “Hiato”, obra de maior dimensão da mostra, Marcelo Moscheta convida o visitante a caminhar entre os galhos, por um corredor criado no interior da peça, e assim sentir a obra na sua relação com a natureza e refletir sobre o hiato dos seus próprios galhos, sobre as fendas e interrupções na presumida linearidade da própria consciência.

Ousar um novo habitar é, como afirma Viriato Soromenho-Marques, o repto lançado por esta exposição. Para tal, “é necessário aprender a subtil e fundamental disciplina da escuta e da observação, nascida do respeito pelo esplendor que nos deu e sustenta a existência. É essa disciplina que Gabriela Albergaria e Marcelo Moscheta nos oferecem, pela sua fina e criativa leitura da paisagem do Bioma Cerrado, que serve de nicho ecológico à capital federal brasileira.”

A mostra “Oréades” integra a Programação Cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia e é uma realização da Embaixada de Portugal e do Camões – Centro Cultural Português em Brasília. A exibição vai até 19 de agosto de 2021. A exposição está aberta ao público exclusivamente mediante inscrição prévia nos dias e horários disponíveis. Cada visita terá até 10 visitantes. Link para formulário de inscrição.