Mostra coletiva promove o diálogo entre fotografia, arquiteturas e temporalidades.

Até 28 de maio.

Cleo Alves Pinto. Divulgação.

A mostra fotográfica Sobre linhas, membranas e fronteiras apresenta obras de Cléo Alves Pinto, José Roberto Bassul e Michelle Bastos, com curadoria de Renata Azambuja, na Galeria Térreo do Museu Nacional da República, até 28 de maio.

Por meio da fotografia, os artistas visuais apresentam seus trabalhos e provocam um diálogo estético com arquiteturas e temporalidades. A mostra é uma realização do Foto Capital, evento dedicado à fotografia, realizado em setembro de 2016, que reuniu em Brasília alguns dos mais importantes fotógrafos, curadores, produtores culturais e críticos brasileiros para uma jornada dedicada à fotografia como linguagem, poética e arte. Os três fotógrafos que participam da mostra foram selecionados nas leituras de portfólio realizadas por Carlos Carvalho, Diógenes Moura, Eugênio Sávio, Iatã Cannabrava, Kazuo Okubo, Milton Guran, Nair Benedicto, Renata Azambuja, Rosely Nakagawa e Tiago Santana. Como prêmio, ganharam a participação na exposição, a impressão das imagens e a mediação e curadoria de Renata Azambuja.

As obras dos portfolios que estarão expostas acabaram por adquirir uma potência por terem encontrado, em seu conjunto, pontos de convergência temáticos em que estão presentes espaço, arquitetura, cartografias, etnografia. “O olhar do fotógrafo, informado por suas questões pessoais, aponta para uma versão da verdade, mesmo quando dirige-se para um objeto real”, afirma Renata Azambuja. “A partir disso, os fotógrafos revelam várias facetas do real, e daí emergem catalogações etnográficas e imaginárias, um interesse pela semiologia que introduz narrativas, e olhares antropológicos sobre as imagens, marcando a presença e a interferência do ser humano na paisagem”, ressalta a curadora.

José Roberto Bassul.

Cléo Alves Pinto fotografou 509 fachadas de casas do Setor de Habitação Geminada Sul (SHIGS), mais conhecidas como as casas das 700 Sul de Brasília. Ao projeto, deu o nome de “Membranas”. Biologicamente, membranas são estruturas que separam dois ambientes, controlando a passagem de substâncias entre eles. A capacidade da membrana de ser ou não atravessada por determinadas substâncias corresponde à sua permeabilidade. Fachadas são como membranas, explica. “Eu fotografo o que me deixam ver”. Cada imagem recebeu um código único e foi classificada de acordo com um método desenvolvido pela autora em uma das dez categorias de membranas, que vão de impermeável até permeável.”

Cléo Alves Pinto nasceu em Curitiba, passou grande parte da vida em Minas Gerais e há oito anos mora em Brasília. É arquiteta e urbanista, e também formada em Pedagogia. A fotografia autoral é seu interesse mais recente, por meio do qual tem investigado assuntos como modos de morar, relações entre espaços públicos e privados, memória e (im)permanência.

José Roberto Bassul percorreu canteiros de obras onde para fotografar tapumes e o que há por trás destes. As cidades expressam uma ambiguidade tensa entre a idealização de uma vida gratificante e as impossibilidades trazidas pela realidade. A série “Fronteiras” aborda essa ambiguidade ao estabelecer relações imagéticas que interpelam o sentido da existência. Linhas opacas, criadas por tapumes em canteiros de obras, separam mundos aparentemente distantes. Desejos intangíveis, caminhos que levam a lugar nenhum, a percepção da finitude, a diluição das identidades ou um sentido destroçado de nação impõem os limites da condição humana. “Bassul constrói associações entre signos para compor uma única imagem, mas sempre preocupado em manter o fluxo da série”, afirma Renata Azambuja.

Arquiteto e fotógrafo, José Roberto Bassul nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília. Fotografou intensamente na juventude, mas na década de 1980 abandonou a fotografia para dedica-se à arquitetura. Trinta anos depois, retoma a atividade fotográfica, quando passa a desenvolver um trabalho autoral voltado para a arquitetura, a paisagem urbana e para os aspectos humanos da vida contemporânea.

Michelle Bastos percorreu a pé sete municípios fronteiriços entre os Estados do Maranhão e do Piauí para realizar uma pesquisa sobre a relação entre a identidade do morador e as paredes de suas casas. Naquele recorte geográfico é comum as paredes das casas serem pintadas pelos próprios moradores. Na série “Sobre linhas, divisões e acréscimos”, Michelle Bastos apresenta uma relação direta entre a identidade e a busca da beleza. A paleta de cores foi dividida entre os moradores eufóricos (tons vibrantes) e melancólicos (tons pasteis) e relacionados com um questionário informal sobre a caracterização do humor de cada um. As paredes capturadas em close possuem detalhes como cores, manchas e pequenos improvisos que guardam uma relação direta com quem a pintou, como que se essas telas fossem uma representação da pele do morador, exibindo suas histórias, memórias, personalidade e relação com o espaço. São, em última instância, retratos, closes de pele de cada um ali representado.

Michelle Bastos é Bacharel em Artes e Ciência Política, com especialização em Retrato e Identidade Visual pelo Spéos Paris Photographic Institute e mestrado em Fotografia Fine Art pelo Instituto Europeu de Design. Foi finalista do Prêmio Helie Memorial em 2015 e realizou exposições coletivas em Madri, Granada, Alicante e Brasília. É autora do livro Dulcina de Moraes – Memórias de um Teatro Brasileiro, uma coletânea de fotografias de arquivo e pesquisa histórica do teatro brasileiro do Séc. XX, publicado pela LGE Editora.

Michelle Bastos.

Serviço: Sobre linhas, membranas e fronteiras – Mostra fotográfica de portfólios selecionados pelo Foto Capital
Visitação: Até 28 de maio, de terça a domingo, das 9:00 às 18:30
Local: Galeria Térreo do Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios)
Informações: (61) 3878-9100.